Em tempos de estiagem, Dia Mundial da Água faz alerta para a preservação

Em tempos de estiagem, Dia Mundial da Água faz alerta para a preservação

Ainda que tenha chovido nos últimos dias, 425 dos 497 municípios gaúchos já decretaram situação de emergência em razão da seca persistente

Felipe Faleiro

É o terceiro verão seguido em que há um déficit de volumes acumulados de chuva no Estado, afirma engenheira ambiental

publicidade

O Dia Mundial da Água é celebrado nesta terça-feira. A data, criada em 22 de março de 1992, ou seja, há exatamente 30 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como objetivos a preservação deste recurso natural tão importante à vida, e à reflexão sobre seu caráter limitado, além da luta pela sua distribuição justa.

Em tempos de estiagem severa que atinge o Rio Grande do Sul, a importância da água é ainda maior, haja vista sua escassez em variadas regiões e escalas. Ainda que tenha chovido em alguns dos últimos dias em diversas áreas, 425 dos 497 municípios gaúchos já decretaram situação de emergência em razão da seca persistente.

Na última quinta-feira, dado mais recente disponível, o nível do Rio Gravataí estava em 1,77m no município de Gravataí e 1,17m em Alvorada, ambos considerados normais. O principal fator que fez aumentar a cota do rio foi a chuva de 40mm que caiu no último dia 11 em Alvorada, aliviando a situação crítica anterior.

No Rio dos Sinos, na manhã desta segunda, o nível em São Leopoldo era de 1,12m. A vazão, porém, era de 27,5 m³ por segundo, ainda longe dos 71 m³/s considerados ideais no trecho, conforme o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos).

No Lago Guaíba, o monitoramento da Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) mostrava, nesta segunda, que o nível da água no Cais Mauá estava em 86 centímetros, quando os índices considerados normais são de 1,2 metro. A engenheira ambiental e hidróloga da Sala de Situação, Marcela Nectoux, afirma que este é o terceiro verão seguido em que há um déficit de volumes acumulados de chuva no Rio Grande do Sul. “Temos episódios de chuva acontecendo, mas são muito isolados e não melhoram a condição dos rios. Inclusive, noo mais recente informativo especial de estiagem, desta segunda-feira, houve uma piora dos índices sobre a semana anterior”, afirma ela.

Na visão do geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (Comitê Gravatahy), os baixos índices atuais dos principais rios que passam pela Região Metropolitana demonstram que há mais do que apenas dificuldades no aspecto do abastecimento. Há, conforme ele, um desequilíbrio político relacionado ao assunto. “Nós temos, desde 1934, o Código das Águas Brasileiro, e o Rio Grande do Sul criou, em 1994, o Plano Estadual de Recursos Hídricos. Mas a falta de chuva é uma consequência da falta de políticas públicas de água”, argumenta ele.

Conforme ele, “não temos um sistema funcionando e parece não haver o interesse de uma gestão de água subterrânea, por exemplo, venha a funcionar”. “Quando você vai olhar os Orçamentos municipais, são estruturas que não dão atenção para a água de abastecimento humano. E isso gera um efeito dominó a nível de políticas de Estado e nacional”.

Neste ano, o tema do relatório da Unesco para o Dia Mundial da Água é águas subterrâneas. O documento será lançado nesta terça. Conforme o órgão das Nações Unidas, quase 50% da população urbana mundial depende de fontes de água provenientes delas. 

O Rio Grande do Sul é abastecido, em grande parte, pelo Aquífero Guarani, que também está abaixo dos territórios de parte da Argentina, Paraguai e Uruguai, e ocupa uma área total de 1,09 milhão de km², conforme a Organização dos Estados Americanos (OEA). Cardoso comenta, por fim, que o Dia Mundial da Água tem sua importância e merece destaque, mas, para ele, “todo dia é dia de água”. “Todo dia se toma banho, se abre uma torneira, se toma água, se irriga uma plantação. Não tem mais porque ficarmos fazendo este debate no dia 22. Gostaríamos que todo dia fosse o dia da água porque esta é uma necessidade diária de todos”, diz o geólogo.

Marcela comenta que as mudanças climáticas em curso também interferem neste aspecto. Embora, no futuro, os estudos indicam que pode haver mais precipitações sobre o Estado, elas devem vir de forma mais extrema, potencializando inundações em um lado e estiagens em outro. Para ela, o governo acertou ao criar mecanismos como a própria Sala de Situação, cujas observações constantes do clima baseiam políticas públicas. “Por mais que acredite que precisamos avançar no aspecto da segurança hídrica, precisamos ter este fundamento para tomar decisões. A mudança climática vai nos acompanhar. Precisamos entender melhor e nos preparar sempre”, diz Marcela.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895