Crescimento de casos de Covid-19 e de síndrome gripal deixa em alerta profissionais de saúde

Crescimento de casos de Covid-19 e de síndrome gripal deixa em alerta profissionais de saúde

Alastramento da variante ômicron e aumento da demanda pelos serviços de urgência e emergência podem deixar pressionado o sistema de saúde do RS

Felipe Samuel

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O alastramento da variante ômicron do novo coronavírus e o aumento da demanda pelos serviços de urgência e emergência sinalizam que o sistema de saúde do Rio Grande do Sul pode voltar a ficar pressionado nas próximas semanas. Com mais 12.232 novos casos confirmados de Covid-19, o Estado já contabiliza 60.350 pessoas com diagnóstico da doença em janeiro. É o segundo maior número de casos confirmados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), em 24 horas, desde o início da pandemia.

Somente em 23 de julho de 2021, quando foram publicados dados represados da doença no Estado, houve maior número de diagnósticos confirmados: 64.056. O crescimento exponencial da Covid-19 é reforçado pelos dados dos últimos três dias, quando 32.947 pessoas testaram positivo para o vírus. O número de infectados confirmados nessa semana, de terça a quinta-feira, é maior do que o dos meses de novembro (19.084) e dezembro (12.342), que somados totalizam 31.426 casos.

O crescimento de casos confirmados para Covid-19 e de síndrome gripal deixa em alerta profissionais que atuam na linha de frente do combate à pandemia. Para a coordenadora do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do Grupo Hospitalar Conceição, Ivana Varela, a maior carga para o sistema de saúde está justamente na contaminação dos profissionais de saúde. "A gente pode observar nas próximas semanas um aumento de hospitalizações e de óbitos como a gente observou em outros países, como EUA, Alemanha e Reino Unido", destaca.

Como a variante ômicron tem alto grau de infectividade, a epidemiologista explica que pessoas com esquema vacinal completo podem contrair a doença. "Essa variante tem a característica da perda da capacidade de neutralização dos anticorpos que é dada pela vacina", afirma. Apesar da alta transmissibilidade dessa cepa, ela ressalta que a quantidade de profissionais envolvidos em surtos na instituição com a nova cepa é bem menor do que com as variantes anteriores. "A contaminação expressiva de profissionais tem ocorrido na comunidade", compara.

Embora os casos de Covid-19 apresentem alta em janeiro, Ivana explica que no GHC, dos 234 casos confirmados da doença entre profissionais de saúde, até 12 de janeiro, nenhum foi a óbito ou necessitou de hospitalização. "Essa é a boa notícia. É um cenário mais favorável em termos de prognóstico dos profissionais de saúde, porém o serviço de saúde está sofrendo o impacto dos afastamentos deles", observa. Segundo Ivana, o crescimento de casos Covid-19 ainda não reflete nas internações em leitos de terapia intensiva, que tinham 1.703 pacientes, com 191 casos confirmados para Covid-19.

"O que a gente pode inferir com tudo isso que estamos observando é que realmente esse número vai aumentar ainda. Embora a gente saiba que as pessoas estejam vacinadas, é importante que elas mantenham as medidas não farmacológicas de controle, porque essa variante consegue afetar as pessoas mesmo vacinadas", reforça. Em contrapartida, conforme dados da SES, em uma semana, a ocupação dos leitos clínicos registrou aumento de 83,5% de casos confirmados para Covid-19, passando de 218 pacientes, no dia 6, para 400 até início da noite de ontem.

Conforme Ivana, três semanas após a confirmação da circulação da ômicron no Estado houve aumento significativo de casos de síndrome gripal. "Na semana epidemiológica 50, que é uma semana anterior ao dia 19 de dezembro, tinham sido notificados 1.490 casos de síndrome gripal no RS, enquanto que na primeira semana epidemiológica de 2022 foram 28.677 casos notificados, o que representa um aumento de 19 vezes do número de casos confirmados. É assustador", afirma.

O aumento da demanda por atendimento também foi verificado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, cuja gestão é do GHC. "Em dezembro de 2021 fechamos com 2.743 atendimentos de síndrome gripal. E até dia 12 janeiro, já tínhamos 2.358 casos, o que representa 86% do total atendido na UPA em todo mês de dezembro, que já foi um mês com aumento de casos", avalia. "Se comparásssemos com o mês de novembro, mês prévio à circulação da variante Ômicron, tivemos apenas 1.598 casos de síndrome gripal. Diante desses dados, provavelmente vamos ter no mínimo 5 mil casos (em janeiro)", completa.

Queda do número de mortes

Apesar da elevação dos casos de síndrome gripal pela Covid-19 naquela semana, ela destaca a redução do número de mortes no período. "Mesmo com aumento exponencial desses casos houve redução de 57% do número de óbitos nesse período. Tínhamos na semana epidemiológica 50, de 2021, 66 óbitos. Enquanto que na semana 51 foram 29 óbitos no Estado", compara. Mesmo assim, ela reforça o apelo para que a população conclua o esquema vacinal e adote medidas não farmacológicas, como uso de máscaras -preferencialmente os modelos N95/PFF2 - e evitar aglomerações.

Entre idosos, gestantes e pessoas com comorbidades, o cuidado deve ser redobrado. "Elas permanecem sendo suscetíveis a um quadro de má evolução. É importante que nessas semanas, a partir de agora, as pessoas tenham o máximo de cuidado de evitar a transmissão para as pessoas de risco. Se a comunidade contribuir para controlar essa transmissão, nós vamos estar protegendo aquelas que realmente são as mais vulneráveis a ter um prognóstico ruim", destaca.

Conforme dados da SES, das 36.513 mortes registradas desde o início da pandemia, 26.041 tinham 60 anos ou mais, ou seja, 71,31% do total de óbitos. "Os idosos que não têm a dose de reforço hospitalizam mais. O maior número de casos hospitalizados é entre os idosos que não receberam reforço ou que não receberam a segunda dose, embora tenha também aqueles que receberam a dose de reforço. Mas é importante chamar a atenção para que os idosos façam a dose de reforço", frisa. "Estamos enfrentando um momento difícil, embora não seja tão impactante como os óbitos", completa.
 


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