Acréscimo no limite de cargas dos caminhões vai acelerar deterioração de estradas, diz sindicato

Acréscimo no limite de cargas dos caminhões vai acelerar deterioração de estradas, diz sindicato

DNIT desconsiderou critérios e parecer técnicos de engenheiros para aumentar peso em até 30%

Correio do Povo

Entidade classificou medida como "irresponsável"

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Desconsiderando qualquer critério e parecer de engenheiros e citando “estudos” sem a devida origem e comprovação, o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) emitiu resolução que permite, na prática, acréscimo de 20% de limite de peso de carga em caminhões de eixo simples de rodado duplo, aumento de 30% de limite de peso de carga para caminhões de eixo duplo e elevação de 12% no limite de peso para eixo triplo. Em geral, a resolução, em vigor desde o início de janeiro, estabelece maiores limites de pesos e dimensões dos veículos de cargas indivisíveis no uso de rodovias.

Segundo o Sindicato dos Engenheiros (SENGE-RS), se forem consideradas as atuais condições de precariedade das estradas em geral, principalmente das rodovias estaduais, e o sucateamento de boa parte das estruturas de fiscalização e das balanças, a conclusão é que a medida atende apenas interesses políticos e que o DNIT deixou de ser uma instância puramente técnica. A entidade acredita que a medida tem como objetivo “acalmar” caminhoneiros em suas reivindicações contra multas por excesso de carga e contra o aumento dos combustíveis.

“É mais um exemplo do “vamos passar a boiada”. A resolução poderia ter como base técnica estudos realizados no próprio DNIT, por engenheiros, através do Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), ligado ao Departamento. Mas tudo leva a crer que os técnicos do Instituto não foram ouvidos, porque se fossem, seriam citados”, destaca o engenheiro Mogli Veiga, especialista no setor rodoviário e membro do Conselho Técnico Consultivo do SENGE-RS.

O limite de cargas no Brasil já é alto e será bem maior que o dos EUA e demais países desenvolvidos. “Aí talvez esteja o motivo pelo qual nossas estradas durem tão pouco”, salienta o engenheiro.

Ao tomar como exemplo, entre tantas composições de carga, o exemplo do eixo simples com rodado duplo, nos EUA, o limite de peso para essa situação equivale em libras a 9,1 toneladas, enquanto no Brasil passou a ser, a partir da nova resolução do DNIT, de 12 toneladas.

De acordo com o SENGE-RS, o desgaste e deterioração da pavimentação das estradas já são acentuados e, com maior carga por eixo, a falência do pavimento irá ocorrer de maneira ainda mais rápida. Se os atuais recursos para a recuperação das rodovias já são escassos, mais grave ficará a situação se os estragos e desintegrações forem acelerados, exigindo maiores investimentos.

A entidade aponta que é evidente que as más condições de pista afetam todos os veículos, inclusive os próprios caminhões. Também fica comprometida a segurança nas estradas, especialmente as estruturas das pontes, o que jogará no colo de todos os contribuintes o ônus dos custos de restauração. Haverá, da mesma forma, reflexos nos custos operacionais das concessionárias de rodovias e consequente pressão nos preços dos pedágios.

“Não é o automóvel nem a caminhoneta que causam danos às rodovias. O rompimento é acelerado pelo excessivo e demasiado carregamento dos caminhões pesados. Liberar cargas excessivas é um ato consciente e extremamente danoso”, conclui o engenheiro Mogli Veiga.


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