Exames de DNA podem indicar risco de 50 doenças

Exames de DNA podem indicar risco de 50 doenças

Mapa da vida ainda não é muito procurado no Brasil devido ao valor

Mauren Xavier / Correio do Povo

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Imagine que com uma pequena quantidade de sangue e de células bucais você poderá ter acesso a um mapeamento com o nível de probabilidade de desenvolver cerca de 50 doenças consideradas comuns, como alguns casos de câncer, diabete ou até o risco de um infarto. Bem longe dos filmes de ficção científica, a identificação da composição do DNA já permite.

Apesar disso, o recurso é pouco popular no Brasil, já que atualmente há poucos locais com condições de fazer esse tipo de "check-up do genoma". Um deles é o Laboratório Gene, que tem sede em Belo Horizonte (MG) e filiais em São Paulo (SP) e Brasília (DF). A avaliação do material genético, que demora entre 45 e 60 dias, tem sido procurada com mais frequência. Um dos fatores de o exame não ser tão popular pode ser o custo: quase R$ 5 mil. A coleta é feita pela própria pessoa e encaminhada pelos Correios.

Segundo a bióloga da clínica, Ana Helena Heller, a análise utiliza-se dos marcadores do DNA para indicar a probabilidade de uma pessoa desenvolver determinada doença. "É preciso enfatizar que isso é uma possibilidade. Não significa que ela terá." A importância dessa ênfase se deve ao fato de que o mapeamento serve como orientação. "É uma maneira de, com essas informações, a pessoa adotar medidas para ter mais qualidade de vida e cuidados com determinados pontos."

É com base nesse cuidado de interpretação que, com o resultado, o cliente tem direito a uma consulta de acompanhamento genético, com o responsável da clínica, Sérgio Pena - um dos pioneiros na genética no Brasil.

Para a geneticista da Ufrgs Lavínia Schüler Faccini, a procura pelos testes genéticos cresceu no país. Ela lembra que nos Estados Unidos, por exemplo, eles são bem mais acessíveis e populares. Mesmo assim, ressalta que a informação do exame é inútil sem o aconselhamento. Isso porque a genética indica apenas possibilidades. Na avaliação de Lavínia, os testes devem ser feitos tendo como base uma preocupação prévia e, mesmo assim, com aconselhamento.

Prova definitiva de paternidade


Se o DNA tem a capacidade de projetar o futuro, ele também é uma prova incontestável sobre a origem familiar de cada um. Assim, a partir da década de 1990, o teste de DNA para confirmar a paternidade e, em poucos casos, a maternidade, se popularizou. Com rapidez e praticidade, se tornou a prova definitiva, principalmente aceita nos casos judiciais. Por meio da Defensoria Pública do Estado (DPE), é possível realizar o teste sem custos. De acordo com a DPE, em 2011 foram realizados 1.425 exames gratuitos no Rio Grande do Sul. Desses, 803 foram por decorrentes de processos judiciais e 622 extrajudiciais. Isso representa uma média de 118,75 testes por mês.

Nos primeiros quatro meses de 2012, foram realizados 405 exames. O número, porém, poderia ser bem maior, mas uma das dificuldades é o não comparecimento de uma das partes envolvidas no processo. Apenas no mês de março, foram encaminhados 155 pedidos. Desses, 80 foram realizados. Na DPE, as solicitações entram por meio de um dos nove polos: Alegrete, Caxias do Sul, Ijuí, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Cruz e Santa Maria.

Mesmo assim, a solicitação pode ser feita em qualquer uma das comarcas da DPE, que tem autorização para encaminhar 260 pedidos mensais. O maior número (cem exames) está concentrado em Porto Alegre. Em média, o laudo leva um mês. Os casos mais demorados são os de sucessão familiar. Os exames são feitos no Laboratório de Investigação de Paternidade, na Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde. O único caso não autorizado pela DPE é o que envolve exumação.

Dados de criminosos integram banco

A identificação de criminosos por meio do DNA não é novidade no Brasil. Porém, a criação de bancos de dados com os registros de criminosos promete trazer benefícios às investigações criminais. Com base na lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff, que entrará em vigor a partir de novembro, os dados de DNA de criminosos poderão ser cruzados em um banco.

Atualmente, explica o presidente da Associação Nacional de Peritos Criminais Federais do Departamento da Polícia Federal, Hélio Buchmüller, só é possível coletar informações com morte no local de crime. Com o banco de DNA de criminosos, será permitido o cruzamento de todos os dados, independentemente do local e do tipo de crime.

Para ele, isso trará maior precisão, em função da análise do DNA, e agilidade na pesquisa no banco de dados, que reunirá os dados. "Em pouco tempo isso representará economia e otimização dos recursos tanto financeiros como humanos." Outro ponto de destaque é o de evitar que pessoas inocentes sejam condenadas com base em provas, como depoimentos e reconhecimentos, que nem sempre são precisos. Buchmüller ressalta que o país tem laboratórios de genética forense capacitados e em amplo funcionamento. A partir de 2009, houve acordo com o FBI, dos Estados Unidos, para a utilização de software, e, no ano seguinte, ocorreu a capacitação com equipes em 15 estados, inclusive o RS, e na Polícia Federal.


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