Conheça os bastidores da cobertura do resgate dos mineiros no Chile

Conheça os bastidores da cobertura do resgate dos mineiros no Chile

Repórter Luciano Nagel conta em fotos e vídeos os cinco dias que passou no deserto

Karina Reif / Correio do Povo

Correspondente da Rádio Guaíba e Correio do Povo, Luciano Nagel ficou cinco dias no Deserto do Atacama

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O repórter da Rádio Guaíba Luciano Nagel foi um dos quase 2 mil jornalistas que cobriram o resgate dos trabalhadores presos na mina de San José, no Chile. Em cinco dias no deserto do Atacama, Nagel mal conseguiu tomar banho, dormir e se alimentar direito. Instalado em uma barraca,  ele contou com o auxílio dos colegas e dos familiares dos mineiros para tornar a sua estada menos precária.  

Para Nagel, a retirada das vítimas foi mais importante do que a chegada do homem à lua. “Eram 33 homens chegando à superfície”, explicou. Veja a galeria de fotos ao lado e os vídeos no fim da matéria.

Nagel chegou a Santiago no sábado que antecedeu a operação de socorro e foi de avião até a cidade de Copiapó. De táxi e carona com uma equipe canadenses da CBC News, ele se deslocou até o Acampamento Esperança, onde estavam os familiares dos mineiros. Quando chegou ao local, no domingo, metade da imprensa, que acompanharia o momento emocionante da retirada do primeiro homem debaixo de 622 metros de terra, já estava lá.

As barracas dos parentes das vítimas ficavam junto com as dos jornalistas, o que permitiu que o repórter se aproximasse dos familiares e conseguisse transmitir os sentimentos de ansiedade antes da operação, que durou menos de 24 horas.

No Deserto de Atacama, local em que estava situado o acampamento, a temperatura variava entre cerca de 30ºC durante o dia e menos de 10ºC ao anoitecer. “As primeiras duas noites foram muito difíceis por causa do frio. O meu saco de dormir ficava em cima das pedras e precisei encomendar a um colega um cobertor e travesseiro. A família do mineiro (Carlos Barrios) Contreras me emprestou um colchão fino.”

Contreras foi o 13º a ser içado por uma cápsula de dentro da mina San José e, enquanto o seu resgate era realizado, Nagel conversou com a tia do mineiro. Mariela disse que iria recomendar ao sobrinho que nunca mais trabalhasse em minas. A mãe dele já havia mostrado uma carta do filho ao repórter, em que relatava que estava bem.

O jornalista conseguiu dormir não mais do que duas horas por noite ao longo dos cinco dias que permaneceu lá. O motivo, além do desconforto, era a produção de matérias. “Onde tu estavas tinha notícia”, disse Nagel, que percorria o acampamento de aproximadamente 2,5 mil metros quadrados transmitindo boletins para a Rádio Guaíba e o Correio do Povo durante dia e noite.

10 duchas atendiam todo o acampamento

Todos que estavam no acampamento dividiam 60 banheiros químicos e 10 duchas para tomar banho. “Mas faltava água. Em dois dias não consegui usar o chuveiro.” A comida também era escassa. Os familiares comiam em uma cantina e os jornalistas do lado de fora. Pela manhã, chegavam café e bolachas ou pão com manteiga e queijo. Às vezes faltava pão”, contou o jornalista, que precisou recorrer à equipe do jornal argentino El Clarín, que estava hospedada em um hotel em Copiapó, para que comprasse comida na cidade. No almoço, o cardápio era pão com filé de peixe ou hambúrguer. O mesmo era servido na janta. Garrafas de água eram distribuídas para a imprensa, mas como a prioridade era sempre dos familiares, muitas vezes alguns jornalistas ficavam sem beber.

Uma sala de imprensa foi montada no local e os milhares de repórteres disputavam energia elétrica para carregar baterias. “Tinha só um ponto de energia, mas havia coleguismo e às vezes alguém desligava seu computador para dar lugar a outro”, contou.

Para Nagel, que esteve no Chile no início do ano produzindo matérias sobre o terremoto que assolou o país, a cobertura do resgate dos mineiros foi uma das mais importantes e emocionantes de que participou. “Nós tínhamos quase a certeza de um final feliz. Até o clima ajudou, porque na noite do resgate não teve a camanchaca, que é uma neblina do deserto, e facilitou o transporte por helicópteros.”

O jornalista contou que um dos momentos mais comoventes foi o de testes com a cápsula que levaria, um a um, os 33 mineiros à superfície. A saída do primeiro homem fez todos chorarem, inclusive Nagel, que estava junto aos demais profissionais da imprensa, a 300 metros do local da operação. Apenas dois ou três familiares ficavam próximo dos trabalhadores resgatados e os demais permaneciam junto aos repórteres. Foi assim que Nagel conseguiu falar com parentes no momento que as vítimas chegavam à superfície. “Todos choravam e comemoravam, mas teve um momento tenso, quando houve um problema na porta da cápsula”, disse.

Antes disso, outra situação emblemática para Nagel foi quando encontrou o sobrinho de um dos mineiros, Ariel Ticona, rezando próximo a pedras. Elias, 8 anos, acendeu velas para o Santo Expedito, das causas impossíveis. A família dele estava acampada a duas barracas do repórter.

A saída do último mineiro, Luis Urzúa Iribarren, 54 anos, foi o momento de maior alívio entre todos que aguardavam a conclusão da operação. Às 21h55min do dia 13, o topógrafo foi resgatado. Ele foi recebido com uma festa de choros e gritos no Deserto do Atacama. Com uma chuva de balões e bandeiras do Chile, Nagel encerrou a cobertura do resgate na mina de San José.

Veja os vídeos gravados pelo jornalista Luciano Nagel durante o resgate dos mineiros














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