Correio do Povo comemora 125 anos

Correio do Povo comemora 125 anos

Relação de confiança e credibilidade com leitores se mantém sólida ao longo das décadas

Correio do Povo

Leitores prestam homenagens aos 125 anos do Correio do Povo

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Em um país que sustenta a média de uma a cada quatro empresa fechando antes de completar dois anos, chegar a um século de atividades é virtude. E, não se atravessa tantos anos, apesar das mudanças de tempos e tendências, se o produto que se entrega não dialogar com o seu público, independente do segmento. O Correio do Povo faz 125 anos e, como outras organizações similares, traz consigo uma relação de proximidade com o seu leitor: como se fosse um amigo, que o acompanha nos bons e maus momentos, compartilhando uma palavra de conforto. Ou, neste caso, milhares e milhares de palavras por edição, com muita informação. Um jornal direto ao ponto. Há muitos anos.

Desde que a pequena Luise Herbert Consiglio, então com três anos de idade, chegou com a família em Porto Alegre. Nascida, em Solingen, na Alemanha, foi morar em uma comunidade germânica na localidade de Rolantinho. A ligação com o seu país de origem sempre lhe acompanhou. Aos 17 anos, era enfermeira no Hospital Alemão (atual Hospital Moinhos de Vento) e seguia as tradições como Schwester - mulheres que se dedicavam em tempo integral a cuidar de enfermos em hospitais com cunho religioso luterano e alemão.

Mas como se aproximar do lugar que a acolheu, falar a sua língua? Luise contou com uma ajuda das palavras de um tal Correio do Povo. “Até então, eu só sabia dizer ‘bom dia, boa tarde’”, sorri. Hoje, aos 99 anos, depois de um casamento que terminou e três filhos, ela vive no município de Guaporé, no Lar Santa Rita, de onde não pode sair devido aos cuidados pela pandemia. Ea sua companhia de todos os dias continua sendo o jornal, já que a assinatura migrou da Capital para lá.

“Com 17 anos, eu pedi de presente de aniversário do meu pai o Correio do Povo”, diz, carregando, ainda, no sotaque aqueles dois erres como se fosse um só. Prestes a completar cem anos, em março de 2021, Luise admite as lacunas fugidias que sua memória não consegue mais rebobinar. “Existem pedacinho do que me lembro. Mas o Correio do Povo fez muito parte da minha vida. Estou com 99. Já é um tempinho, né?”, brinca. Ela garante que não teve aulas de Português, contando, assim, com ajuda das notícias que chegavam diariamente à porta de casa. Ela lembra de ter lamentado quando o jornal deixou de circular, entre 1984 e 1986. “Um dia me ligaram, perguntando se eu queria ser assinante ainda. Claro, que queria de volta!”, recorda. Além de ler, Luise gosta de desenhar, à caneta, as páginas do jornal. Gosta de fazer pinturas no logotipo, bem no topo da página. E, como toda relação de proximidade, sempre dá “bom dia, amigo”, escrevendo a frase a cima do nome do jornal, não importa qual a cor da caneta.

Wilma Pereira Moura | Foto: Ricardo Giusti

Um ano mais experiente que Luise e igualmente leitora assídua é Wilma Pereira Moura. O ritual ela não deixa de praticar: acorda, vai na porta buscar o Correio do Povo e senta para tomar uns bons goles de café com a companhia da informação. “Não sei viver sem o jornal”, conta, direto da sua casa na rua Vigário José Inácio, no Centro Histórico de Porto Alegre. A relação começou cedo, mas, inicialmente por imposição. O pai, Dulcídio, ordenou que a menina, com dez anos na época, lesse para a avó, Maria Anastácia, que tinha problemas de visão.

“Ela queria saber das notícias sociais, para ver quem estava de aniversário naquele dia. E, depois a necrologia (o antigo obituário) para ver quem tinha morrido”, gargalha ao lembrar. A partir de então, a família ganhou mais uma leitora. Por convicção.

Considerando a“política muito desvalorizada”, Wilma gosta de saber a previsão do tempo e ler sobre esporte. Principalmente sobre o time de coração. “O Internacional é o meu clube. Torço dia e noite. Xingo quando perde. Eu quero ver vitórias”. Ela dá um conselho às novas gerações: “É preciso ler livros. Se aprende lendo livros, jornal, folhetos. Mas coisas aproveitáveis. Desde criança gostava de ler. A criação que eu tive foi muito diferente de hoje em dia. Nós respeitávamos a família. Hoje em dia, os filhos se avançam nos pais”. Depois de anos confeccionando enxovais, Wilma já bordou o seu futuro, de forma poética. “A vida é uma estrada que tu vais seguindo, dia a dia. Tu vais indo até o dia que a estrada termina e pronto”. Mas pretende ir longe nesse caminho. Ela, a xícara de café e o jornal aberto à frente.

Matilde Herbet | Foto: Ricardo Giusti

Aos 103 anos, Matilde Herbert Gomes também tem a companhia do jornal há algumas décadas. Antes de virar modelista de esculturas e manequins de vitrine, a ainda menina não tinha dinheiro pra comprar uma edição, mas se inteirava das notícias do dia nos embrulhos dos produtos adquiridos no mercado. “Quando precisava ir ao armazém, me ‘grudava’ nas páginas, ainda em São Sebastião do Caí”, rememora a filha de pai sueco e mãe de origem alemã. Desde os seis anos, já gostava da leitura. E o jornal contribuiu. “Sempre li de tudo, principalmente, política. Lembro das primeiras eleições depois da ditadura do Getúlio Vargas (ano de 1945)”. Matilde também tem na memória a Campanha da Legalidade. “Além do Correio do Povo, ouvia direto a Rádio Guaíba. Sei toda a história do Leonel Brizola”, garante.

Outra ajudinha veio dos classificados. “Consegui comprar três imóveis de barbada. Saía de casa com o Correio debaixo do braço”. Assim como Luise, também confessa a tristeza durante o breve hiato da circulação do jornal nos anos 1980. E lembra com carinho de um comunicador em especial, já falecido. “Adorava o (Sérgio) Jockyman. Melhor não tinha. Ele falava tudo antes. Falava na China quando ainda era desprezada, não era essa potência de agora”. “Analfabeta de internet” confessa, Matilde prefere as folhas do jornal de sua preferência. “Preciso todos os dias. E é fácil de ler. A gente encontra as notícias logo, não tem besteiras”. Isso, Matilde. Direto ao ponto.

Novas Matildes, Wilmas e Luises

Como toda empresa centenária, é preciso acompanhar as tendências. Inclusive, as redes sociais foram fundamentais para as entrevistas desta matéria. Como as fotos que a enfermeira do lar onde mora Luise, Karen, enviou por conta da dificuldade de encontrar pessoalmente a leitora. Ou os áudios que a filha de Wilma, Marta, produziu, como se fosse uma pré-entrevista. E, ainda, a troca de e-mails com Edialeda Susin que aproximou o repórter de Matilde.

A tecnologia é fundamental e ajuda a construir novos “amigos” do Correio do Povo. Além o jornal produz conteúdos para o Facebook, Instagram, YouTube e Twitter. No Instagram, por exemplo, 35% dos leitores-internautas são pessoas entre 35 e 44 anos. Na sequência, entre 25 e 34 anos (25%) e a faixa entre 45 a 54 anos (19%). No Facebook, não muda muito: 28%, 26% e 16%, respectivamente. Nas duas plataformas, a maioria é das mulheres. São 55% consumidoras do Correio do Povo e 45% homens. O tempo segue a sua estrada e novas Matildes, Wilmas e Luises continuarão chegando. Enquanto o Correio continuar sendo do povo.

 

 


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