França tem novos protestos após adoção forçada da reforma da Previdência

França tem novos protestos após adoção forçada da reforma da Previdência

Emmanuel Macron adotou sua reforma sem submetê-la ao voto dos deputados ao recorrer a um controverso artigo da Constituição

AFP

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Estradas fechadas, refinarias paralisadas, escolas bloqueadas, toneladas de lixo acumuladas em Paris... a batalha contra a impopular reforma da Previdência continua nesta sexta-feira (17) na França, com uma multiplicação dos protestos após sua adoção polêmica.

"Estamos indignados", disse Soumaya Gentet, sindicalista do supermercado Monoprix e uma das 200 pessoas que bloquearam a rodovia ao redor de Paris por meia hora durante a manhã. "Vamos resistir até a retirada da reforma", frisou.

Na quinta-feira, o presidente liberal Emmanuel Macron decidiu adotar sua reforma - cuja medida mais simbólica é aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos - sem submetê-la ao voto dos deputados, temendo uma derrota no Parlamento, ao recorrer a um mecanismo legal, mas controverso: o artigo 49.3 da Constituição.

Em meio a gritos da oposição e cantos do hino nacional, a primeira-ministra Élisabeth Borne formalizou a reforma pouco depois na Assembleia Nacional (câmara baixa), desencadeando protestos em várias cidades que deixaram mais de 300 detidos.

Em Paris, a polícia usou gás lacrimogêneo e jatos de água na quinta-feira à noite para dispersar os manifestantes reunidos na Place de la Concorde, perto da Assembleia. Incidentes também foram relatados em Rennes, Nantes e Lyon.

"A oposição é legítima, as manifestações são legítimas, a desordem não", disse o ministro do Interior, Gérald Darmanin, à rádio RTL, antes de alertar que o governo não permitirá o surgimento de "manifestações espontâneas".

O líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon "encorajou", por sua vez, "manifestações espontâneas" em todo o país, enquanto aguarda o novo dia de protestos massivos convocados pelos sindicatos na próxima quinta-feira.

Protestos esporádicos e pontuais se multiplicaram na França com o bloqueio das escolas de ensino médio, linhas ferroviárias, centros de distribuição de correio, entre outros. Em Paris, as montanhas de lixo continuam se acumulando e o governo prepara requisições dos trabalhadores em greve.

"Fracasso"

O governo está sob pressão. Para os analistas, o uso do artigo 49.3, em vez de submeter o plano à votação, é um "fracasso" e simboliza a "fraqueza" de Macron, que coloca em risco seu segundo mandato.

O presidente poderia se salvar "anunciando que a lei será revogada após essa adoção antidemocrática. Mas não é típico dele ouvir os franceses", afirma o editorial do jornal esquerdista Libération.

"Não é um fracasso", argumentou o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, aos veículos RMC e BFMTV. "Nossa vocação é continuar governando", disse o porta-voz do governo, Olivier Véran, à rádio France Inter.

Mas a primeira-ministra parece muito debilitada, depois de ter defendido durante meses o diálogo com a oposição para tentar aprovar esta reforma.

Dois em cada três franceses são contra a reforma. A líder da extrema direita Marine Le Pen, cujo partido aparece cada vez mais forte nas pesquisas sobre o conflito social, já anunciou a apresentação de uma moção de censura ao governo, a única forma de derrubar a reforma.


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