Essenciais: o trabalho silencioso de quem limpa os hospitais na pandemia

Essenciais: o trabalho silencioso de quem limpa os hospitais na pandemia

Novo capítulo da série do CP mostra os cuidados redobrados dos profissionais de limpeza hospitalar

Felipe Samuel

Pessoas que trabalham em serviços essenciais em meio à pandemia

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A limpeza das dependências de hospitais de grande porte é uma tarefa que exige organização e planejamento. Com o avanço do novo coronavírus na Capital, profissionais da saúde redobraram os cuidados diários no local de trabalho e em casa. Para garantir a manutenção de serviços essenciais e evitar a disseminação de doenças num ambiente que reúne pacientes com diferentes enfermidades, um batalhão de profissionais de higienização é mobilizado todos os dias. O trabalho silencioso e discreto.

As mudanças provocadas pelo impacto da chegada da Covid19 no RS tiveram efeito no dia a dia de Lisiane da Silva da Rosa, 38 anos, que há cinco anos trabalha no setor de Higienização do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC). Acostumada às exigências do protocolo de limpeza do hospital, Lisiane atua no centro de triagem instalado próximo ao HNSC. Ela garante que os cuidados na higienização foram reforçados, como a exigência de fardamento laranja, que faz parte do isolamento. Após utilizada, a roupa é descartada. “A nossa higienização tem que ser muito mais cuidadosa, preventiva”, observa.

 Em casa, as mudanças foram sentidas nas relações com o filho Bryan, de 10 anos, e o marido Carlos. Ao chegar na residência após o trabalho, Lisiane repete o exemplo da maioria dos profissionais da saúde e deixa os sapatos do lado de fora. “Deixo todo um equipamento preparado dentro de casa para ir para o banheiro tomar banho, desinfectar e depois ter convívio com a família. As rotinas mudaram, a gente está conversando dentro de casa, mas de maneira mais afastada”, reconhece.

No começo, os familiares estranharam as ações preventivas, mas passaram a adotar os mesmos cuidados de higiene de Lisiane. “Até eles entenderem que é uma medida de precaução está sendo bem difícil”, avalia. Ela reconhece que a demanda por trabalhos de higienização no hospital com a chegada da Covid-19 lançou luz sobre a importância desses profissionais. “O reconhecimento está sendo bem maior, é gratificante, apesar de a gente ter que abandonar toda a família para estar aqui lutando por um todo”, destaca. A colega do setor de Higienização, Lisiane Fernandes, 41 anos, que atua na emergência, afirma que os cuidados com proteção são similares aos adotados por médicos e técnicos.

Como as orientações para evitar a propagação do coronavírus são atualizadas com frequência, os funcionários do setor procuram se adaptar rapidamente às normas. No convívio com a família, as mudanças foram radicais. O marido Adriano e o filho Cristian, 15, só têm contato com Lisiane Fernandes após um ritual que tem início numa ‘casinha nos fundos’ da casa onde mora. No local, que não era usado e conta com banheiro, Adriano instalou um chuveiro. “Meu filho já deixa a roupa lá. Chego, tomo banho, lavo minha roupa”, explica. Ela também mantém distância do pai Valdir, que tem 66 anos e sofre do Mal de Parkinson e, portanto, pertence ao grupo de risco. “Tenho esse cuidado com ele. Aviso que vamos acumular beijos e abraços para depois do coronavírus”, completa.

Confiança na equipe

À frente do serviço de Higienização do HNSC desde 2017, Alexsandra Costa da Silva conta com 441 servidores. Ela destaca a confiança que mantém no grupo. “Qualquer um vai dar uma aula sobre como combater o coronavírus no hospital, porque ele sabe o que está fazendo”, elogia. Alexsandra observa que os profissionais do setor participam do ‘giro do hospital’ e compreendem a importância da função deles. “Muitas vezes o paciente com coronavírus pode estar disfarçado numa visita e gerar contaminação. Há um excesso de cuidado e isso está nos garantindo proteção”, justifica.

Diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição, Francisco Paz explica que os servidores desse setor são fundamentais. “Pessoal da higienização tem que ser muito atuante, tecnicamente bem orientado e também tem que se proteger. Ao fazer essa limpeza eles têm que estar protegidos para não adquirir a doença, por isso usam roupa própria”, afirma.


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