Emergência pediátrica do Clínicas enfrenta superlotação após fechamento do setor no Conceição

Emergência pediátrica do Clínicas enfrenta superlotação após fechamento do setor no Conceição

Na quarta-feira, área dedicada às crianças no HCPA chegou a ter uma superlotação de 177%

Gabriel Guedes

Fechamento da emergência pediátrica do Hospital Conceição aumentou o número de pacientes no Hospital de Clínicas

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O fechamento temporário da emergência pediátrica do Hospital Conceição, no dia 22, devido a um surto de Covid-19 na equipe médica, deixou cerca de 250 pacientes por dia sem atendimento na instituição da zona Norte de Porto Alegre. Os reflexos praticamente foram sentidos de imediato na rede de saúde da Capital. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), na quarta-feira, por exemplo, chegou a ter uma superlotação de 177% no setor dedicado às crianças, recebendo inclusive três pacientes do Conceição.

O número de consultas também aumentou 40% depois da suspensão serviço pelo surto. A emergência do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas opera com 75% da capacidade, com seis dos oito leitos ocupados. As três instituições atendem no sistema "portas abertas", em que os pacientes não são recusados, mesmo com a infraestrutura no limite.

Soma-se a isso, o esquema de funcionamento do Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Misericórdia, que há um ano só recebe pacientes encaminhados pelas unidades de saúde de Porto Alegre. Apenas a emergência pediátrica do Hospital da Restinga, na zona Sul, está operando aquém da capacidade, com dois dos seis leitos ocupados.

A chefe do Serviço de Emergência e Medicina Intensiva Pediátrica do HCPA, médica Patrícia Miranda Lago, diz que a equipe já está acostumada a trabalhar sempre com um número excessivo de pacientes, mas disse que depois que fechou a emergência pediátrica do Conceição, a situação se deteriorou.

"Temos nove leitos e chegamos a ter 16 crianças internadas. Uma lotação de 150%. Continuamos com 15 desde quinta-feira. Mas o novo espaço da emergência, mais amplo, ajuda a atender bem. Depois do fechamento do Conceição, tivemos também um aumento de 40% nas consultas", detalha. 

Patrícia explica que a pandemia mudou o perfil das crianças que chegam à emergência. "Teve um impacto em doenças não-covid. Com as escolas fechadas elas não estão vindo com problemas respiratórios, como bronquiolite, amigdalite e otite. Mas temos recebido por crises compulsivas e pacientes com doenças crônicas", afirma a médica do Clínicas.

E como o fluxo de pacientes se mantém, apesar desta diferença, muitos deles acabam sendo internados, o que também acarreta na lotação das unidades pediátricas. O HCPA conta com 56 leitos e todos estão lotados.

Em outros anos, o Hospital da Criança Santo Antônio seria reforço importante numa situação destas. Mas desde janeiro de 2020, a emergência SUS (Sistema Único de Saúde) do Hospital da Criança Santo Antônio é referenciada, ou seja, recebe somente pacientes triados pela atenção básica de saúde da Capital. Além disso, os atendimentos de emergência na instituição para usuários do IPE Saúde destinam-se aos pacientes já em tratamento regular na Santa Casa, como transplantados, pós-operatórios, oncológicos e portadores de doenças crônicas em acompanhamento ativo na instituição.

A alteração, de acordo com nota da instituição, se dá em decorrência de obras de modernização de diversas áreas SUS do hospital. As reformas iniciaram no final de 2019 e contam com recursos públicos, aprovados pela Caixa Econômica Federal, em um investimento de R$ 10.641.000. O prazo de término é de 24 meses.

A gerente de internação do Hospital da Criança Conceição, Lucia Osório, diz que o surto ainda continua, com pelo menos 15 médicos se recuperando da Covid-19. Inicialmente, no dia 21, quando a situação veio a público, 13 dos 38 médicos estavam infectados. "Fechamos no dia 22 e no dia 2 reabre. A população tem que procurar os postos de saúde ou outras instituições para casos que não sejam graves. Cirurgias eletivas estão suspensas, mas de emergência ainda são realizadas, sim", conclui Lucia.


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