Fredric Jameson teoriza sobre a "sociedade do instante" na Capital

Fredric Jameson teoriza sobre a "sociedade do instante" na Capital

wetwPensador político americano explica novos conceitos de arte, filosofia e política

Leda Malysz / Correio do Povo

Frederic Jameson teoriza sobre a sociedade do instante na Capital

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A forma como a sociedade atual vive em relação à passagem do tempo e ocupação política dos espaços estrutura a análise sobre o mundo contemporâneo do crítico literário e pensador político americano Fredric Jameson. Ele analisou esta temática, na noite desta segunda-feira, em uma conferência na Capital.

Ao avaliar as características da sociedade atual, o estudioso utiliza o conceito de pós-modernidade, e, ao defini-lo, apresenta percepções sobre o cotidiano na ótica de pessoas de todos os continentes. A partir disso, ele relaciona temas aparentemente distintos, como economia, arte, filosofia e política.

Para Jameson, o pós-modernismo implica o debate sobre singularidade na arte universal. Sob o título da palestra como "A Estética da Singularidade", afirmou que no pós-modernismo a arte tende a regredir a uma espécie de artesanato. "Não tem a ver com estilo porque não resiste à supressão do individual". Existe a arte padronizada e fins de produtos como quadros a óleo ou estátuas. Vivemos a primazia das instalações. Nelas, cada objeto não é um objeto de arte em si. Ele é relacionado com o espaço, com outros elementos e tem o seu sentido finalizado quando a instalação termina. "Ele é espaço e não presença. Não pode ter um estilo no sentindo antigo do termo", avalia.

Na concepção deste pós-modernismo, há a problemática da estrutura estável, pondera. Tudo é possível sob a condição de que exista por um curto período de tempo. Na arte, a supremacia da instalação, marcada pela efemeridade, aparece como emblemática na exposição de Jameson. "A nova forma de arte não é um objeto, mas um evento. É feita para ser efêmera. A arte é entendida não como obra ou estilo, mas como receita para eventos", afirma, e provoca: "Há de se diferenciar arte de eventos de singularidades".

Ainda falando sobre como a pós-modernidade procura não um objeto para ser produzido, mas uma estratégia ou uma receita, o crítico pontua que as instalações encontram seus macro-equivalentes em museus contemporâneos, onde, segundo, ele, a vanguarda coletiva é substituída pela figura singular do curador. "Historicamente, todo o pseudo fascínio do modernismo pelo tempo profundo nasce da desigualdade do mundo moderno, com grandes cidades e o interior vivendo em velocidades diferentes", resgata o estudioso.

"A tecnologia permite uma similaridade temporal em todo o mundo. A passagem do tempo foi virtualmente eliminada, o que modifica a experiência humana. O que se busca é a intensidade do presente, e o antes e o depois tendem a desaparecer. Nenhuma sociedade teve tão pouca percepção de sua história quanto a atual", analisa Jamenson. "Está engessada no presente. Para o futuro, há a visualização de enfrentear desastres ecológicos ou enriquecer. Característica da redução do presente, com a morte do sujeito", pontua.

"Houve uma transição de modo de produção. É um outro momento do capitalismo, no qual passou-se da experiência do tempo para a experiência do espaço", explica o professor.  "Toda política diz respeito à tomada de terra. Esta busca está presente em questões como produção ou exploração de matérias-primas, movimento dos sem terra, imigração, favelas, cidadanias, turismo. Tudo é relativo ao espaço", argumenta.

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