Especialista afirma que Covid-19 está em ascensão no Brasil

Especialista afirma que Covid-19 está em ascensão no Brasil

André Kalil criticou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada e garantiu que prevenção é a melhor saída

Felipe Samuel

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Com as taxas de ocupação de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) se mantendo acima dos 90% em Porto Alegre e na iminência de a prefeitura anunciar lockdown, o infectologista André Kalil, que atua há 20 anos na Universidade de Nebraska (EUA) e lidera o ensaio clínico considerado mais promissor para a cura do novo coronavírus, afirma que a doença ainda está em ascensão no Brasil e nos Estados Unidos. 

Em debate promovido nesta segunda-feira pela Escola de Saúde La Salle | Santa Casa, com o tema “Os novos caminhos para a saúde diante da pandemia”, o especialista explica que para conter o avanço da doença e o aumento do número de mortes por conta da Covid-19 é preciso cumprir medidas consideradas fundamentais: manter distanciamento social, usar máscaras, evitar aglomeração e lavar as mãos com frequência. 

"Covid-19 está matando rapidamente milhares de pessoas. Não é fantasia, não é uma opinião de rede social ou opinião política. As pessoas estão morrendo dessa infecção viral", alerta.

Testes e rastreamento

Em videoconferência com o diretor médico e de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Antonio Nocchi Kalil, o infectologista destaca a importância de conter a disseminação do vírus a partir da testagem em massa e do rastreamento da doença. 

Conforme André, é importante ampliar a testagem para salvar vidas e melhorar a economia. "Não existe mentalidade política em qualquer país de realmente investir na testagem e rastreamento. O problema disso é que ficamos no 'escuro', como vamos abrir a economia? Estamos no 'escuro' aqui nos Estados Unidos e no Brasil", observa.

Ao comentar a situação de Porto Alegre, André afirma que o sistema de saúde está quase no limite da capacidade de ocupação de leitos hospitalares. "Imagina se essa infecção se alastra para o resto da população. Vão morrer milhares de pessoas, porque o sistema de saúde está quase no limite", destaca.

Ele garante que a chamada imunidade de rebanho também poderia acentuar os problemas. "Esse é o problema de se deixar o vírus simplesmente 'solto'. Vamos assumir que 1% da população morra, estamos falando de milhões de pessoas, pois 1% já é muito. As pessoas vão morrer não só do vírus, mas do fato de não poder ir para o hospital", justifica.

Prevenção é a melhor saída

Ao ressaltar que a Covid-19 é um dos vírus mais contagiosos de que se tem notícia, André também criticou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, como a hidroxicloroquina, e garantiu que a prevenção é a melhor saída. "Isso é um problema gravíssimo, porque expôs pacientes a drogas sem nenhum tipo de eficácia", alerta. 

Ele reforçou a importância de usar máscaras e manter distanciamento social. "É muito importante as pessoas entenderem que não há dúvida nenhuma de que uma pessoa infectada, sem sintomas, simplesmente conversando com a outra, está expelindo vírus vivo, replicante e contagiante", completa.

De acordo com André, o antiviral remdesivir tem eficácia comprovada para tratamento emergencial contra a Covid-19, com efeito direto para evitar replicação do vírus e ajudar no tempo de recuperação do paciente. "Estudos indicam que houve redução dos sintomas clínicos e recuperação mais rápida dos pacientes", garante. 

O especialista acredita que até o começo próximo ano possa ser desenvolvida uma vacina. "Temos que ser realistas, até hoje na história humana as vacinas têm demorado de 4 a 5 anos para atingir ponto de maturidade e efetividade. Se conseguir até final do ano vai ser recorde na história médica", conclui.

RS vive momento crítico

No que diz respeito ao Rio Grande do Sul, Antonio Kalil afirma que o Estado vive momento crítico, apesar da abertura de novos leitos de UTI. "O que a gente observa é que não adianta só abrir leitos, porque eles vão tendo ocupação muito rápida", afirma.

Ele reforça o apelo para que a população mantenha distanciamento social para evitar a disseminação do vírus e impedir o lockdown na cidade. "É extremamente importante que a gente tenha consciência, não estamos querendo assustar, mas se não houver distanciamento, talvez a única forma de parar tudo seja um lockdown, o que nós estamos buscando evitar", explica.


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