Congresso Brasileiro de Arquitetos debate urbanização e espaços públicos

Congresso Brasileiro de Arquitetos debate urbanização e espaços públicos

Evento se desenrolará durante cinco dias em Porto Alegre

Eduardo Amaral

Arquiteta Erminia Maricato salienta necessidade de políticas públicas para o meio urbano

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Urbanização e o uso do espaço público são alguns dos temas que serão debatidos durante os cinco dias do Congresso Brasileiro de Arquitetos (CBA), que iniciou na noite desta quarta-feira em Porto Alegre. Reunindo profissionais de todo país, o evento adotou um formato descentralizado, com atividades em diversos pontos do centro da cidade.

Com essa postura, os organizadores esperam aproximar a população dos temas debatidos durante os cinco dias de CBA. Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil do Rio Grande do Sul (IAB/RS), Rafael Pavan dos Passos, espera que com essa organização diferente, a sociedade dê mais atenção para assuntos que por vezes ficam mais restritos à categoria. “Para que a cidade olhe de uma outra forma para a arquitetura e dessa forma possa, inclusive, participar dos diversos eventos abertos e dessa forma debater sobre a cidade, arquitetura, seu patrimônio histórico e seus espaços públicos”, explica. Ele avalia ainda que estes assuntos interferem cada vez mais na vida em sociedade. “A humanidade hoje é uma civilização urbana, então todas as escalas: arquitetura, urbanismo e planejamento urbano, são fundamentais para nossa organização em termos de sociedade no espaço.”

Passos considera ainda que ao apresentar atividades na rua, o CBA pode buscar uma aproximação maior com os moradores. “Além de um Congresso que vai levar arquitetos para discutir com maior profundidade as questões do planejamento urbano, também tem a importância de trazer para a cidade uma série de ações voltadas à comunidade de Porto Alegre levando o debate da arquitetura da cidade.” O presidente do IAB/RS lembra que a inserção de pessoas fora da área técnica em temas da arquitetura ainda é rara no país. “Uma característica da sociedade brasileira é não discutir a arquitetura, em muitos outros lugares como no Uruguai e na Argentina, há um envolvimento maior.”

A abertura do Congresso teve a palestra da arquiteta urbanista Erminia Maricato, uma das maiores especialistas na área de urbanismo do país, que demonstrou uma grande preocupação com a vida das pessoas nas grandes cidades, em especial os moradores de regiões periféricas. “85% da população está vivendo cidades hoje, e isso é uma coisa relativamente recente no Brasil. Estou falando de uma parcela da população que tem problemas dramáticos todos os dias, é um cotidiano de sofrimento, e o que se percebe é que isso saiu da agenda política nacional.” Na avaliação de Erminia, um dos primeiros passos que precisam ser dados quanto ao problema é escutar. “Para que as pessoas possam chegar nas grandes questões, elas precisam ser ouvidas no cotidiano que vivem, que é de muito sofrimento nas periferias das grandes cidades.”

Dentro deste contexto de cidades cada vez maiores, a questão da moradia se apresenta como a principal preocupação. “Mais de 50% da população urbana brasileira não tem acesso a moradia nem por um nem por outro. Essa população ocupa compulsoriamente, ela precisa de um lugar para morar. A primeira questão que os arquitetos apontaram foi o problema da terra urbana.” A arquiteta defende que já existe uma legislação capaz de diminuir o problema, porém ela não tem sido realmente aplicada, na avaliação dela. “Na regulamentação da Constituição criamos uma das leis mais avançadas do mundo que é o Estatuto da Cidade, só que ele é muito desconhecido até pelo Judiciário brasileiro. Então a primeira questão que os arquitetos apontaram é que precisa existir a função social da propriedade e uma democratização do acesso.” O CBA ocorre até sábado, 12, e programação completa está disponível no site do evento: https://www.21cba.com.br/Site.
 


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