Após defender existência de partido nazista, Monark é desligado do podcast Flow

Após defender existência de partido nazista, Monark é desligado do podcast Flow

Fala do apresentador foi repudiada por seguidores, autoridades e associações; ele se desculpou nesta terça-feira

R7

O podcaster Bruno Aiub, conhecido como Monark

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Depois de defender a existência de um partido nazista no Brasil, o apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, publicou na tarde desta terça-feira um vídeo em que se desculpa pela fala no podcast Flow.

"Eu errei, a verdade é essa. Eu estava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares do mundo — nos Estados Unidos, por exemplo — mas eu fui defender essa ideia de um jeito muito burro, eu estava bêbado, eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Peço perdão pela minha insensibilidade", afirmou. "Fui insensível sim, errei na forma com que eu me expressei, dá a entender que estou defendendo coisas abomináveis."

Veja o vídeo em que o apresentador se desculpa:

Às 16h30min, os Estúdios Flow divulgaram uma nota em que anunciam o desligamento de Monark, apesar de ele ser um dos sócios da empresa. Questionada pelo R7 sobre como fica a participação societária de Bruno Aiub na empresa, a Flow ainda não respondeu.

O comentário foi feito nessa segunda-feira, durante uma entrevista com os deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB). No estúdio, o apresentador disse que a legislação deveria reconhecer a existência de um partido nazista no Brasil. "A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião [...] Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei", disse.

Ao ouvir a fala, Tabata Amaral retrucou dizendo que o nazismo é um risco especialmente à comunidade judaica. "Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco coloca a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco", afirmou a parlamentar.

Crime no Brasil e na Alemanha

No Brasil, assim como na Alemanha, é considerado crime fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação do nazismo. Aqui, a regra consta no artigo 1º da Lei 7.716/1989. A pena para quem pratica o crime pode variar de um a três anos de prisão, mais multa.

O cientista político e advogado especialista em Direito Público Nauê de Azevêdo considera as falas de Monark "repudiáveis", mas destacou que ele provavelmente não chegou a praticar crime com o discurso. "Inicialmente, não vi ali uma apologia direta ao nazismo. Isso seria um crime, mas ele requer esse dolo específico de você promover a ideia. O que ele fez ali foi, de uma forma extremamente irresponsável, de uma forma extremamente torpe, defender que nós deveríamos tolerar a existência de um partido nazista. Então, ele estava ali numa forma de debate. Então, na esfera penal, eu não vejo muitos elementos para responsabilizá-lo", afirmou.

O jurista, entretanto, disse que Monark pode ser responsabilizado civilmente. "A forma como ele se posiciona sobre esse tema e tantos outros, considerando o alcance que ele tem — que é um alcance muito grande —, essa sim pode, de alguma forma, render em espécies de responsabilização civil. Porque, querendo ou não, ele incide sobre a sociedade. Ele ajuda, de uma forma ou outra, a legitimar determinados discursos que são nocivos para a sociedade."

Críticas nas redes sociais

No Twitter, o assunto ficou várias horas como o mais comentado entre os usuários. O nome “Monark” aparecia no topo da lista das palavras mais publicadas na rede pelo menos até às 17h02 desta terça-feira.

A usuária do Twitter Ive Brussel criticou o apresentador e lembrou que estar bêbado não exclui a eventual prática de crime.

Ricardo Tavares, que se identifica como judeu, diz não aceitar as desculpas do podcaster.

O usuário Matheus Valadão lembrou que o “Flow” está perdendo patrocínios e prejudicando os demais apresentadores do estúdio, além da equipe que trabalha por trás das câmeras. O “Flow”, criado por Monark e por Igor Coelho (Igor 3K), tem 3,6 milhões de inscritos só no YouTube. O podcast já perdeu patrocinadores quando, em 2021, Monark foi criticado após ter questionado no Twitter se "ter opinião racista é crime".

Reprovação de autoridades e associações

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes repudiou as declarações de Monark. Veja o tweet:

Entidades como a Conib (Confederação Israelita no Brasil) também manifestaram repúdio à fala. “A CONIB (Confederação Israelita do Brasil) condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o 'direito de ser antijudeu', feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera 'inferiores'. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”, disse a entidade, em nota.

A Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) também publicou nota nas redes sociais sobre o ocorrido. Leia a íntegra:

"Na noite dessa segunda-feira (7), o host do 'Flow Podcast', Bruno Aiub, o Monark, manifestou-se de modo absolutamente inaceitável enquanto entrevistava os deputados federais Kim Kataguiri e Tabata Amaral. Aiub defendeu, de forma expressa, o direito de alguém querer ser antijudeu, bem como o direito à existência de um partido nazista no Brasil.

Mesmo contestado pela deputada Tabata Amaral, Monark insistiu que suas falas estariam escudadas no princípio da liberdade de expressão, demonstrando, a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu, e a natureza de um princípio constitucional essencial, muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minorias.

Nós, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, repudiamos de forma veemente esse discurso e reiteramos nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos."


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