Detentos de Porto Alegre e Montenegro concluem curso de artesanato sustentável

Detentos de Porto Alegre e Montenegro concluem curso de artesanato sustentável

Peças produzidas por 34 apenadas foram expostas à familiares

Felipe Samuel

Peças produzidas por 34 apenadas foram expostas à familiares

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Após dois meses de aulas de artesanato sustentável, detentos da Penitenciária Estadual de Porto Alegre e da Penitenciária Estadual de Montenegro receberam ontem certificado de conclusão do curso. Acompanhados de familiares, 34 apenados - 23 em Montenegro e 11 em Porto Alegre - apresentaram as peças produzidas durante o período em que aprenderam técnicas de confecção de tapetes de tear e de bolsas e sacolas sustentáveis com o oficineiro Idemar Mendonças.

Prestes a conseguir direito de progressão de regime, P.C.S, 32, afirma que o curso, além de capacitar os detentos, é uma forma de preencher o tempo no presídio. "Foi uma ideia maravilhosa, jamais imaginaria que seria um trabalho bom e que nós conseguiríamos botar em prática", frisa. Para P.C.S, o projeto levado para dentro da casa prisional pode se transformar numa forma de ganhar dinheiro após cumprimento da pena. "Posso fazer para ganhar um dinheiro ou dar de presente para algum familiar. O importante é que ajuda a desenvolver tua mente para fazer outras coisas, não só para ti", observa.

Outro integrante do curso, D.M.M.J, 33, reconhece que as aulas serviram também como terapia para a maioria. "Tenho até ano que vem para ir embora, para estar na rua. A ideia é continuar trabalhando, pois já estou no setor de serviço", destaca. Durante as aulas para produção de tapetes, D.M.M.J lembra que também passou a confeccionar bolsas. "Essa iniciativa serve até para a família ver que o cara está se empenhando. Estar preso não é vida para ninguém", garante.

Psicóloga da Penitenciária Estadual de Porto Alegre, Fabíola Vargas destaca que o curso - que faz parte do Programa Sesc Envolva-se - tem como objetivo qualificar a mão de obra da população carcerária e gerar renda a partir da reutilização de resíduos sólidos na confecção dos produtos. "É uma coisa extremamente importante do tratamento penal. As pessoas vão sair daqui dominando essa técnica. E na rua, se elas quiserem, se não arrumarem emprego porque são ex-presidiários, vão poder fazer tapetes de restos de tecidos em casa, pedir para alguém, e sair vendendo", avalia.

De acordo com Fabíola, de outubro a novembro, os detentos concluíram 30 horas de curso. Durante o período, desenvolveram técnicas inovadoras e variaram a confecção dos produtos. Um dos apenados sugeriu utilizar um bastidor (equipamento utilizado para a confecção das peças) maior. "O bastidor é um quadrado de madeira com pregos, é o instrumento utilizado para fazer tear. Eles produziram mais de dez tapetes. Querem dar para a família, para mãe, esposas", completa.

Gerente do Sesc Comunidade Porto Alegre, Eduardo Danilo Schmitz explica que as ações educativas dentro de casas prisionais são realizadas desde 2016. Schmitz reforça que são usados jeans, sacarias, retalhos de tecidos, entre outros materiais. "A ideia é eles terem nova perspectiva ao saírem daqui, que possam agregar para a sociedade e não retornar a uma vida antiga que não levou para um bom caminho", frisa. "Se a gente usar a criatividade e potencial humano, podemos transformar num produto para ser vendido, gerar renda, com valor estético, cultural e econômico", conclui.

Com experiência de décadas de oficinas de artesanato, Idemar Mendonças reconhece que no início os apenados olhavam o curso com desconfiança, principalmente ao se depararem com agulhas de crochê. Há cinco ano envolvido com o projeto nas casas prisionais, Mendonças afirma que a técnica de trabalho aplicada funciona como recuperação psicológica. "É uma realização para mim e para eles. Se eu não ficar feliz com o trabalho deles, então eu estou perdendo tempo. Eu tenho que vir, me esforçar para eles pegarem e ficar satisfeito que eles desenvolveram. E o resultado é esse", avalia.

Ao passar as técnicas aos detentos, Mendonças se surpreendeu com as alternativas de confecções apresentadas pelos apenados e quantidade de peças produzidas. "Passei a técnica. E foram desenvolvidas bolsas, que eu não tinha passado, e tapete inteiro de 1,20m x 0,90m. Eles criaram em cima da técnica que eles pegaram. Isso me enriquece porque a minha esperança é trabalhar com a recuperação. Já é sinal de que deu certo", observa. Conforme Mendonças, a proposta inicial era cada um fazer dois tapetes. "Eles fizeram muito mais, foi uma média de 9 por pessoa. Esses tapetes podem ser vendidos de acordo com o tamanho, variando de R$ 60 a R$ 150".


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