Dia Mundial sem Tabaco, os desafios para acabar com o cigarro

Dia Mundial sem Tabaco, os desafios para acabar com o cigarro

Criado pela OMS, data busca conscientizar as pessoas dos danos provocados pelo tabagismo

Christian Buller

Nesta sexta-feira (31/05) é o Dia Mundial sem Tabaco

publicidade

4.377. Este número pode não significar muito para as pessoas em geral. Para Silvestre Silva Santos, 61 anos, é especial. E aumenta a cada dia. É o total de dias que o cigarro deixou de ser um companheiro, há exatamente 11 anos, 11 meses e 25 dias, contagem que costuma postar, com orgulho, nas redes sociais. Seu organismo não foi afetado, mesmo após 36 anos como fumante, mas nem todo mundo tem essa sorte. Criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1987, o Dia Mundial sem Tabaco é lembrado em 31 de maio para conscientizar as pessoas dos danos provocados pelo tabagismo.

Andréia Volkmer, coordenadora do Programa Estadual de Controle ao Tabagismo da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS), informa que Porto Alegre é a terceira capital do país em número de fumantes. Levantamentos apontam que o Rio Grande do Sul, especialmente Porto Alegre, apresenta os maiores índices de tabagismo, tanto do sexo masculino quanto do feminino. Enquanto em capitais como Aracaju os índices ficam abaixo de 10%, em Porto Alegre ficam entre 15% e 17%. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam para um decréscimo de 35% para cerca de 10% de usuários entre a população adulta. “Significa que o tabagismo vem encolhendo, isto é importante, mas ainda temos 18 milhões de fumantes, o que é muita gente”, contabiliza o médico Luiz Carlos Corrêa da Silva, pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Conforme ele, de cada duas pessoas fumantes, uma vai morrer em consequência do tabaco.

Silvestre teve um estalo que o estimulou a não pagar para ver. “Em 6 de junho de 2007, zero grau na rua e eu com 40 graus de febre. Por volta das 3h da madrugada acordei, como de costume, para fumar. Me enrolei em um cobertor e fui ao banheiro. Acendi, sentei no vaso e pensei: ‘O que é que estou fazendo comigo? isso é suicídio’. Abri as pernas, joguei o cigarro dentro vaso e disse a mim mesmo que não fumaria mais. Voltei para a cama e dormi”, relata. Nem a esposa acreditou que seria assim tão fácil. “Foi mais uma motivação para que não voltasse a fumar. O maço de cigarro e o isqueiro ficaram por alguns meses na estante da sala, no lado do televisor”. De fato, facilidade não era bem a palavra. Silvestre, literalmente, batia a cabeça na parede para lidar com falta daquele hábito que abandonara. “No começo, tomava aquelas gotinhas à base de nicotina. Por uns seis meses eu levantava da minha mesa no trabalho, levando a mão ao bolso da camisa para pegar o cigarro”, relembra. Além da contagem – que faz desde os tempos de Orkut -, Silvestre criou uma página no Facebook “Deixei de fumar e parei de beber”. Hoje, com quase 1600 membros, o grupo tem postagens sobre superação de outros ex-tabagistas, inclusive, de outros estados e países. “É legal, para mostrar às pessoas que é possível. Minha mãe, hoje com 84 anos, também parou ao me ver. Uma dúzia de amigos fizeram o mesmo”, comemora.

O médico de família e comunidade da Unidade Básica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Francisco Arsênio de Oliveira destaca a importância da terapia em grupo entre tabagistas dispostos a parar. Trabalha com grupos abertos onde são discutidas formas de lidar com a abstinência da nicotina. Ele explica que o tratamento para o fumante começa com a vontade de parar de fumar. “Cada paciente deve criar o seu método para conseguir parar, descobrir sua principal motivação. Trabalhamos com a disseminação de informações e com medicação. Mas não existe medicação mágica. Se não tiver vontade, não vai parar de fumar. E o mais difícil é permanecer longe do cigarro depois de ter parado”, alerta. Foi justamente o que aconteceu com Silvestre. Encontrou um substituto no paladar, que apareceu após o cigarro tomar conta dos sabores que não sentia. “Comer frutas, beber água e caminhar também são boas saídas. Mas é um processo diário. Atualmente, não tenho vontade de fumar, mas prefiro nem pegar na mão para não facilitar”, conta o ex-fumante. Silvestre corrobora com o médico Arsênio. “As pessoas costumam ter força de vontade de fusquinhas. É preciso ter algumas carretas para deixar o tabaco”.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895