Gestantes e crianças com HIV sofrem com o fracionamento dos remédios no RS

Gestantes e crianças com HIV sofrem com o fracionamento dos remédios no RS

Motivo pode ser a falta de repasses necessários do governo federal para o Estado

Henrique Massaro

Motivo pode ser a falta de repasses necessários do Governo Federal para o Estado

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Gestantes e crianças com vírus do HIV no Rio Grande do Sul estão sofrendo com o fracionamento de um de seus principais medicamentos desde o mês de abril. O AZT, nas versões injetável e xarope, tem sido encontrado com dificuldades nos hospitais e unidades de saúde. O motivo pode ser a falta de repasses necessários do Governo Federal para o Estado, que, por sua vez, é responsável pela distribuição nos municípios.

De acordo com a presidente do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa/RS), Carla Almeida, os pacientes estão precisando ir buscar o remédio com mais frequência, em vez de fazer isso uma vez por mês. Já ocorreu, inclusive, de faltar medicamento. Segundo ela, há uma denúncia de que uma criança de cinco anos, devido à falta do xarope, precisou passar para a versão drágea, não recomendada para esta idade.

A versão xarope do AZT é utilizada em crianças que nasceram com o vírus do HIV. Já a injetável é administrada em gestantes na hora do parto para impedir a transmissão vertical para o recém-nascido. Conforme Carla, também já foi verificado o fracionamento da versão 3 em 1, que é utilizada em adultos em primeira linha, ou seja, logo que o vírus é descoberto, além de problemas no abastecimento do exame carga viral.

A presidente do Gapa diz que o governo do Estado estava aguardando até ontem uma remessa de mil doses do xarope que viria como alternativa. No entanto, a carga viria de Recife, percorrendo aproximadamente 4 mil quilômetros, e teria chegado aqui com 26% dos vidros quebrados. “A resposta da AIDS se dá só no campo biomédico, mas nele também não está acontecendo”, lamenta Carla, que diz que o momento é crítico.

O coordenador técnico do Fórum ONG/Aids, Rubens Raffo, explica que uma série de complicações pode surgir devido ao fracionamento. “Isso implica na possibilidade de termos crianças nascendo com infecção e crianças já infectadas ficarem resistentes ao tratamento”, diz. Ainda segundo ele, pais e profissionais da área da Saúde pública têm relatado a falta do medicamento.

A Secretaria Estadual de Saúde informou que o abastecimento dos medicamentos antirretrovirais é de responsabilidade do Governo Federal e que os estados devem apenas distribuir aos serviços de Saúde. “Desde o mês de abril, as remessas vêm sendo entregues ao Estado de forma irregular e aquém do quantitativo necessário para garantir o atendimento dos 40 mil usuários cadastrados”, informou a pasta.

Ainda conforme a Secretaria, no mês de junho, por exemplo, o pedido feito para o AZT via oral foi de 3.904 frascos, mas foram recebidos apenas 1.561 em duas partes, a primeira com 131 frascos e a segunda com 1.430. Já para o AZT + 3TC (injetável) foram pedidos 2.316.600 doses, e recebidas apenas 1.024.200 também em duas etapas: de 554.640 e 469.560. O 3 em 1, por sua vez, teve um pedido de 2.000.010 e o recebimento foi de 616.440. No mês anterior, o oral e o injetável sequer foram recebidos.

A pasta também comunicou que vem trabalhando “exaustivamente” em estratégias para o problema, como remanejamentos e fracionamento das dispensações no intuito de minimizar o impacto na terapia dos usuários. A Secretaria também informa que não tem sido esclarecida oficialmente pelo Ministério da Saúde sobre a razão dos atrasos.

O Correio do Povo fez contato com o governo federal através do Ministério da Saúde, que solicitou que o pedido de posicionamento fosse feito por e-mail. No entanto, o Ministério não se manifestou até o fechamento desta edição.

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