Contradições mostram que cariocas não compreendem direitos humanos, diz pesquisa

Contradições mostram que cariocas não compreendem direitos humanos, diz pesquisa

Para 56% dos entrevistados, quem defende direitos humanos defende bandidos

Agência Brasil

Contradições mostram que cariocas não compreendem direitos humanos, diz pesquisa

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A defesa dos direitos humanos é incompatível com o controle da criminalidade para 73% dos cariocas, segundo a pesquisa Olho por Olho?, divulgada nesta quarta-feira pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Quando confrontados com exemplos de situações mais concretas, no entanto, os entrevistados se posicionam muitas vezes a favor dos direitos que afirmam discordar, apontam os pesquisadores responsáveis.

"Temos contradições. Embora grande parte da população não acredite que lutar contra a violência seja compatível com o respeito aos direitos humanos em uma série de outros dados fica claro que a população não aceita violações específicas", analisa Julita Lemgruber, coordenadora do centro de pesquisas.

A pesquisadora acredita que existe uma incompreensão do termo "direitos humanos" que, muitas vezes, é confundido com impunidade ou "privilégio de criminosos". "A gente tem um dever de casa de explorar essas brechas e trabalhar com a população", afirma.

Para 56% dos entrevistados, quem defende direitos humanos defende bandidos. Apesar disso, 47% discordam da frase "os bandidos não respeitam os direitos dos outros, por isso não merecem ter direitos".

A maior parte (61%) dos entrevistados também acredita que a polícia deve, sempre que tiver escolha, prender em vez de matar. Para 93%, a polícia não pode atirar em quem ela acha que é criminoso e, mesmo diante da certeza de que alguém cometeu um crime, 75% são contra o disparo. Além disso, 69% dos entrevistados também são contrários a que a polícia atire em quem está fugindo e 29% discordam até mesmo que a polícia dispare contra quem está apontando uma arma contra os agentes.

"Essa pesquisa aponta para a possibilidade de desconstrução dessa lógica do bandido bom é bandido morto. Há espaço para discussão com a sociedade", destacou Julita.

A pesquisa identificou uma base de cerca de 40% dos cariocas que têm uma atitude pró-direitos humanos na questão da segurança pública. Eles são contra o bordão "bandido bom é bandido morto", discordam da pena de morte e são contra linchamentos. Por outro lado, 12,5% declararam ser a favor da frase, da pena capital e da justiça com as próprias mãos.

Para o pesquisador Ignacio Cano, os dois grandes freios à ideia de que bandido bom é bandido morto são a defesa da legalidade e a religião. O estudo identificou que 37% da população concorda que bandido bom é bandido morto.

"Apesar de defender bandido bom é bandido morto, a maioria dessas pessoas está pensando mais em uma pena legal do que em uma execução sumária ou um linchamento na rua", destaca.

A pesquisa mostrou que os religiosos praticantes, especialmente os evangélicos, são o grupo que mais discorda da frase e também o que mais acredita na ressocialização.

"Os religiosos, muitas vezes, acreditam que Deus é o único que pode tirar a vida", explica Cano, que defende uma renovação do discurso em defesa dos direitos humanos. "É preciso uma reciclagem. Nossa linguagem deve ser mais próxima da linguagem das pessoas, e não a dos tratados internacionais apenas".

Para Cano, é preciso desnaturalizar a ideia de "guerra" no Rio de Janeiro, desconstruir a demonização da figura do traficante e apontar o fundo racista nas violações dos direitos humanos.

Exposição

A pesquisa mapeou também a exposição das pessoas a cenas de violência e identificou as redes sociais Facebook e Whatsapp como as principais plataformas em que os entrevistados tiveram acesso a vídeos de violação de direitos humanos.

Do total de entrevistados, 42% já viram pessoas sendo mortas na internet, 40% já assistiram a tiroteios envolvendo policiais e 38% já viram vídeos de linchamentos.

A pesquisa ouviu 2.353 pessoas, com ao menos 16 anos, em pontos de fluxo do município do Rio de Janeiro. O questionário, com mais de 40 perguntas, foi aplicado em março e abril do ano passado.

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