Doses em atraso modificam estratégias de vacinação contra a Covid-19 no RS

Doses em atraso modificam estratégias de vacinação contra a Covid-19 no RS

Mais de 681 mil gaúchos ainda não tomaram a segunda dose, e 2,7 milhões estão com o reforço atrasado

Felipe Faleiro

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Mais de 681 mil gaúchos estão com a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em atraso, número que salta para mais de 2,7 milhões quando se trata da dose de reforço. Os números mostram que ainda há um importante trabalho de conscientização da importância da imunização a ser feito, para frear novas contaminações graves, bem como óbitos pela doença. Mas, como garantir uma cobertura vacinal plena, quando mais de um quarto da população vacinável gaúcha (25,4%) ainda não tomou a dose de reforço, e 6,3% não aplicaram sequer a segunda?

Na esteira do relaxamento das medidas de isolamento, o momento atual vivencia uma internação de crianças abaixo de onze anos de idade como nunca se viu na pandemia. “Esta faixa etária não representava praticamente nenhum percentual dentro das hospitalizações”, comenta Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS). “Temos feito uma comunicação em massa para a população, e um trabalho direto junto às secretarias municipais de saúde. Eles, por sua vez, têm alavancado estratégias que estão dando resultado”, diz. 

O motivo deste sucesso pode ser a busca ativa de não-vacinados, e principalmente o conhecimento mais próximo das especificidades territoriais das comunidades com menores índices de vacinação. Uma destas estratégias é a extensão do horário de funcionamento dos postos de vacinação, mas que não funciona sozinha. “Identificamos alguns municípios onde há formadores de opinião com posição contrária em relação à vacinação. Então, trabalhar isto nestas cidades é importante para que as pessoas tenham um outro pensamento e a confiança na adesão”, comenta Tani.

De maneira geral, a aplicação de vacinas no Rio Grande do Sul vem mantendo uma média variável de 20 a 30 mil doses diárias. E esta busca ativa personalizada tem feito com que mais pessoas acessem o imunizante e adquiram proteção contra a Covid-19. O Estado está aplicando também a quarta dose, na qual o atraso ultrapassa 2,5 milhões de pessoas, embora este índice, neste momento, não seja exatamente preocupante para a Secretaria Estadual de Saúde (SES), por esta vacinação ser relativamente mais recente.

Outro aspecto que interfere na estratégia é o número de doses aplicadas, e que pode gerar um “desgaste” e desconfiança na campanha. “Sem dúvida, o esquema de duas, ou até mesmo com doses de reforço, tende ao longo de uma avaliação causar a diminuição da cobertura vacinal. Quando você tem uma dose só, como a gripe, normalmente observamos uma maior adesão da população ao imunizante”, comenta ela. Mas há um aspecto de desinformação que não pode ser ignorado. 

Em que pese a ciência no mundo todo estar se esforçando na criação de uma vacina universal e preferencialmente de dose única, por ora permanece a regra de que, quanto mais doses aplicadas, melhor. “As pessoas precisam saber que a imunidade não é permanente, nem pela infecção natural, ou mesmo pela vacina. Estar sempre atualizando o sistema imunológico através das doses que são recomendadas, é fundamental para evitar complicações”.

Hoje, a cobertura é mais baixa no RS nas faixas etárias de adultos jovens, de 18 até por volta de 35 anos de idade, na dose de reforço, além de crianças e filhos destes já citados adultos jovens, no âmbito da segunda dose. Apesar disto, segundo Tani, o Estado figura quase sempre nas primeiras colocações no percentual de pessoas vacinadas no país, causando certo alento. “A gente vai continuar trabalhando para tentar resgatar estes percentuais de cobertura, e principalmente passar por este período de maior incidência de doenças respiratórias, que é o inverno”, salienta Tani.

Em Porto Alegre, 87,1 mil pessoas estão atrasadas na segunda dose, 318,8 mil no reforço e 323,2 mil na quarta. A Secretaria Municipal de Saúde diz que, para buscar diminuir estes índices, ampliou os pontos de vacinação para adultos, de 26 para 36 unidades de saúde, das quais oito funcionam em horário estendido, até às 21h. Também conta com a unidade móvel, que circula pela cidade de segunda a quinta-feira, oferecendo os imunizantes da gripe e Covid-19 para crianças e adultos.

MUNICÍPIOS COM MAIS DOSES EM ATRASO

2ª dose

- Cambará do Sul: 21,91%
- Glorinha: 14,98%
- Bento Gonçalves: 12,02%
- Novo Hamburgo: 11,75%
- Taquara: 11,66%
- Redentora: 11,61%
- Tramandaí: 11,58%
- São Leopoldo: 11,41%
- Capão da Canoa: 11,41%
- Canela: 11,18%

3ª dose

- Cambará do Sul: 65,22%
- Harmonia: 64,77%
- Capela de Santana: 58,26%
- Glorinha: 54,71%
- Bom Princípio: 51,21%
- Tupandi: 50,59%
- Fazenda Vilanova: 48,20%
- Colinas: 48,08%
- Santo Antônio do Planalto: 47,86%
- Horizontina: 47,63%

Fonte: SES/RS – Dados de 08/07/2022


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