Governo do RS e Prefeitura de Porto Alegre decretam luto oficial pela morte de Paixão Côrtes

Governo do RS e Prefeitura de Porto Alegre decretam luto oficial pela morte de Paixão Côrtes

Tradicionalista serviu de modelo para a estátua do Laçador e fundador do primeiro CTG

Correio do Povo

Paixão Côrtes serviu de modelo para a estátua do Laçador

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O governo do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Porto Alegre decretaram luto oficial por três dias em sinal de pesar pela morte do folclorista e Cidadão de Porto Alegre, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes. Internado no Hospital Ernesto Dorneles, desde 18 de julho, Paixão Côrtes faleceu nesta tarde aos 91 anos de idade. O tradicionalista foi modelo para a estátua do Laçador e, junto com Barbosa Lessa, criador do primeiro Centro de Tradições Gaúchas, o CTG 35, e também Patrono da 56ª Feira do Livro. O velório será realizado no Salão Negrinho do Pastoreiro do Palácio Piratini. 

“Paixão deixou um legado para todos nós. Através de seu trabalho pioneiro de resgate da cultura, hoje as tradições gaúchas estão presentes em diversos países”, declarou o prefeito Nelson Marchezan Júnior. “O tradicionalismo do Rio Grande do Sul perde seu maior representante. Mais do que um estudioso da cultura do nosso Estado, Paixão Côrtes era o símbolo do gaúcho e do gauchismo. Sua história se confunde com a cultura do Rio Grande, e seu legado já faz parte da vida de todos os gaúchos. Nossos sentimentos aos familiares”, declarou Sartori.

Nascido em Santana do Livramento, em 12 de julho de 1927, em 1939, aos 12 anos, mudou-se com a família para Uruguaiana. Em meados da década de 1940, já estava instalado na Capital, estudou no IPA. Formou-se em Agronomia na UFRGS, em Porto Alegre, e foi funcionário da Secretaria de Estado da Agricultura.

Ao longo das décadas de 1940 e 50, ao lado de Lessa e do Grupo dos Oito (turma de amigos do Julinho empenhados na pesquisa da tradição gaúcha), Paixão foi o mentor de uma série de solenidades que visavam a chamar a atenção para os símbolos socioculturais do gauchismo: a Chama Crioula (criada em 1947, como uma extensão da Chama da Semana da Pátria), o Desfile dos Cavalarianos, a Ronda Crioula (que, nos anos 1960, deu origem à Semana Farroupilha), e o primeiro Centro de Tradições Gaúchas, criado em 1948 com o nome de 35, por Côrtes, Lessa, Glauco Saraiva e Hélio José Moro.

Em 1954, quando da criação da escultura do Laçador, símbolo do gaúcho, o autor Antônio Caringi recorreu a Paixão Côrtes para ser o modelo para a estátua que se encontra próximo ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. A fundação do CTG 35 acabou por inaugurar uma série de centros de cultura semelhantes, que hoje estão espalhados por todo o mundo.

Entre 1949 e 1952 Paixão Côrtes, juntamente com Barbosa Lessa, catalogou mais de duas dezenas de danças praticadas no Rio Grande do Sul, para fundar, no ano seguinte, o grupo de dança Os Tropeiros da Tradição. As pesquisas também deram origem, em 1956, ao Manual de Danças Gaúchas e ao LP Danças Gaúchas, em que a cantora Inezita Barroso gravou sua voz no que é considerado o primeiro registro em fonograma do resultado das pesquisas dos folcloristas.

Com suas pesquisas, Paixão ajudou a documentar os costumes e a arte do homem do campo, mas também reuniu documentos sobre o desenvolvimento da música urbana em Porto Alegre. Seu resgate histórico sobre a gravadora Casa Elétrica, por exemplo, foi fundamental para pesquisadores de todo o país entenderem como se deu a história do disco no país e na América do Sul.

Em 2017 o folclorista anunciou sua despedida da vida pública, para cuidar da saúde. Conforme carta divulgada pela família, Paixão seguiria organizando e enriquecendo seu extenso acervo documental de pesquisas. Parte dessa organização consistia em editar um livro de 700 páginas sobre danças tradicionais.

Paixão deixa a esposa Marina e os filhos Maria Zulema, Ana Regina e Carlos. O corpo será velado no Palácio Piratini e o enterro está marcado para esta terça-feira.

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