Crescimento de infecções no RS deve se estender por três semanas, diz epidemiologista

Crescimento de infecções no RS deve se estender por três semanas, diz epidemiologista

Estado registrou hoje mais 57 mortes por conta da doença

Felipe Samuel

Unidades de Terapia Intensiva do RS registraram hoje o maior número de hospitalizações por conta da Covid-19

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Um dia após o governo do Estado emitir alerta, pela segunda semana consecutiva, para as 21 regiões Covid do Sistema 3As de Monitoramento, o Rio Grande do Sul registrou hoje mais 57 mortes por conta da doença, totalizando 37 mil óbitos desde o início da pandemia. O avanço do novo coronavírus neste começo de fevereiro mantém o cenário observado na segunda quinzena de janeiro. O gerente de Risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Ricardo Kuchenbecker afirma que o crescimento de infecções no Estado ainda deve se estender pelas próximas três semanas. 

O epidemiologista avalia que 'ninguém esperava enfrentar uma pandemia por tanto tempo', sobretudo num contexto de mudanças de comportamento determinadas pelas diferentes variantes da Covid-19. "Não tem como a gente não ficar consternado com esse elevado número de óbitos. A parte que conforta é que provavelmente a gente tenha uma tendência cada vez maior de desproporção entre o número de casos de infecções pela Covid-19 e as formas mais graves e, portanto, de óbitos", observa.

Frente a característica da variante ômicron, que apresenta capacidade infectante superior às anteriores, Kuchenbecker explica que o crescimento exponencial do contágio em todo mundo é notado desde dezembro. Por conta da vacinação ou pela própria característica da ômicron, ele destaca que na maior parte são casos menos graves. "Esse número de óbitos não só tende a estabilizar e apresentar também, como já vem sendo possível ver nos últimos meses, na segunda metade do ano no Brasil e no RS, uma curva descendente", frisa.

Mesmo com bom ritmo vacinal, o epidemiologista salienta que o percentual de vacinados com a dose de reforço entre adultos jovens e adolescentes ainda 'é muito abaixo da população que deveria tomar as três doses'. "O que definitivamente detém formas graves da Covid-19, mesmo pela ômicron, são as três doses", alerta. Para diminuir a circulação do vírus, Kuchenbecker reforça a importância da imunização. "A essa altura do campeonato a gente tem vários motivos para vacinar as crianças. Primeiro porque com a vacinação dos adultos as crianças passaram a ser uma população vulnerável. E isso, em especial no contexto da ômicron, fez subir muito as infecções em crianças", destaca.

Além de frear a disseminação do vírus, ele garante que a vacinação dos pequenos também diminui as chances de surgimento de novas variantes. "Os leitos de UTIs e de internação para crianças nunca foram tão necessários como agora no contexto da ômicron comparativamente a outros momentos", observa. Conforme Kuchenbecker, 80 milhões de pessoas foram infectadas pela doença na última semana em todo mundo. "Isso é um risco enorme para o surgimento de novas variantes", completa. A subvariante da ômicron BA.2, detectada na Dinamarca e na Índia, também deixou os especialistas em estado de alerta.

"Essa é a demonstração de que o grande desafio planetário hoje é vacinar a população da terra, porque enquanto a gente tem contingentes populacionais não vacinados, isso sempre vai ser uma gigantesca oportunidade para o vírus ir se multiplicando e desenvolver variantes com comportamentos mais agressivos", avalia. Caso a população mantenha as medidas de precaução, como uso de máscaras e evitar aglomerações, o epidemiologista acredita que nos próximos meses o cenário será mais promissor.

E compara o comportamento da variante observado nos EUA e Europa, onde a ômicron apresentou crescimento progressivo durante seis semanas até atingir o platô. "Isso faz a gente pensar que a gente tem pelo menos mais duas a três semanas de um acréscimo, de aumento de número de caos, e depois uma certa estabilização", afirma.

Aumento do contágio por Covid-19 reflete na procura por atendimento no Conceição

Um estudo do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) revela que de 1º a 30 de janeiro foram registrados 494 casos de pacientes com síndrome gripal nos hospitais Nossa Senhora da Conceição (HNSC) e Criança Conceição (HCC). Do total, 189 apresentavam diagnóstico para Covid-19, dos quais 171 (90,5%) no HNSC e outros 18 (9,5%) no HCC. O diretor-presidente do GHC, Cláudio Oliveira, explica que a maioria estava na faixa etária entre 60 e 79 anos. Os 74 casos confirmados nesta faixa etária representavam 43,2% do total

Dos 171 casos confirmados no HNSC, 98 (57,3%) não tinham tomado nenhuma dose da vacina ou apresentavam esquema vacinal incompleto. Nesse período, 21 adultos necessitaram de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ou seja, 12,3% do total diagnosticado com a doença. No HCC, quatro crianças foram hospitalizadas em leitos de terapia intensiva, o equivalente a 22,2%. "Tivemos muitas crianças internadas", observa. Hoje, a UTI pediátrica do tinha dois casos confirmados para a doença. "Tivemos 11 óbitos em janeiro, principalmente de pessoas com comorbidades, acima de 60 anos e com esquema vacinal incompleto", completa.

Conforme dados do GHC, em cinco casos os pacientes tinham recebido duas doses da vacina sem reforço, sendo as últimas doses em março e agosto do ano passado. Pessoas com 60 anos ou mais representam a maioria dos óbitos e totalizam nove casos (81,8%). Conforme Oliveira, houve aumento da demanda por atendimento nos 12 postos de saúde vinculados à instituição, que atenderam 5 mil casos de síndrome gripal. "É um número maior de atendimentos que em março do ano passado (no pico da pandemia)", compara.

Segundo Oliveira, quase metade dos pacientes atendidos nesses locais apresentaram diagnóstico positivo da doença, com 2.193 casos confirmados, ou seja, 43% do total. "Em média foram 6 casos positivos por unidade, por dia. É bem alto", ressalta, acrescentando que a maioria apresentava sintomas leves da doença. "Não vimos ainda uma diminuição dos casos e de internações, mas esperamos que estabilize. Fevereiro é um mês de quatro semanas, é mais curto, a gente ainda pode conviver com esses números elevados, esperando que a partir da segunda metade do mês ocorra uma diminuição", completa.

Por conta do crescimento da demanda, na segunda quinzena de janeiro o HNSC mais do que triplicou o número de leitos clínicos destinados ao tratamento da doença, passando de 24 para 84. Os leitos de emergência também foram aumentados de 6 para 20. "É  importante ressaltar que a diminuição deve ocorrer bem na semana do Carnaval. Podemos entrar numa descendente (de casos e internações) no período do Carnaval e, dependendo de como for, se todo mundo sair de novo, buscar fazer aglomerações, podemos ter, em meados de março, uma outra subida", alerta.

Na Capital, as internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) hoje registravam estabilidade, com 637 pacientes, o equivalente a 86,55% de lotação. O número de casos confirmados para Covid-19 apresentava redução em relação ao início da semana, com 143 pacientes em estado grave. Mesmo assim, 4 dos 17 hospitais monitorados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) operavam com capacidade máxima ou acima da lotação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI): Ernesto Dornelles (125%), Nossa Senhora da Conceição (109,43%), Mãe de Deus (100%) e Restinga (100%). Outras sete instituições apresentavam ocupação superior a 80% dos leitos de terapia intensiva.


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