Começa confecção do novo livro de bronze do Monumento à Literatura, em Porto Alegre

Começa confecção do novo livro de bronze do Monumento à Literatura, em Porto Alegre

Correio do Povo visitou atelier de Mario Cladera e conferiu os detalhes do trabalho, que deve ser concluído em setembro

Felipe Faleiro

Molde de cera da escultura está sendo desenvolvido por Mario Cladera em seu atelier

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O trabalho metódico das mãos de um experiente escultor está aos poucos dando forma novamente a uma das peças artísticas mais icônicas, e, porque não, mais cobiçadas, de Porto Alegre. O Monumento à Literatura, obra que retrata o encontro entre os escritores Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade, e que está localizado na Praça da Alfândega, no Centro Histórico, receberá um novo livro de bronze. Ele é confeccionado pelo artista plástico e professor Mario Cladera em seu atelier e fundição, na Casa de Cultura Plauto Cruz, no bairro Cidade Baixa.

Nesta semana, Mario, uruguaio radicado em Porto Alegre, e também discípulo do conhecido escultor Vasco Prado, onde aprendeu o ofício ainda na década de 1980, começou os trabalhos de confecção da nova peça, que devem levar cerca de 30 dias, segundo ele, entre confecção e resfriamento. O trabalho é complexo, artesanal, e envolve uma série de materiais. Já o atelier, embora rústico e pequeno, fica em um espaço aconchegante e arejado, no qual ele divide espaço com o filho, o também artista plástico Sebastian Cladera, e Cintia Ferreira, estudante de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que auxiliam nos trabalhos e desenvolvem os próprios.

“Para a obra original, foi utilizada uma agenda do Xico Stockinger como molde. Não queria estragar a mesma, então estamos usando outra que conseguimos, mais nova, trazida pela Eloisa Tregnago”, revela Mario, que na última quinta-feira, visitou a escultura e fez medições. Xico, já falecido, e Eloisa, que auxilia na consultoria da nova confecção, são os coautores do Monumento à Literatura original. Por conta destas limitações, o desafio maior, conforme Mario, é o encaixe posterior da peça no monumento só depois de pronta, já que seria praticamente impossível retirá-lo inteiro e levá-lo ao atelier sem danificar o passeio público da praça.

Todo o bronze utilizado na peça, assim como em outras já desenvolvidas por ele, tem procedência legal, como Mario faz questão de ressaltar. São diversas etapas até a conclusão dos trabalhos. Primeiro, o modelo físico do livro é concebido. Dali, é desenvolvido um molde de gesso, dentro do qual fica uma cópia, desenvolvida em cera. Depois, é criada uma árvore de fundição, onde os modelos são unidos por canais, também de cera, permitindo o escoamento do bronze derretido. Em seguida, é criada uma “caixa”, onde é depositado o material, em um processo de fundição.

Depois de resfriada a peça, o molde de gesso utilizado na mesma é quebrado, e é feita sua usinagem, ou seja, o acabamento e formatação final, e em seguida a pátina, ou a coloração de forma similar à escultura original. Por último, é feita a solda e será realizada a adesão no local do monumento. Todo este trabalho requer cuidado, segurança e precisão máximos, já que o ponto de fusão do bronze, ou o momento em que a substância deixa de ser sólida e passa à líquida, varia entre 900ºC e 1000ºC.

O processo de confecção, de acordo com Mario, é capitaneado pela Coordenação de Artes Visuais da Prefeitura de Porto Alegre e pelo Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), que se colocou à disposição e está financiando o projeto. No atelier, Mario guarda uma série de outros moldes e trabalhos realizados, especialmente de arte estatuária, cujos bustos dos retratados guardam uma personalidade própria. São cerca de 15, guardados em uma área anexa ao atelier.

Exibe ainda com orgulho os diversos trabalhos que até hoje ilustram troféus de importantes prêmios, encantam e impressionam públicos visitantes de prédios públicos, universidades, logradouros e exposições permanentes. O livro do Monumento à Literatura originalmente estava nas mãos de Drummond, que aparece de pé lendo para Quintana, por sua vez, sentado em um banco também de bronze. A totalidade da escultura foi instalada na praça em 2001, sob encomenda da Câmara Riograndense do Livro, para a Feira do Livro daquele ano. Hoje uma das peças públicas mais fotografadas de Porto Alegre, a obra igualmente sempre foi visada por vândalos, que retiram o bronze para revendê-lo. 

Outros atos de vandalismo, sendo o mais recente deles a deposição de tinta amarela à base de água, em julho deste ano, também marcam negativamente sua trajetória. Em outubro de 2007, o livro foi furtado, mas pouco depois localizado e devolvido ao seu lugar original. No mês de março de 2015, novamente houve seu desaparecimento, após um furto. Desde então, a peça nunca mais foi vista. Realidade que deve mudar a partir do final de setembro deste ano, data prevista para que a peça seja reinstalada a tempo da Feira do Livro de 2022, que ocorre entre os meses de outubro e novembro.


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