Dia de comemorar conquistas femininas

Dia de comemorar conquistas femininas

Mulheres vivem e estudam mais do que os homens, mas ainda ganham menos

Cintia Marchi

Dia de comemorar conquistas femininas

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A expectativa de vida das gaúchas passou dos 80 anos, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Elas diminuíram a diferença salarial com os homens, principalmente nos pequenos negócios, segundo o Sebrae/RS. São mais escolarizadas – 20,7% das mulheres ocupadas completaram o ensino superior contra 14,8% dos homens, diz a Fundação de Economia e Estatística (FEE) e o Dieese. Estão em maioria no Brasil (4 milhões a mais) e no Rio Grande do Sul (400 mil). Os números desenham um perfil positivo, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher.

No entanto, os indicadores favoráveis não anulam as barreiras que ainda persistem. Boletim divulgado na quinta-feira pela FEE mostrou que a taxa de desemprego do público feminino (6,6% em 2014) é superior à dos homens (5,4%) e que elas seguem ganhando 24,6% a menos, apesar de terem, em média, um nível de escolaridade superior

Delegadas já somam 30% no RS

Delegada desde 2004, Nadine Anflor, 38 anos, nunca vai esquecer um episódio ocorrido nos seus primeiros dias de trabalho, na DP de Santo Antônio da Patrulha. “Um senhor entrou na delegacia, dei todo o atendimento e expliquei como seria o inquérito. No final, ele me agradeceu e pediu para falar com o delegado”, conta Nadine, achando graça da lembrança. Passados 11 anos, ela acredita que situações semelhantes àquela sejam cada vez mais incomuns. Hoje, as mulheres delegadas respondem por 30% das vagas no Rio Grande do Sul.

Atual vice-presidente da Associação dos Delegados de Polícia do RS – e ela é a primeira mulher em 55 anos de instituição a conseguir esse cargo, Nadine acredita no valor das relações de trabalho formadas por ambos os gêneros. “Não estamos aqui para competir, mas para ocupar o nosso espaço. Entramos neste mundo das armas para combater a criminalidade em pé de igualdade com os homens.”

Agraciada com o Troféu Mulher Cidadã, na Assembleia Legislativa, dia 4, Nadine se destaca no combate à violência contra a mulher. Com o tempo, foi se descobrindo feminista. Mãe há quatro anos, hoje uma de suas preocupações é saber transmitir suas visões de mundo ao filho: “Quero que ele enxergue e promova a igualdade”.

Fazendo a diferença na BM

No final da década de 1980, Nádia Gerhard foi testemunha de um novo ciclo na Brigada Militar. Ela participou da segunda turma de mulheres que ingressou na corporação, onde percebeu as adaptações que foram necessárias para uma convivência agregadora entre os gêneros. “A instituição teve que se organizar e renovar seus quadros porque a sociedade estava mudando. As mulheres acabaram se capacitando não só para o lar, mas para a rua.”

Em 26 anos de BM, Nádia foi a primeira mulher a assumir um batalhão no Interior e na Capital, onde se tornou tenente-coronel, um espaço culturalmente destinado ao universo masculino. Dentro da corporação, conta que nunca encontrou empecilhos para exercer seu trabalho. “Não entrei na BM para me masculinizar. Nunca usei a figura feminina para obter vantagem. Entrei com uma vontade efetiva de fazer a diferença”, diz. Nádia assumiu em 2015 o cargo de diretora do Departamento de Justiça da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos. Pretende ajudar a facilitar o acesso das mulheres à Justiça.

Vitalidade e saúde aos 87 anos

Ter sambado no Porto Seco, em Porto Alegre, e ajudado a Escola Imperadores do Samba a conquistar o bicampeonato do Carnaval 2015 demonstra que envelhecer é mero detalhe para Yara Váttimo Gräbin, 87 anos. Ela está no grupo de gaúchas que já superou a expectativa de vida de 80,3 anos, conforme apontamento do IBGE, em 2014. Nesse quesito, as gaúchas estão muito à frente dos homens. Elas vivem, em média, sete anos a mais.

Yara é exemplo de mulher que vive muito e bem. Apesar de ter que superar a dor da perda do marido há 13 anos e do único filho há oito, ela se encorajou a enfrentar a vida. “Perder um filho é uma coisa horrível, mas tive que me forçar a viver. Quanto mais as mulheres ficam em casa, mais elas querem ficar. Mas eu vejo que elas estão aprendendo a viver melhor.” Hoje, ela vive com a neta, com quem aprende as novidades da nova geração. “Ela tem muito cuidado comigo, teme que eu venha para o Centro”, sorri. Fora de casa, arrumou várias atividades: já fez ioga, hidroginástica e agora é adepta de caminhadas e da dança. “Agora estou aprendendo samba de gafieira”, revela.

Primeira e única negra Miss Brasil


Ela nunca foi esquecida pelo Brasil. Tamanha foi a identificação da porto-alegrense com o povo brasileiro na época em que se elegeu Miss Brasil, em 1986, que Deise Nunes continua a despertar a curiosidade de outras misses: o que ela fez para ainda ter o nome lembrado? Talvez a primeira resposta seja o fato de ela ter sido a primeira – e única – negra a vestir a faixa do concurso. A segunda explicação fica a cargo da própria Deise: “Na época da minha escolha eu trabalhei muito. Fui para todos os cantos que me chamaram. E foi muito bacana. Além de conhecer o meu país, fiz contato com pessoas que, de alguma forma, me acrescentaram”, diz.

Quase três décadas depois do título, continua recebendo convites para eventos. Neste Carnaval, depois de 11 anos, ela voltou ao Sambódromo para desfilar pela Viradouro e União da Ilha, na Sapucaí, Rio de Janeiro. “As escolas falaram sobre o legado do negro no Brasil e sobre beleza. Tudo a ver comigo.” Contrária ao exagero do uso da tecnologia para se comunicar, adepta ao “diálogo cara a cara” e preservando a beleza que a idade não lhe cobrou, Deise tornou-se empresária. Inaugurou uma escola de modelo e acabou por engrossar a lista de empreendedoras gaúchas. A Pesquisa Nacional para Amostra de Municípios de 2011, do IBGE, mostrou que as mulheres representam 29% dos empresários no Estado.

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