Condições de vias é desafio para motoristas e poder público em Porto Alegre

Condições de vias é desafio para motoristas e poder público em Porto Alegre

Profissionais que ganham a vida com transporte destacam que obstáculos no asfalto provocam prejuízos aos carros

Felipe Nabinger

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Quem percorre diariamente as ruas de Porto Alegre de carro, motocicleta e demais veículos automotores nota falhas, rachaduras e bueiros aprofundados pelo recapeamento de vias em diversas ruas e avenidas. Obstáculos que podem provocar acidentes caso o motorista tente desviar ou causar danos aos veículos. Seja na região central, nas avenidas Mauá e Farrapos, passando pela Cristóvão Colombo e Benjamin Constant, até chegar à Assis Brasil, na zona norte, ou indo em direção à zona sul pela avenida Cavalhada ou Wenceslau Escobar, é possível ver esse cenário.

Profissionais que ganham a vida com transporte, os taxistas destacam que esses obstáculos no asfalto provocam prejuízos aos carros. “Suspensão é direto. Por causa das irregularidades do asfalto tem peças que a cada três meses têm que trocar, como um pivô. O normal é levar um ano para trocar, mas pegamos muitos desníveis” diz Richard Rodrigues, taxista há 17 anos.

Colega de ponto no centro da Capital, Sidnei Martins tem mais de três décadas trabalhando atrás do volante de um táxi. “Avenidas como a Mauá vemos que tem muito buraco. Quando chove, as crateras são sempre as mesas. Procuramos evitar, mas muitas vezes estoura o pneu. Às vezes é passar no buraco ou bater no carro ao lado”, diz.

Euclides da Silva Filho, que trabalha dirigindo há 50 anos, já tendo sido caminhoneiro e nos últimos 30 guiando táxi, frisa que a situação já foi pior. “Hoje já tem uma qualidade melhor que algum tempo atrás. Pelo menos vemos uma vontade de cuidar das ruas. Não é o ideal, mas já é alguma coisa”, afirma.

Com uma frota em circulação de 844.991 veículos registrados na Capital, conforme dados do Detran/RS, as vias da cidade ainda recebem diversos outros veículos vindos de outras cidades diariamente, o que aumenta o desafio na manutenção de ruas e avenidas.

Programa de requalificação

Com editais lançados ainda em 2020, no final da gestão de Nelson Marchezan Júnior, o Programa de Requalificação Asfáltica busca sanar esse tipo de problema em Porto Alegre. Há pouco mais de um ano, por exemplo, o prefeito Sebastião Melo assinou a ordem de início das obras de manutenção estrutural de pavimento de dois lotes do programa, contemplando 42 quilômetros de avenidas, ruas e estradas, com investimento de cerca de R$ 38 milhões.

Focada mais na zona sul, essa etapa contemplou obras que vêm sendo realizadas nas avenidas Cavalhada, Eduardo Prado e Juca Batista, além das estradas Edgar Pires de Castro, Costa Gama e Principal da Ponta Grossa. “Temos o diagnóstico da necessidade de intervenção em vias principais. Estamos com foco mais na zona sul, mas vamos virar a cidade”, garante o secretário municipal de Serviços Urbanos, Marcos Felipi.

A prefeitura publicou no dia 4 de março um edital de contratação para recuperação estrutural das avenidas Cristóvão Colombo e Benjamin Constant. Os trabalhos incluem a restauração de toda a superfície de asfalto, execução de novas rampas de acessibilidade, melhorias nas redes de drenagem e nova sinalização viária. “Há necessidade não só da troca do asfalto, mas da estrutura da via em alguns trechos. Isso envolve colocação de nova sub-base e base, que é o que sustenta o asfalto”, frisa o secretário. Assis Brasil e Sertório possuem estudos prontos para abertura de novos editais.

Quase 1 milhão de m²

Na gestão Melo, a Diretoria de Conservação de Vias Urbanas (DCVU), que estava vinculada à pasta de Obras, passou para a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb). No ano passado, a prefeitura assinou contrato terceirizando a operação de duas usinas de asfalto, uma localizada na Restinga, na zona sul, e outra no Sarandi, na zona norte, o que ajudou atingir a marca de 994.901 m² de vias com manutenção ou recuperação.

“Temos a expectativa de entregar ao final dos quatro anos uma cidade com grande parte da sua malha viária recuperada. Já percebemos a melhora”, diz Felipi, que espera a manutenção da marca de 2021, considerada um recorde nas últimas duas décadas, chegando a 4 milhões de m² de vias contempladas. 

Diferentes serviços

O titular da SMSUrb explica que, além da recuperação estrutural, com obras de grande complexidade no Programa de Requalificação Asfáltica, ainda há a recuperação funcional. “A diferença é que o funcional necessita apenas a troca do asfalto, não precisando modificar a estrutura”, explica.

Nesse tipo de serviço também são realizados trabalhos de drenagem, limpeza e melhorias na sinalização viária. Avenidas como a Plínio Brasil Milano e Princesa Isabel são exemplos de vias que devem receber esse tipo de recuperação. Nestas obras, todos os insumos são de responsabilidade das empresas vencedoras da licitação.

Já para os serviços de conservação e manutenção de asfalto, é a prefeitura através de suas usinas de asfalto que realiza o serviço contínuo por meio do DCVU. Esse trabalho é dividido em conservação permanente, onde asfalto é colocado em ruas sem calçamento ou com paralelepípedos, mas com sistema de drenagem; conservação padrão, onde as ruas são recuperadas por trechos; e conservação emergencial, que seria o popular tapa-buraco. “

A nossa gestão, prefeito Melo equipe, quer evitar o tapa-buraco, que é um serviço emergencial. Fazendo as manutenções estruturais e funcionais, conseguimos focar nosso contrato de manutenção das usinas para a parte interna dos bairros”, afirma Felipi. 

A pasta reforça a necessidade da sinalização de problemas nas vias pelos usuários por meio do 156. O prazo para serviços de conservação é de até 45 dias após o registro no canal oficial da prefeitura.

Novas tecnologias

Um novo tipo de asfalto pode ser aplicado nas ruas da Capital em breve. “Estamos com estudo avançado para trazer para Porto Alegre o asfalto borracha, que é oriundo da reutilização de pneus velhos. Ele é mais barato e ecologicamente correto”, revela Marcus Felipi. O secretário explica que, ainda no primeiro semestre, a SMSUrb via realizar testes uma rua, fazer a análises e, tendo a aprovação, realizar a contratação desse tipo de insumo para aplicação nas vias.

Essa nova tecnologia se alia ao asfalto morno, que teve o uso iniciado no ano passado de forma pioneira. “Foi a primeira capital do país a usar o asfalto morno, comum nos Estados Unidos e na Inglaterra e ecologicamente mais adequado”, garante o secretário. Esse tipo de asfalto permite a aplicação em temperaturas inferiores a 10°C, sendo possível realizar trabalhos de conservação em dias de inverno. Além disso, a SMSUrb pretende aumentar o trabalho noturno, entre 20 h e 3 h, agilizando esse tipo de trabalho e reduzindo os transtornos no trânsito durante o dia.


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