Atleta de muay thai, morador de Torres relata desgaste físico e emocional por Covid-19

Atleta de muay thai, morador de Torres relata desgaste físico e emocional por Covid-19

Diretor da secretaria de Trabalho, Indústria e Comércio de Torres conta experiência com a doença

Gabriel Guedes

Alvo de falatórios e até certo preconceito, Rafa Silveira decidiu combater isso abrindo o jogo

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A chegada da Covis-19 ao município de Torres, no Litoral Norte, foi tumultuada. Um jovem que chegou da Irlanda em 11 de março já com os sintomas provocados pela doença, recebeu a orientação de se isolar em casa para evitar espalhar a contaminação pela cidade. Mas o rapaz, testado como positivo para infecção pelo novo coronavírus no dia 18 daquele mês, não atendeu às recomendações e foi a uma festa, partida de futebol e até mesmo a um salão de beleza.

Em meio a esta confusão toda, o diretor da secretaria de Trabalho, Indústria e Comércio da cidade, Rafa Silveira, começou a desconfiar que pudesse estar com o coronavírus. Foi o caso número 7 da cidade. “Junto com o meu resultado, naquele dia 24 (de março), mais três foram confirmados”, conta. Alvo de falatórios e até um certo preconceito, ele decidiu combater isso abrindo o jogo.

“Quando saiu confirmado, os nomes já estavam correndo nos grupos. Liguei para o prefeito e perguntei o que faço: se vou a público e tento falar para outras pessoas sobre isso ou minto e não falo nada. Aqui as pessoas estão com medo de serem expostas. Às vezes as pessoas tem medo de procurar a rede pública de saúde. Então eu acho que poderia auxiliar algumas outras pessoas”, conta.

Jornada mais dura do que o esperado

Por ser atleta de muay thai, atuar como DJ e estar fora do grupo de risco – tem 36 anos –, ele não esperava uma jornada tão desgastante como a que teve. “Só gravar um áudio no WhatsApp já estava me cansando”, lembra. Os sintomas começaram em 15 de março, quando passou a sentir dor de cabeça intensa e dor de garganta, mas sem febre. No dia 18, entrou em contato com a Secretaria de Saúde, que recomendou o isolamento para ele e a família. “Fiquei em casa, fazendo uso de medicamentos para dor de cabeça”, resume.

Além disso, Silveira relata ter tido pelo menos cinco dias com diarréia muito forte. “Eu me preparava para uma competição no final de abril, e estava numa boa condição. Depende muito de cada indivíduo a reação e para cada um, o tratamento também”, avalia. O isolamento em casa durou mais do que os 14 dias recomendados no protocolo do Ministério da Saúde. Ao todo, foram 17 dias afastado da sociedade, por orientação do médico que acompanhou o tratamento. “Minha casa é de dois pisos. Almoçava dentro do quarto. Minha louça era separada”, destaca. 

Segundo Silveira, o emocional pesa bastante durante o isolamento. “De tudo isso que aconteceu, o que me marcou foram a falta de pequenos gestos e não poder dar na minha filha um abraço, um beijo”, confessa. A recuperação foi concluída há duas semanas.

Superado o pior, o diretor reconhece a dureza com que o vírus toma conta do organismo. Entretanto, em uma cidade de porte médio, como Torres, muita coisa corre de boca em boca e acaba se tornando preconceito, segundo Silveira. “Ainda há um preconceito, por não terem um conhecimento de fato sobre a doença. Cheguei a escrever sobre isso no Facebook. Mas as pessoas têm que pensar na questão de responsabilidades, não só pela tua vida, mas pelas vidas de outras pessoas. Pensar nas outras famílias quando tiverem que se isolar. A vida segue”, aponta.

 

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