Cariocas se mobilizam em defesa de sírio vítima de xenofobia no Rio
Refugiado foi agredido verbalmente e ameaçado com um pedaço de pau na última semana
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Num ato de solidariedade e apoio a Mohamed, várias pessoas se reuniram para comprar os produtos vendidos por ele. Logo uma imensa fila se fez em frente da barraca de Mohamed, que teve que contar com a ajuda de quatro compatriotas, para poder atender a tanta gente. Durante a tarde, uma fila para comprar esfirras e quibes era formada por um número de 20 a 30 pessoas na rua Santa Clara, o que fez com que o vendedor ficasse o tempo todo ocupado, ora atendendo os pedidos, ora no caixa. Ele só parava por poucos segundos para atender a pedidos de fotos dos clientes.
Mohamed sequer conseguiu tempo para conversar com a Agência Brasil. Disse apenas que estava feliz com todas aquelas pessoas. “Veja quanta gente”, disse, enquanto já se preparava para atender outro cliente. Um destes era o policial militar Roberto de Souza, que saiu de sua casa em Bangu, na zona oeste da cidade, até Copacabana, só para prestigiar o imigrante sírio. “Eu assisti o vídeo com a situação constrangedora que o Mohamed passou e vim prestar meu apoio”, disse o policial, que voltou para casa com uma bolsa abarrotada de esfirras e quibes.
Guilherme Benedictis, um dos idealizadores da mobilização em defesa de Mohamed, promove feiras de comida de rua, os chamados “food trucks”. “Eu conheci Mohamed há uma semana, depois que vi o vídeo. Me apaixonei por ele e sua família. São pessoas ótimas. Tivemos a ideia de fazer esse 'esfirraço' e eu fiquei sabendo que o sonho dele era ter um food truck”, comentou. Segundo Benedictis, já foi iniciada uma campanha de arrecadação de fundos para que Mohamed tenha seu próprio food truck e possa participar dos eventos promovidos por ele. “A meta é chegar a R$ 20 mil e já conseguimos 20% disso, desde o dia 9. Acho que em menos de um mês, conseguiremos juntar todo o dinheiro”, ressaltou.
Guilherme Curi, pesquisador em imigração sírio-libanesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que parte da população brasileira é descendente de sírios e libaneses, mas desde o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, os árabes têm sido vistos como “terroristas”. “Os árabes sempre conseguiram se socializar e pertencer à sociedade brasileira. A sociedade brasileira é mais árabe do que se imagina. A partir do 11 de setembro, ele passa de um ser exótico a ser visto como um terrorista potencial”, explicou.
Segundo ele, em momentos de crise econômica e incertezas, é comum o estrangeiro ser visto como um inimigo. “Esse discurso de estereotipar o estrangeiro é um discurso produzido e reproduzido por um discurso que só leva à violência e à não-integração”, finalizou.