Filho passa madrugada na fila do drive-thru para garantir vacina para mãe, em Porto Alegre

Filho passa madrugada na fila do drive-thru para garantir vacina para mãe, em Porto Alegre

Psicólogo Thomas Becker virou a noite dentro da sua kombi até a hora do início da imunização 

Jessica Hübler

Becker foi para a fila na madrugada para garantir a aplicação do imunizante para mãe

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A expectativa pela aplicação da segunda dose da vacina contra a Covid-19 motivou o psicólogo Thomas Becker, 31 anos, a passar a madrugada de quarta para quinta-feira com a Kombi estacionada na fila do drive-thru da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), em Porto Alegre, para guardar lugar para sua mãe Danitsa Panatieri Lerotic Becker, de 64 anos.

"A minha ida logo cedo para fila, foi por vivermos uma incerteza e descaso com a população, em um cenário de falta de vacina e insumos", afirmou. Segundo ele, na última tentativa de Danitsa para receber a segunda dose da Coronavac o tempo de espera na fila foi em vão, pois não havia vacina suficiente. Então, assim que Becker soube da disponibilidade, foi para a fila para garantir a aplicação do imunizante.

"Quis retribuir o mínimo à minha mãe, deixá-la exposta ao frio, horas a fio numa fila, privação de banheiro não era uma opção para mim. Não era para ser uma opção para ninguém em busca de um direito, mas não é o que vivemos nesses tempos", destacou. Além disso, ele definiu como "romantização do absurdo" chegar ao ponto de precisar virar a noite em uma fila

"Pessoas precisarem se submeter a essas condições para garantir o direito mínimo de segurança sanitária numa pandemia", enfatizou. Apesar disso, Becker disse que, dentro da Kombi, não foi um sacrifício passar a noite lá, o que não acontece com a maioria das pessoas que precisam fazer o mesmo e, ainda, no caso de pessoas que sequer têm condições de ir de carro e aguardar pelo menos sentadas e abrigadas.

Para ele, o 20 de maio de 2021 ficará marcado como um dia de alivio e reciprocidade. "Garantir o mínimo necessário pra segurança numa pandemia é um alivio.  E dar esse retorno a ela, que tantas vezes me levou pra ser vacinado", lembrou, complementando que proporcionar a ela um conforto nessa hora é o mínimo que poderia retribuir e ela definiu a atitude como reciprocidade afetiva e amor incondicional.

Kombi

Sobre a Kombi, Becker contou que a ideia é antiga. "Meu pai teve várias kombis e eu sempre quis uma também, então a pandemia nos deu a possibilidade de dar início ao projeto. O hobby do meu pai é marcenaria e ele é um dos fundadores da feira de artesanato junto ao brique da Redenção. Eu tendo o mestre em casa, e o tempo disponível, convidei pro projeto e nos isolamos na marcenaria por alguns meses", explicou.

O processo de adaptação do automóvel, de acordo com ele, foi muito bom. "Ter o pai ensinando os truques da marcenaria, trocar experiencias com ele. Claro que nem tudo foram flores, divergência de opinião, discussão sobre como fazer isso ou aquilo, mas no fim, a Kombi tá aí", brincou.


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