Audiência de CPI das Seguradoras mostra evidências de práticas irregulares

Audiência de CPI das Seguradoras mostra evidências de práticas irregulares

Comissão apura denúncias de manipulação de laudos de acidentes, reparos com peças não genuínas e outras irregularidades

Heron Vidal

Comissão apura denúncias de manipulação de laudos de acidentes, reparos com peças não genuínas e outras irregularidades

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Em sua terceira audiência, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Seguradoras Veiculares, instalada em novembro de 2017 na Assembleia Legislativa (AL), trouxe mais dados à investigação sobre suspeita de práticas que podem vincular empresas do setor a acidentes de trânsito e ao comércio ilegal de veículos. Foram ouvidas a Associação Brasileira da Indústria, Comércio e Serviço para Excelência da Reparação Automotiva (Abraesa) e peritos de seguradoras. A conclusão dos trabalhos da CPI é prevista para junho próximo.

"Estamos buscando explicitamente a verdade sobre alguns fatos como: porque há acontecimentos em prejuízo aos consumidores, porque as oficinas credenciadas das seguradoras representam 2% do mercado enquanto 98% delas ficam fora, e porque se insiste em consertar veículos sinistrados com peças usadas e de segunda linha para que as seguradas lucrem mais ou gastem menos, sem falar no perigo e risco aos consumidores", observou o presidente da CPI, deputado Enio Bacci (PDT).

As suspeitas da Comissão tem quatro eixos. Um deles é a manipulação dos laudos de sinistros pelas seguradoras. Prejuízos de grande monta (perda total) seriam registrados como média monta. Ao diminuir o tamanho para média monta, a seguradora mantém o documento legal do veículo, o que é um crime - num acidente de grande monta o veículo não pode mais circular. A CPI suspeita que quadrilhas possam estar comprando sucata de veículos acidentados das seguradoras para usarem o documento e esquentarem outros veículos roubados da mesma marca, modelo, ano e cor dos sinistrados. Nesse caso, há falha do agente de trânsito que deveria fazer 100% dos registros de acidentes, como determina resolução 544 do Contran.

O segundo pilar da CPI é a suspeita de imposição, pelas seguradoras, à rede credenciada de oficinas da colocação de peças não genuínas nos veículos acidentados. Isso oferece riscos, se a peça for importante à segurança, como farol, amortecedor, ponta de eixo e outras. A suspeita de formação de cartel é o terceiro pilar: as seguradoras estariam credenciando oficinas escolhidas por elas próprias, elaborando laudos de sinistros, realizando a compra de peças, não genuínas, às oficinas e e até determinando o tempo para o conserto e fixando o valor da remuneração da hora trabalhada. O quarto pilar é o da sonegação fiscal.

Na audiência o vice-presidente da Abraesa, Eduardo Quevedo, reforçou as suspeitas, ao afirmar que "há abuso de poder econômico pelas seguradoras que formaram cartel". O critério do conserto de um veículo acidentado, disse, não é a segurança e sim o menor custo. Peças estruturais, como longarinas e colunas, em vez de serem trocadas são reparadas. "A oficina que discorda é descredenciada, não entra na lista das seguradoras", enfatizou.

Quevedo falou que peritos não são aptos por lei para realizar supostas vistorias e não tem poder de arbitrar orçamento, que é tarefa de engenheiro. "Como se isso não bastasse eles alteram o laudo de monta, que determina a perda do veículo. Numa grande monta a seguradora consegue de 5% a 6% do valor do veículo. Isso é o que alimenta a criminalidade. Um vagabundo vai lá compra o documento, porque o carro não serve para mais nada, o laudo foi alterado. De posse desse documento ele encomenda um carro similar e monta em cima desse, com documento esquentado", concluiu.

Em depoimento, dado sob juramento, o ex-perito Maurício Ricardo Ferreira (SP), confirmou as denúncias. "Eu economizei R$ 326 mil entre janeiro e agosto de 2016 para a seguradora que trabalhava. Era responsável pela vistoria de veículos sinistrados em todo o Brasil, visitava vários estados. Eram colocadas peças usadas, de segunda linha, consertavam-se peças estruturais que deveriam ser trocadas por questões de segurança. A seguradora pressionava a oficina por custos menores. É um mercado sujo, quando me dei conta, me arrependi, sinto vergonha".

Para o relator da CPI, deputado Tiago Simon (PMDB), o papel da Comissão é investigar todas as denúncias com profundidade. "Já temos evidências consistentes de ilícitos que ensejam o advento de criminalidade que lesam o consumidor. Já há consenso até o momento de que há falhas no sistema legal e há necessidade de proposições que preencham essas lacunas. Ainda é muito cedo para apontar resultados, mas certamente eles serão conclusivos", afirmou.

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