Após uma década, Fepam autorizará extração de areia do Guaíba

Após uma década, Fepam autorizará extração de areia do Guaíba

Operação deve ter início no segundo semestre do ano

Mauren Xavier

Medida só foi viável diante de vários estudos que indicavam a possibilidade da extração do minério sem dano ambiental

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Após mais de uma década de impedimento, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) emitirá ainda neste mês a autorização para extração de areia em alguns pontos do Guaíba, em Porto Alegre. A medida foi anunciada nesta terça-feira pela secretária Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e presidente da fundação, Ana Pellini.

A autorização está em fase final, já que o último documento foi recebido há poucos dias. A liberação é válida para uma empresa, que não teve o nome revelado. Segundo a secretária, a medida só foi viável diante de vários estudos que indicavam a possibilidade da extração do minério sem dano ambiental. Além disso, não será toda a área do Guaíba em que poderá ser retirada areia, apenas em alguns pontos já identificados pela Fepam e pelos respectivos estudos. A expectativa é de que a operação comece no segundo semestre deste ano.

Ela recordou que havia uma desconfiança de que de haveria metais pesados depositados no Guaíba e, que no momento da dragagem, acabariam misturados à água e haveria uma contaminação geral. “Estudos descartaram essa situação, como as análises do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs, do Dmae e da Corsan. Assim, será licenciada a extração naqueles pontos em que há segurança de que não haverá nenhuma contaminação ou dano ambiental”, assegurou Ana.

Ana Pellini considera ainda que a extração será positiva, já que permitirá o desassoreamento do Guaíba, além da questão econômica, com as restrições no rio Jacuí e a necessidade do minério para a construção civil. A decisão deverá abrir precedentes para que outras empresas que tenham interesse na extração também busquem a autorização. A secretária reconheceu que há outros pedidos para uma possível operação no Guaíba. A medida também visa amenizar a pressão sobre as extrações de areia no Jacuí. “A região foi muito danificada. Acreditamos que apenas depois de uns três anos o Jacuí iria se recuperar. Por isso, mantemos o controle sobre as empresas que já atuam no local”, explicou a secretária.

O vice-diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs, Carlos André Bulhões, avalia que a areia é importante, em especial para a construção civil, porém, alertou para cuidados neste processo de extração. Isso porque a retirada do minério pode provocar impactos na composição do Guaíba, como as correntezas e suas direções.

Integrante da Organização Nãp-Governamental (ONG) Mar de Dentro Ambiente e Educação, Paulo Renato Moller Paradeda, recebeu com desconfiança a informação. A ONG ingressou na Justiça com uma ação, em 2011, para suspender a extração no Guaíba. “Vamos acompanhar o processo”, disse.

Histórico

Em junho de 2013, o então chefe da Casa Civil do Estado, Carlos Pestana, anunciou novas medidas do licenciamento ambiental para extração de areia no Rio Grande do Sul. Ficou estabelecido que a extração só seria permitida a uma distância de 50 metros das margens.

A assinatura do documento ocorreu depois que, em 24 de maio de 2013, a extração de areia no Rio Jacuí foi suspensa pela Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de Porto Alegre. Conforme a petição, estaria ocorrendo uma devastação ambiental, com a irreversível descaracterização do Rio Jacuí, resultando em graves prejuízos à fauna, à flora e à vida humana. A proibição levou as empresas que extraem a areia a recorrerem da decisão, pedindo a suspensão da medida.

Em 2010, por conta do ritmo acelerado do crescimento da construção civil - em decorrência das obras que integram o PAC e a Copa do Mundo de 2014 – a possibilidade da falta de areia causou preocupação para o então presidente da Sociedade dos Mineradores de Areia do Rio Jacuí (Smarja), Sandro de Almeida. Segundo ele, a solução era liberar a extração do minério, com rigor ambiental, no Guaíba.

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