Família diz ter sido lesada por diretor de time que pediu ajuda em sinaleiras de Porto Alegre

Família diz ter sido lesada por diretor de time que pediu ajuda em sinaleiras de Porto Alegre

Vaga reservada à equipe havia sido cancelada pelo não-pagamento da inscrição

Felipe Faleiro

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O Centro de Formação de Atletas (CFA) InterNorte, do bairro Santana, em Porto Alegre, arrecadou dinheiro em sinaleiras da Capital e inclusive fez uma campanha com a Stock Car, recebendo o macacão de um piloto da categoria automobilística para leiloar posteriormente, com o intuito de viajar a um campeonato de base no estado de São Paulo, mesmo sabendo que a vaga reservada à equipe havia sido cancelada, pelo não-pagamento da inscrição.

O time pretendia participar da 12ª Copa Eco Turística Mercosul de Futebol Armando Netto, na cidade de Rancharia, no Oeste de São Paulo, entre os dias 9 e 15 de julho. Ao manifestar à organização o interesse em participar, a equipe foi às redes sociais e às ruas em busca de arrecadar R$ 58 mil, valor necessário para transporte, alimentação e hospedagens dos 42 jovens de comunidades carentes, mais a comissão técnica.

A empresa WM Show de Bola, organizadora do torneio, disse que “no dia 25 de junho, eles (InterNorte) já não tinham mais a vaga reservada por falta de pagamento”. A equipe cancelou oficialmente a vaga no dia 26, ainda segundo a WM. Porém, tanto a vaquinha virtual seguiu, quanto ações posteriores, como um evento em conjunto com a Stock Car, no dia 2 de julho. Nela, os pilotos interagiram com jogadores do InterNorte. Na ocasião, o piloto Allam Khodair doou um macacão, cujo valor arrecadado em leilão seria revertido em prol da viagem.

Nas próprias redes sociais da equipe, é possível ver postagens de 5 de julho mostrando que a ação junto à Stock Car seria para "ajudar a viajar para São Paulo". O coordenador da InterNorte, jornalista Dílson Valencio Mendonça, se defende. Segundo ele, a família de um goleiro, que "não pertence ao time e apenas iria junto ao torneio", quis "tumultuar", inclusive com um suposto episódio de “intimidação a outro atleta”. O menino em questão, cujo nome não será divulgado, até então treinava em separado no clube, inclusive com treinador próprio para a função, afirma ele.

Dílson conta que, para concretizar a viagem, a coordenação criou metas, somando a vaquinha virtual mais as ações nas sinaleiras. Para cada jogador, foi instituído o valor de R$ 1.017,00, com possibilidade de parcelamento. No caso dos semáforos, a divisão da arrecadação era feita somente aos atletas participantes da atividade. Já na vaquinha virtual, ele afirma que, se cada jovem pagasse R$ 150,00, teria também direito ao rateio do que havia sido arrecadado, no final das contas.

Só que não foram alcançados os valores para ir ao torneio de São Paulo, tampouco para um posterior, em Goiás, oferecido pela organização. A família do goleiro, de acordo com Mendonça, não teria aceitado este formato, e queria receber os valores “mesmo sem ir nas sinaleiras”. A respeito da Stock Car, o diretor do time afirma que o leilão do macacão de Allam Khodair ainda será feito, conforme combinado com a plataforma virtual Play for a Cause, indicada pela própria categoria automobilística. Todo o dinheiro, diz Mendonça, será para o custeio da equipe.

Procurada, a mãe do goleiro, a desempregada Miriam Regina Guilherme, afirma que começou a desconfiar da história quando pediu a autorização do torneio de Goiás, para declarar em cartório, e recebeu o documento referente ao torneio de São Paulo, assinado pelo filho. Conforme ela, esta assinatura serviria para o segundo torneio, assim como um simples vídeo dos pais autorizando a ida. O time não chegou a ser inscrito para o torneio de Goiás. 

"No ônibus, eles tinham que ter a autorização assinada pelos pais, só que nenhum dos atletas tinha, porque ele (Mendonça) não deu. Ligamos para saber dos campeonatos e soubemos que eles haviam cancelado", afirma. A mãe do atleta diz ainda que, assim que soube do contato da família com a WM, Mendonça tentou jogar a responsabilidade da ausência no torneio de São Paulo em seu filho. A família dele pagou, segundo ela, os R$ 150,00 para ter direito à arrecadação da vaquinha, e coletou nas sinaleiras R$ 377,00, mas R$ 490 ainda ficaram para trás. 

Os familiares prometeram quitar o valor quando houvesse a certeza da viagem, mas, ao saber que a equipe não iria para o torneio, se recusaram a pagar, e expuseram a situação em um grupo de pais no WhatsApp, que acabou privado pelo coordenador. Ela afirma ainda ser "mentira" que tenha havido qualquer tipo de intimidação, e disse que o filho esteve presente nas ações nos semáforos de Porto Alegre, inclusive constando em fotografias. 

“Pagávamos um treinador de goleiro porque na sede do InterNorte não tinha. O treino também não é o mesmo", diz. "Ele (Mendonça) silenciou o grupo dos pais e só ele falava mal de nós, além de também não nos receber", denuncia Miriam. "Não demos parte na polícia, mas pensei mesmo nos pais que pagaram tudo. Vamos esperar para ver o que ele tem para nos dizer. Pretendo falar com ele com hora marcada".


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