Brasil concentra metade das mortes de ecologistas, afirma ONG
País é o mais perigoso do mundo para ativistas, com 448 óbitos de 2002 a 2013
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As disputas por terra aumentaram e por consequência a violência. No total, 908 pessoas morreram entre 2002 e 2013 em 35 países, segundo o documento da Global Witness, publicado poucos meses depois do 25º aniversário do assassinato do ativista Chico Mendes. O ano com mais mortes no período foi 2012, com 147. Em apenas 1% dos crimes, os responsáveis foram detidos, julgados e condenados.
O Brasil é o país mais perigoso do mundo para os ativistas, com 448 mortes. Em seguida aparecem Honduras, com 109, e Filipinas, com 67. "Isto mostra que nunca foi tão importante proteger o meio ambiente como agora, e que nunca havia sido tão letal", disse Oliver Courtney, da Global Witness, que se define como uma organização que deseja "mudar o sistema expondo os interesses econômicos que se escondem por trás dos conflitos, da corrupção e da destruição do meio ambiente".
"Não há sintomas mais evidentes da crise no meio ambiente no mundo que o aumento de assassinatos de pessoas comuns, que defendem o direito a suas terras. No entanto, o problema, que cresce rapidamente, passa em grande parte despercebido e os criminosos quase sempre saem impunes", disse Courtney.
Brasil
O documento tem um capítulo dedicado a Brasil. O elevado número de mortes é atribuído em parte ao "modelo de propriedade da terra, que está entre os mais concentrados e desiguais do mundo".
"Apesar do forte crescimento econômico parcialmente sustentado pelas exportações agroindustriais, a maioria da população do Brasil continua sendo pobre e a maior parte de sua comida é produzida em propriedades pequenas ou média", afirma o documento. "Isto leva os agricultores de subsistência e os grupos indígenas a entrar em conflito com proprietários poderosos e bem conectados pelos direitos legais sobre florestas e terras", completa o relatório.
A luta pela Amazônia, por sua terra e por sua madeira, é responsável pela maioria das mortes de ativistas. "Primeiro chegam os trabalhadores ilegais e levam a madeira. A segunda indústria é a do gado, depois a a soja. Este é o ciclo natural da fronteira amazônica", afirma no documento Natalia Viana, da ONG brasileira Pública.
A Global Witness afirma que o número de mortes pode ser maior, mas que mesmo assim o relatório apresenta uma ideia aproximada do grau de violência sofrido pelos ativistas. Segundo o documento começa com intimidações e até mesmo acusações, como as sofridas pelos grupos indígenas quando são recriminados por prejudicar o desenvolvimento de uma região na defesa de suas terras.
A ONG, fundada em Londres em 1993, exige medidas. "Começando por uma resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU especificamente dirigida à crescente ameaça que sofrem os defensores da terra e do meio ambiente".