Duzentos leitos desperdiçados na Capital

Duzentos leitos desperdiçados na Capital

Hospital Parque Belém foi oferecido à Prefeitura para ser usado na mobilização do combate à pandemia de coronavírus

Correio do Povo

Casa de saúde está fechada por dívidas com a gestão municipal

publicidade

Impasses judiciais e falta de repasses impedem que mais de 200 leitos sejam disponibilizados para tratamento da Covid-19 em Porto Alegre. É o caso do Hospital Parque Belém, na avenida Oscar Pereira, bairro Azenha, conforme reportagem desta sexta-feira no Jornal da Record. Fechada desde 2017, a instituição ofereceu à prefeitura, sem qualquer custo, a estrutura física para auxiliar no combate ao novo coronavírus. No entanto, o presidente da casa de saúde, Luiz Augusto Pereira, diz que o ofício, enviado ainda em abril, foi ignorado pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior.


“Com pequenas adequações, o hospital poderá ser usado durante a pandemia”, garante Pereira. A unidade possui centro cirúrgico, camas hospitalares, aparelhos de anestesia, bombas de infusão, respiradores mecânicos e um tomógrafo, equipamento fundamental para o diagnóstico precoce da Covid-19. Atualmente, toda esta estrutura está parada. “Não pedimos nada ao senhor prefeito. Apenas, em nome da população, queremos que ele utilize esta estrutura”, frisa Pereira. Segundo o ofício, o hospital estaria à disposição do Município até dezembro de 2020.

Estes equipamentos poderiam ajudar pessoas como Alda Marques, que testou positivo para a doença. A auxiliar de serviços gerais chegou a esperar mais de três horas para um atendimento no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul para amenizar os sintomas. “Só tinha um médico e, mesmo dizendo que estava com vômitos, me disseram que eu deveria continuar esperando, pois era ‘assim mesmo’. Está horrível, horrível”, relata para a reportagem.

O gestor do Hospital Parque Belém explica que o contrato com a prefeitura foi quebrado porque 800 contas não foram pagas. A ação na Justiça gira em torno de R$ 30 milhões. “O senhor prefeito alega que este hospital recebeu muito dinheiro público e que não entregou os serviços. Contestamos de forma clara e transparente por meio do Poder Judiciário”, afirma Pereira. Segundo ele, a Justiça sinaliza que “quem deve é a autoridade pública municipal e não a Associação Sanatório Belém, que sempre foi transparente em suas ações”, salienta.

Vice-presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Thiago Duarte (DEM) afirma que a prefeitura da Capital recebeu R$ 100 milhões do governo federal e R$ 64 milhões do governo do Estado, mas não abriu novos leitos. Somando os leitos do Hospital Parque Belém aos 150 do Hospital Beneficência Portuguesa e 150 do Hospital Álvaro Alvim, Porto Alegre poderia ter mais 500 leitos ativos e atendendo casos específicos de Covid-19. “Falta transparência (à gestão municipal) na questão dos leitos. As justificativas são mil. Uma delas é de que Porto Alegre não teria médicos para atenderem na UTI. Isso é uma mentira”, dispara o parlamentar.

Duarte também critica a retirada pela prefeitura de mais de R$ 3 milhões do Fundo Municipal da Saúde para despesas de divulgação publicitária durante a pandemia. As três campanhas levaram à abertura de processo de impeachment contra Marchezan na Câmara. “Com este valor, o prefeito manteria a estrutura do Parque Belém aberta por, pelo menos, seis meses”.

A prefeitura informa que “apostou na expansão de estruturas adequadas que já estão ativamente prestando serviços à saúde pública para o atendimento de pacientes da Covid-19”. O Município afirma, ainda, que abriu, desde março, mais de 400 leitos, sendo 260 para UTI, totalizando mais de sete mil leitos.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895