Após tragédia, Rolante adota prevenção a desastres naturais

Após tragédia, Rolante adota prevenção a desastres naturais

Entre as medidas está a instalação de duas estações para controle hidrometeorológico

Mauren Xavier

Alguns pontos e a rede pluvial, por exemplo, ainda estão comprometidos com lama e entulhos carregados entre os dias da tragédia

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Na próxima segunda-feira terá início a instalação de duas estações de monitoramento hidrometeorológico no município de Rolante. Em funcionamento, vão auxiliar na medição dos volumes de chuvas e dos níveis dos rios, podendo amenizar os impactos de possíveis novas enxurradas na localidade, como ocorreu no início de janeiro deste ano, explica o coordenador da Defesa Civil, Leandro Gottschalk, que também responde pelo Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade. Coube aos bombeiros realizar o alerta e o atendimento inicial às famílias atingidas pela enxurrada.

As unidades serão instaladas pela Secretaria Estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema). Uma ficará na região Alto Rolante, no cruzamento dos rios Mascarada e Riozinho. A outra na Areia, na união entre os rios Boa Esperança e Ilha Nova. Cada uma tem investimento de R$ 60 mil. Além disso, a prefeitura já conta com uma unidade e pretende ter outra própria até junho. “Temos chuva de ciclo alto. São 12 horas entre o rio subir e baixar. Isso é normal. Mas tem aquele que é baixo, que dura uma semana para cada uma dessas etapas”, explica.



Com essa instabilidade climática, o monitoramento é essencial para alertar a população, sobretudo os que moram nas áreas mais próximas de rios, que já é feito pelas redes sociais. O coordenador da Defesa Civil do município, Leandro Gottschalk, recorda que se trata do fenômeno natural mais forte da história da cidade. Ele lembra que em alguns pontos o rio desapareceu e que o período crítico foi entre as 19h do dia 5 até as 9h do dia 6 de janeiro.

Tudo muito rápido


Era final de tarde, e o casal Luiza e Delmar Arnhold, 71 e 70 anos, descansava no sofá da varanda de casa, na região de Mascarada, interior de Rolante, acompanhando a chuva fraca. Porém o momento de lazer foi interrompido pela imagem da água do rio subindo a poucos metros, trazendo consigo uma mistura de lama e vegetação. O tempo foi pouco para correr para dentro de casa e fechar a garagem, o que não adiantou muito para conter a mistura que invadia com rapidez os cômodos, consumindo todos os móveis e itens da família.

Para se proteger, ela subiu em cima de um forno de barro no fundo do terreno com pouco mais de um metro de altura. Mas também não foi suficiente. A decisão foi subir a encosta do morro passando por cercas de arame farpado para buscar ajuda. “Foi tudo muito rápido. Não conseguimos salvar nada”, conta Luiza.

Pouco mais de um mês da tragédia, as marcas ainda estão nas paredes da casa, que atingiram mais de 1,80 metro, aponta Delmar. Gradativamente, com ajuda de parentes e amigos, a casa foi sendo mobiliada novamente. “O importante é que a vida segue”, diz Luiza.

Estruturas se erguem, mas ainda há desafios

Quem chega ao município de Rolante, no Vale do Paranhana, pode não notar que há pouco mais de um mês uma enxurrada devastou parte da cidade, assim como a vizinha Riozinho. Na área central, a recuperação foi mais visível. Apesar disso, a rede pluvial ainda está comprometida com entulhos carregados entre os dias 5 e 6 de janeiro deste ano.

Além do impacto ambiental, com 350 deslizamentos e 270 hectares de terra arrastados, a enxurrada levou parte da vida de cerca de 2,4 mil famílias que foram atingidas, em prejuízos totais no município que somam R$ 78,6 milhões. Mesmo com isso, parte da cidade já se recuperou, enquanto que outra ainda enfrenta os transtornos, como é o caso dos bairros Mascarada e Alto Rolante.

Segundo o prefeito em exercício de Rolante, Régis Zimmer, esse é o maior desafio. “A primeira prioridade foi atender às principais necessidades, como alimentação e saúde, depois, ajudar as famílias a recuperarem suas casas. Estamos nas estradas e, depois, o foco será no Interior, no recolhimento de entulhos”, disse.

Dona de um armazém junto à barragem na região Mascarada, Celoni Valandro aguarda com expectativa o serviço. Celoni e o marido Juarez tinham um camping, em que recebiam visitantes e completava a renda da família, e que foi totalmente devastado. “Antes, eu olhava e via o paraíso. Hoje é isso, destruição”, desabafa, ao ver que o antigo gramado verde se tornou numa montanha de lixo.

A retomada da normalidade está presente em outras propriedades atingidas, especialmente as de agricultura.

Prejuízos são contabilizados

Os prejuízos no município de Riozinho, que tem limites com Rolante e que também foi afetado pela enxurrada em janeiro, superaram os R$ 10,3 milhões, segundo a prefeitura. Muitos danos já foram solucionados, porém, ainda há problemas. Segundo o prefeito Valério Esquinatti, há o aguardo de recursos por parte do governo federal, pelo Ministério da Integração. Inclusive, ele antecipou que irá a Brasília, dia 14 de fevereiro, para reunir-se com representantes do ministério. “A situação é de dificuldade financeira, uma vez que o trabalho não terminou”, disse.

Valério comentou que o foco da atuação tem sido os bairros da área rural que foram prejudicados. Uma das dificuldades é a reconstrução de estradas e de pontes. Segundo o prefeito, cinco pontes de madeira foram totalmente destruídas, além de outras 14 afetadas parcialmente.

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