Exemplo do Chile alerta para necessidade de vacinação rápida, indicam especialistas

Exemplo do Chile alerta para necessidade de vacinação rápida, indicam especialistas

Imunização no país sul-americano avança constantemente, mas casos de Covid-19 seguem crescendo em meio a variantes e alta circulação do vírus

Jessica Hübler

As unidades de tratamento intensivo na região da capital estão operando com 98% da capacidade

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Um novo lockdown foi anunciado pelas autoridades sanitárias do Chile após a divulgação dos piores números de novos casos de Covid-19 desde o início da pandemia, apesar de o país já ter vacinado mais da metade de sua população. O número diário de casos confirmados disparou 17% nas últimas duas semanas em todo o país e 25% na região metropolitana que inclui Santiago, onde está concentrada metade da população. 

As unidades de tratamento intensivo na região da capital estão operando com 98% da capacidade. O presidente da Federação Nacional de Associações de Enfermagem do Chile (Fenasenf), José Luis Espinoza, disse que seus membros estão "à beira do colapso". A situação é preocupante justamente porque o Chile tem uma das maiores taxas de vacinação do mundo, com cerca de 75% de seus 15 milhões de habitantes com pelo menos uma dose da vacina e cerca de 58% estão completamente imunizados.  

De acordo com a biomédica, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e divulgadora científica pela Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, o caso do Chile é simbólico principalmente porque quase 60% da população já está vacinada com duas doses e, mesmo assim, eles estão observando um aumento de casos. "Isso se dá porque esse percentual ainda está longe dos 75% a 80% que é estimado para ter uma boa cobertura vacinal, há especialistas comentando que talvez seja necessário chegar a 85% por conta das variantes de alta transmissibilidade que circulam por aqui", afirmou.

Segundo o cientista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, quanto mais circula vírus, mais aumentamos o risco das pessoas contraí-lo. Os vacinados têm um risco muito menor de se infectar, mas o risco deles aumenta se aumentamos o risco da comunidade como um todo. "A vacina funciona e é efetiva, a cobertura vacinal será a nossa saída disso, mas se ficarmos transmitindo como se não houvesse amanhã, mais trabalho a gente dá pra vacina e maior tem de ser a cobertura, isso não pode ser confundido com não funcionamento da vacina", pontuou.

Casos aumentaram junto com mobilidade

Conforme Mellanie, é possível observar que a mobilidade urbana no Chile aumentou consideravelmente entre os meses de outubro de 2020 e janeiro de 2021, quando a vacinação ainda não estava avançada e que, atualmente, o país segue com grau de mobilidade elevado. "Isso coincide com esses estouros dos casos, então o que vemos é o que a gente já sabe: quando a mobilidade aumenta temos as pessoas, que são os vetores da doença, se movimentando mais, tendo uma frequência de encontros com outras pessoas maior e isso significa que com a mobilidade alta há aumento do risco de transmissão, porque os vetores circulam mais e a chance de alguém infectado encontrar algum suscetível, que são pessoas não vacinadas ou só vacinadas com uma dose, é maior", ressaltou.

Portanto, segundo Mellanie, apesar de uma boa taxa de vacinação, ainda é fundamental que toda a população continue adotando as medidas de prevenção indicadas desde o início da pandemia como distanciamento social, uso de máscara, higienização frequente das mãos e evitar aglomerações de todos os tipos. "Com muitas pessoas aglomerando, a chance dos encontros e da consequente contaminação aumenta e é isso que vai construindo a próxima onda, por isso se não controlarmos a transmissão através das medidas de prevenção não farmacológicas enquanto estamos buscando a cobertura vacinal, ainda corremos o risco de ter surtos da doença, aumento de casos e consequentemente uma onda", enfatizou.


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