Brasil é 49º colocado em ranking que mede velocidade da vacinação contra a Covid-19

Brasil é 49º colocado em ranking que mede velocidade da vacinação contra a Covid-19

Em média, apenas 0,09% da população recebe doses contra diariamente

R7 e AE

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A velocidade da vacinação contra a Covid-19 no Brasil está bem longe de ser a ideal. Ainda que o governo federal use o número absoluto para dizer que somos os sétimos no mundo em aplicação de doses, com 3.229.019 até sábado, a análise dos gráficos de monitoramento mundial mostra que deixamos a desejar em todos os índices que levam em conta o percentual da população imunizada. Segundo o site Our World in Data, coordenado por pesquisadores da Universidade de Oxford, o Brasil fechou os últimos sete dias imunizando em média 0,09% de sua população contra a Covid-19, percentual que põe o país em 49º na lista que mede a velocidade das aplicações.

O pequeno território europeu de Gibraltar, com pouco mais de 33 mil habitantes, imuniza 2,29% ao dia. Desde o início da campanha nacional, em 17 de janeiro, apenas 1,54% dos brasileiros tomou a primeira dose da vacina, de acordo com o site de monitoramento mundial da Bloomberg, o que coloca o país na 45ª posição entre todos os países. Competição vencida com facilidade por Israel, que já imunizou quase 60% de seus habitantes.

Se for levada em conta somente a aplicação das segundas doses, que na maior parte das marcas é essencial à imunização – é o caso, por exemplos da CoronaVac e da vacina de Oxford, as duas únicas autorizadas para uso no Brasil -, nosso problema se torna ainda maior. Com pouco mais de 20 mil segundas doses aplicadas no país, o Brasil não atingiu ainda 0,01% da população, ficando, portanto, fora do ranking mundial, que já conta com 42 países que ultrapassaram essa marca. Israel novamente lidera a disputa, com 22,2% de seu povo já tendo tomado duas doses. 

Especialistas apontam que a pouca quantidade de doses disponíveis no país explica em parte a lentidão na vacinação. Em declaração recente, o governador de São Paulo, João Doria, responsável por trazer ao país a CoronaVac, afirmou que assim que o Estado tiver mais doses, a velocidade será maior.

Mais de quatro anos para ter toda a sua população imunizada

No ritmo em que a vacinação contra a Covid-19 é conduzida no Brasil, o País levaria mais de quatro anos para ter toda a sua população imunizada. O cálculo é do microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Gustavo de Almeida. Ele lembrou que, durante a campanha de vacinação contra a gripe em março do ano passado, já em plena pandemia do novo coronavírus, os brasileiros vacinavam até um milhão de pessoas por dia. Atualmente, a média de imunizações diárias é de um quinto disso, 200 mil pessoas.

Para fazer os cálculos, Almeida baseou-se no número total de brasileiros a serem vacinados (160 milhões, segundo o IBGE, já que os menores de 18 anos não serão imunizados agora). Para cobrir esse público-alvo no atual ritmo, seriam necessários de quatro anos e meio a cinco anos, considerando que os imunizantes usados no Brasil devem ser aplicados em duas doses.

"Este ritmo é lamentável", afirmou o especialista. "Já em plena pandemia de covid, conseguimos vacinar 54 milhões de pessoas contra a gripe em cem dias, sem grandes esforços. No caso da Covid, deveríamos conseguir no mínimo o mesmo número; idealmente mais, se abríssemos postos de vacinação em estádios e escolas."

A escassez de vacinas é apontada por especialistas como a maior causa da lentidão do processo, que já começou depois de cerca de 50 outros países. Por causa do número muito reduzido de doses, foi preciso estabelecer prioridades. Foi limitada a quantidade de pessoas que poderiam ser vacinadas por dia. Além disso, na ausência de uma coordenação nacional por parte do governo federal, cada Estado definiu estratégias e cronogramas diferentes. Em Manaus, por exemplo, a vacinação teve de ser interrompida após denúncias de fraudes no acesso à fila.

"Um dos grandes gargalos é a questão das prioridades", explicou o epidemiologista Fernando Barros, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). "Se tivesse vacina para todo mundo, era muito mais simples vacinar um milhão por dia. Se tivesse muita vacina, ninguém ia furar a fila, como aconteceu em Manaus. Outra coisa, cada um estabeleceu seus critérios; no Rio, por exemplo, teve um dia inteiro para quem tem mais de 99 anos, isso não existe. O que eles querem? Entrar para o livro dos recordes?"

O Brasil já contabiliza mais de 9,3 milhões de casos de covid-19 e quase 230 mil mortes desde o início da epidemia, segundo o consórcio dos veículos de imprensa. Nos últimos sete dias, a média móvel de mortes foi de 1.051. Já são 15 dias com essa média acima da marca de mil. Nesta quinta-feira, 4, o total de vacinados ultrapassou 3 milhões.

"Se não houver um clamor popular, uma grande pressão para a compra de vacinas, vão continuar morrendo mais de mil pessoas por dia", afirmou Barros. "Com a questão das variantes do vírus, a situação pode se agravar e será ainda mais difícil abafar a infecção. Estou vendo muito pouco movimento para a gravidade da situação. O único jeito de sairmos dessa situação dramática é comprar mais vacina. Precisamos de uma quantidade suficiente para deslanchar o programa de imunização."

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, é possível até mesmo que a campanha brasileira tenha de ser interrompida em breve. "Na situação em que estamos, provavelmente vamos ficar um tempo sem vacinar ninguém, uns vinte dias, se não recebermos outras vacinas, até a Fiocruz e o Butantan começarem a produzir em larga escala", afirmou.

Nesta semana, o Instituto Butantan recebeu outra remessa de insumos da Coronavac e prevê entregar novas doses prontas até a última semana de fevereiro. Já a Fiocruz prevê a entrega no sábado, 5, do primeiro lote de matéria-prima do imunizante Oxford/AstraZeneca, que será fabricado no Brasil pela fundação. A previsão para repassar as doses prontas para o Ministério da Saúde, entretanto, é somente em março. O Ministério da Saúde tem sido pressionado a ampliar a oferta de doses e articula a compra da Sputinik V, vacina russa cujos dados de eficácia, superiores a 90%, foram publicados nesta semana.

"Outra questão é a capacitação de pessoal", afirmou Cunha. "No caso da vacinação contra a covid, diferentemente do que ocorre na gripe, é preciso fazer um registro completo de todo mundo para alimentar a farmacovigilância. Isso vai provocar um ritmo mais lento."

 

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