BR 448 começa a transformar vidas no Estado

BR 448 começa a transformar vidas no Estado

Para viabilizar projeto, centenas de famílias precisaram ser reassentadas

Mauren Xavier / Correio do Povo

BR 448 começa a transformar vidas no Estado

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Um dos grandes nós para a concretização da Rodovia do Parque envolve a vida de milhares de pessoas. Para viabilizar o trajeto foi necessário remover centenas de famílias, em especial nas regiões do Dique e Mato Grande, no município de Canoas. Para solucionar esse impasse, foi necessário um longo processo de negociação, principalmente com a intermediação da Justiça. Ao todo, foram investidos R$ 50,2 milhões com recursos a fundo perdido. A remoção ocorreu após as indenizações.

Ao todo, serão retiradas 599 famílias. Segundo a secretária municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Joceane Gasparetto, a rodovia possibilitou ao município solucionar um problema de mais de 30 anos, que era retirar as famílias que viviam em situação precária. “Foi possível fazer a inclusão social dessas famílias”, afirma.

A verdade é que a obra transformou milhares de vidas. Há três meses morando num dos loteamentos construído especialmente para receber os moradores removidos da região do Dique, a família de Leila e Paulo Machado comemora a mudança. “É uma vida nova a partir de agora. Lá não tínhamos futuro, e agora os filhos (seis) poderão ter”, revela Leila, ao mesmo tempo em que se recorda das dificuldades enfrentadas na antiga casa. “Cada chuva era um tormento porque alagava tudo e tínhamos medo de que o vento destruísse a casa”, diz. No loteamento, conhecido pela padronização das casas brancas, a família ainda organiza a colocação dos móveis e as primeiras obras, como o cercamento do terreno e a construção da área de serviço.

Na expectativa da remoção, o vendedor Sebastião Francisco da Silva, 52 anos, é um dos últimos moradores da região do Dique que ainda permanece no local. “Parece que até o início do ano vão entregar a minha nova casa, mas ainda tenho dúvidas e medo sobre essas questões jurídicas”, comenta. Os receios de Sebastião se referem ao espaço da nova moradia, já que a família é formada por seis pessoas. “Aqui temos espaço”, afirma.

Do Ceará ao RS para realizar sonho


O apontador de máquinas Paulo Sérgio Rodrigues, 37 anos, jamais pensou que, ao deixar a cidade natal, Tianguá, no Ceará, para vir a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, fosse enfrentar tanto calor. “Cheguei em janeiro deste ano e passei um calorão mesmo”, comenta com bom humor. O cearense é apenas um dos centenas de trabalhadores que vieram de diversas partes do país para atuar na construção da Rodovia do Parque.

No caso dele, o empurrão extra foi o desejo de realizar um sonho: comprar a casa própria. Ele confidencia que no Ceará os salários pagos são baixos, o que vale a distância de 3.120 quilômetros da família. Sem esconder a saudade da mulher Cristina e da filha Bianca, 9 anos, conta que as ligações amenizam a tristeza. “Conversamos sempre, mas falar não é que nem um abraço.”

E a saudade fica mais intensa quando ele se lembra da filha. “Em casa, ensinava Matemática para ela. Depois que vim, ela piorou nos estudos. Daí passei a ensinar por telefone”, comenta Paulo. A expectativa da conclusão da obra é também a de voltar para família. “Será o presente de Natal”, prevê.

Expectativa de alívio para a BR 116

O principal argumento para a construção da Rodovia do Parque é desafogar a BR 116. Hoje, cerca de 130 mil veículos que saem diariamente da região Metropolitana e do Vale do Sinos para chegar a Porto Alegre têm como única opção a BR 116. Com isso, os congestionamentos fazem parte do dia a dia da população. Mas o principal benefício será o logístico. Por sua característica, com poucos acessos, a Rodovia do Parque beneficiará o escoamento da produção gaúcha. Os mais favorecidos serão os produtores das regiões da Serra, Vale do Sinos, Caí e Paranhana. 

A estimativa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes é deslocar 40% do fluxo da BR 116 para a nova rodovia. “É uma vitória da comunidade gaúcha. Vai facilitar o modal rodoviário e a qualidade de vida da população, que enfrenta diariamente congestionamentos enormes”, avalia o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do RS (Setcergs), Sérgio Neto. A estimativa é de que cada caminhão tirado da BR 116 dê espaço para cinco carros.

Segundo ele, mesmo com atraso na conclusão, a rodovia só trará benefícios à economia. “Haverá uma redução no tempo gasto para percorrer esse trajeto. Aguardamos agora a extensão da BR 448 até Portão”, antecipa. A preocupação recai, porém, nas condições da BR 290, da chegada a Porto Alegre até a ponte do Guaíba. Segundo ele, é nesse ponto onde o fluxo de caminhões deverá aumentar consideravelmente. “É preciso olhar com carinho esse trecho porque a cidade passará a receber um volume maior de veículos, que atualmente não existe”, alerta. Está em andamento a obra para a quarta faixa nesse trecho da BR 290.

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