"Erramos no começo", dizem especialistas sobre a Covid-19 no Brasil

"Erramos no começo", dizem especialistas sobre a Covid-19 no Brasil

País já ultrapassou a marca de 103 mil mortes em decorrência da doença

Jessica Hübler

RS é o 16º estado brasileiro com maior número de casos da Covid-19 e o 11º em número de óbitos

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Após 150 dias da primeira morte oficial por Covid-19, o Brasil já registra 103.026 óbitos por conta da doença, além de 3.109.630 casos confirmados, sendo 52.160 registrados nos sistemas nacionais entre segunda e terça-feira. A vítima foi uma mulher de 57 anos, que havia sido internada no Hospital Municipal Dr Carmino Caricchio, em São Paulo, no dia 11 de março. O óbito em decorrência do novo coronavírus foi confirmado por exames laboratoriais.

Na última semana, o País ultrapassou a marca de dois milhões de recuperados: são 2.243.124 de pessoas curadas do novo coronavírus. O número de pessoas curadas no Brasil é superior à quantidade de casos ativos (763.480), que são os pacientes que estão em acompanhamento médico.

O registro de pessoas curadas já representa mais da metade do total de casos acumulados (72,1%). As informações foram atualizadas no fim da tarde de terça-feira e foram enviadas pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. A doença está presente em 98,8% dos municípios brasileiros. Contudo, mais da metade das cidades (3.838) possuem entre 2 e 100 casos. Em relação aos óbitos, 3.627 municípios tiveram registros (65,1%), sendo que 768 deles apresentaram apenas um óbito confirmado.

Preocupação

De acordo com o doutor de Epidemiologia e professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry, os especialistas avaliam com preocupação o cenário nacional. “Foi tudo muito rápido se a gente considerar que o primeiro caso notificado foi em 26 de fevereiro e a primeira morte em 12 de março, agora temos mais de 103 mil mortes. Nunca vimos na humanidade uma evolução tamanha, e tão rápida, foi uma coisa surpreendente”, define.

Conforme Petry, o Brasil tem uma taxa de crescimento do número de óbitos de aproximadamente 1,5% ao dia. “Quando falamos isso, parece pouco, mas pelo universo de pessoas que somos, é muito. A média móvel de mortes está em torno de 1 mil e não está baixando, nós estacionamos lá em cima, é um fato realmente muito preocupante", diz.

"Os números são muito grandes e são pessoas, são famílias, é uma coisa concreta. a maioria das pessoas fica bem e nem agrava a doença, é ótimo que seja assim. mas no universo populacional como o Brasil, 210 milhões de habitantes, a letalidade, que é quem morre entre os que adoecem, fica em menos de 2%, mas nesse mar de gente 2% já chegamos a 103 mil mortes. O percentual parece pequeno, mas ele embute muita gente e isso é extremamente dramático”, reitera.

“Erramos no começo”

Além do contexto oficial, Petry ainda lembra que a cada caso notificado é possível que tenhamos, de fato, pelo menos dois ou mais. “Se pensarmos especificamente nos casos notificados, que já passam de 3 milhões, se multiplicar por dois chegamos a quase 7 milhões. Esse número real é muito maior”, comenta.

Para Petry, o maior erro foi cometido ainda no início da pandemia, quando os primeiros casos começaram a ser registrados. “Erramos no começo, porque o vírus chegou especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde temos os principais aeroportos internacionais. Se nós tivéssemos feito no início o teste dos passageiros e o isolamento daqueles com diagnóstico positivo, além do rastreamento dos contatos, teríamos conseguido segurar isso bem melhor”, enfatiza.

Conforme Petry, a estratégia de testar, isolar e rastrear os contatos é um princípio epidemiológico. “Isso é básico e não foi feito”, assinala. Para tentar amenizar a situação atual, Petry destaca que é preciso continuar com as medidas de intervenção não farmacológicas, que incluem o isolamento e o distanciamento social, além do uso de máscaras, higiene frequente das mãos e evitar as aglomerações. “Já estão liberando tudo de novo, isso é um erro, vai ter uma repercussão”, pontua, referindo-se ao Rio Grande do Sul. 

O Rio Grande do Sul é o 16º estado brasileiro com maior número de casos da Covid-19 e o 11º em número de óbitos em decorrência da doença. Até a tarde dessa terça-feira, o Estado contabilizava 87.415 casos confirmados do novo coronavírus e 2.472 mortes. Em Porto Alegre eram 10.421 casos confirmados, 9.635 suspeitos e 475 óbitos. “Estamos em uma curva ascendente, outros estados já estão declinando. acho que estamos vivendo o pico agora, nesses próximos dias talvez ainda aumente”, explica.

“Imunidade de rebanho”

Uma epidemia se estabiliza, segundo Petry, quando se atinge a chamada “imunidade de rebanho” e o vírus não encontra pessoas para circular, então ele vai estacionando. “Mas essa imunidade de rebanho ela gira em torno já se aceita até um pouco menos de 40% da população e estamos longe disso e já é esse caos. Não vamos atingir nunca, a menos que morra muita gente, e não é o que se quer. Então a nossa solução é a vacina”, declara. 

Com relação aos próximos 150 dias, Petry diz que existem projeções mostrando que o mês de agosto deve ser bem difícil, com curva crescente e o início do declínio seria a partir da primeira quinzena de setembro. “São estimativas e tudo pode mudar, porque depende do comportamento das pessoas. Temos o exemplo da Europa, baixou muito, mas agora embora seja verão, os casos estão voltando. Não podemos nos descuidar. Uso de máscara, evitar aglomeração, higiene de mãos, isso não vai parar enquanto não tiver a vacina disponível para grande parte da população. Não dá pra baixar a guarda, esses países têm mostrado isso", reforça.

Até 2 de agosto, o Brasil ocupava a 2ª posição em relação ao número de casos (2.707.877) e ao registro de óbitos (93.563). Contudo, quando considerado o parâmetro populacional, por milhão de habitantes, entre os países de todo o mundo, o Brasil ocupa a 9ª posição em relação aos casos (12.885) confirmados e a 10ª em relação aos óbitos (445). A medida populacional é a taxa padrão para comparações entre os países. O Ministério da Saúde informa que o governo mantém esforço contínuo para garantir o atendimento em saúde à população, em parceria com estados e municípios, desde o início da pandemia.


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