Banco de Ossos atende à demanda do Estado e região Sul
Única estrutura do RS, em Passo Fundo, já beneficiou 3,9 mil pessoas
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De acordo com o enfermeiro do banco Anderson Flores, observou-se um aumento “sutil” no número de doações nos últimos anos. Mesmo assim, o volume é insuficiente para a necessidade de transplantes.
A doação de ossos pode ocorrer em vida e após confirmado o óbito. Nesse último caso, nos pacientes com morte cerebral e nos pacientes pós-parada cardíaca. A média de doações no banco do hospital de Passo Fundo é de 28,5 doadores vivos e de oito cadáveres ao ano. Em 2014, foram 55 vivos e 18 cadáveres.
Diagnosticada com artrite reumatoide juvenil, Ilda Perondi, 52 anos, trata há cerca de três décadas de problemas causados pela doença crônica. Passou por várias cirurgias para corrigir falhas nas articulações; primeiro, no quadril. Depois, nos ombros e, mais recentemente, as deformidades atingiram os joelhos. Em quatro ocasiões, a moradora de Porto Alegre beneficiou-se com enxertos ósseos. Na última cirurgia, no ano passado, por causa de uma lesão no fêmur, precisou de um volume maior de tecido para recompor o osso.
Enquanto se recupera do último transplante, Ilda reconhece os benefícios da disponibilidade de tecidos ósseos para casos como o dela. “Se o médico tivesse de tirar fragmentos de ossos de outro lugar do meu corpo para corrigir o ponto que estivesse doente, duas cirurgias seriam necessárias. Dois lugares ficariam fragilizados. Essa solução, eu diria, é mais natural, pois em determinado momento o osso irá se incorporar ao esqueleto.” Ilda diz que gostaria de ser doadora de órgãos e tecidos para contribuir com muitas vidas.
Resistência das famílias é o maior empecilho
No entendimento do médico responsável técnico pelo banco do Hospital São Vicente de Paulo, Francisco Neto, no Rio Grande do Sul, o número de tecidos ósseos doados não é maior porque existe a resistência das famílias em permitir a retirada de órgãos/tecidos de seus familiares. “Hoje, no Brasil, um dos principais empecilhos é a família. Falta conscientização”, diz Francisco Neto.
Ele reforça o pedido para que os futuros doadores manifestem o seu desejo à família. Não é preciso assinar nenhuma declaração em vida para que aconteça a doação. O enfermeiro Anderson Flores explica que o corpo do doador não fica deformado. “No lugar dos tecidos retirados são colocadas próteses.”
Até o término do processo de doação, os familiares são informados sobre todas as etapas do processo por um integrante da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes.
Outro entrave enfrentado para dar conta da demanda é a contraindicação. Se for identificado algum motivo clínico, sorológico, social ou outro na seleção do potencial doador, ele estará impedido de doar. “Os índices de patologia, como hepatite e outras doenças contagiosas, fazem com que o material tenha que ser descartado”, destaca Francisco Neto.
Órgão gerencia lista de espera
Diferentemente de outros órgãos e tecidos, que têm lista de espera regulada pelas Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de cada estado, os Bancos de Tecidos Musculoesqueléticos têm autonomia para gerenciar a lista de espera, com base em critérios e na legislação. No Estado, o enfermeiro Anderson Flores diz que o cirurgião, ao identificar a necessidade de um enxerto ósseo, encaminha ao banco um formulário de solicitação, além dos dados do paciente.
As solicitações são avaliadas pelo diretor técnico do banco e classificadas conforme a gravidade dos casos e em ordem cronológica. Um caso de fratura é considerado urgência, por exemplo. O banco entra em contato com o transplantador para avisar da disponibilidade do tecido solicitado, para agendamento do procedimento. Em caso de indisponibilidade, o paciente entra em lista de espera. O transplantador é o responsável por determinar a prioridade entre seus pacientes em conformidade com o diretor.