Cinco meses após seu primeiro caso de Covid-19, Porto Alegre atinge situação mais preocupante

Cinco meses após seu primeiro caso de Covid-19, Porto Alegre atinge situação mais preocupante

Faixa etária dos 20 aos 59 anos concentra cerca de 60% dos casos, enquanto 80% das mortes são de pessoas acima de 60 anos.

Gabriel Guedes

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No mesmo dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes pela Covid-19, Porto Alegre completou cinco meses desde o primeiro caso da doença. A coincidência mostra que a situação da pandemia está longe de ser controlada. Até este domingo, a capital gaúcha totalizava 10.176 casos e 433 óbitos. Se considerarmos o Rio Grande do Sul, já somamos 83.595 contaminados e 2.346 mortes, número que equivale a população inteira do município de Faxinalzinho, próximo a Erechim, no Norte do estado.

Revisitando a trajetória da Covid-19, tanto no RS quanto na Capital, os números vêm praticamente dobrando a cada mês. No dia 9 de julho, eram 5.839 casos, crescendo 74% em um intervalo de 30 dias. Na mesma data, a cidade tinha 152 mortos pela doença, marca que acelerou 184% no mesmo período. A perspectiva segue não sendo a das melhores. “É um momento altamente preocupante”, alerta o mestre e doutor em epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) aponta que entre as 100 mil mortes ocorridas em todo Brasil, cerca de 200 são de mulheres grávidas e puérperas, constituindo um recorde mundial de mortes nessa faixa da população. E, entre os cerca de dois milhões daqueles considerados livres da doença, segundo a entidade, há um número muito grande, mas indeterminado, de pessoas com sequelas diversas decorrentes da Covid-19.

Ao todo são aproximadamente três milhões de infectados pelo novo coronavírus no país. No Rio Grande do Sul e Porto Alegre, a faixa etária dos 20 aos 59 anos concentra cerca de 60% dos casos, enquanto 80% das mortes são de pessoas acima de 60 anos. “Estamos começando a ver mais mortes por Covid-19 de idosos, homens e negros”, afirma Petry. São 57% de óbitos do sexo masculino e 47% em Porto Alegre.

De acordo com o professor, “os mais jovens estão sendo vetores circulantes e as próprias crianças que são pouco afetadas, mas elas transmitem. Um jovem que não se cuida está colocando em risco as pessoas mais idosas”, lembra. Além disso, Petry diz que existem comorbidades que agravam um quadro de Covid-19: diabetes, obesidades, doenças cardíacas. “E isso é mais comum em pessoas idosas, que também já têm um sistema imunológico com maior dificuldade de responder a uma infecção”, explica.

Evolução temporal

Em Porto Alegre, a pandemia também teve uma evolução temporal que demarca quatro fases, sendo a atual a mais crítica. De março até o dia o começo de maio, o crescimento na quantidade de casos era mais baixo. A partir de um pico em 13 de maio, com 58 novos contaminados, o crescimento foi mais acentuado. No dia 5 de junho, o pico de 73 contágios, mostrou um novo período de avanço, atingido a marca de 142 casos no dia 23.

Após esta data, a Covid-19 acelerou em duas semanas e mais que dobrou, chegando a ter 348 novos casos em um único dia, assinalando um novo patamar de contaminação. “Nós temos uma pandemia em ritmos diferentes em diferentes lugares do mundo. E dentro do Brasil houve isso também. O vírus chegou antes pelos principais aeroportos, zonas turísticas e na Amazônia. Mas houve uma evolução tardia e muito violenta aqui”, analisa Petry.

O presidente da Abrasco, Gulnar Azevedo e Silva, diz que ainda é possível evitarmos mais mortes no montante atingido neste final de semana. "Ainda é possível o Brasil tomar um outro rumo frente à Pandemia. Apresentamos o Plano Nacional de Enfrentamento à Covid-19 em audiência pública da Câmara dos Deputados no último 4 de agosto.

O documento traz uma leitura complexa da pandemia e ressalta que o direito à saúde não pode ser dissociado de outros direitos como o direito à moradia digna, ao saneamento básico, ao trabalho e ao acesso a medidas econômicas emergenciais" ressalta. Para Petry, mais que a questão da gestão do combate à pandemia, é necessário o engajamento das pessoas. São as chamadas intervenções “não farmacológicas”.

“Não temos remédios preventivos, só alguns tratamentos com alguma eficácia para quem já está em hospitais. Mas há uma parcela significativa da população negando a doença, sem usar máscaras. Se todo mundo usar máscara e não se aglomerar conseguiremos reduzir o contágio”, reforça. “Se olharmos na história, todas as doenças infectocontagiosas, elas tendem a diminuir. Mas na verdade, só vamos ficar mais tranquilos mesmo é com a vacina”, conclui.


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