Grupo de quilombolas se acorrenta na sede do Incra em Porto Alegre

Grupo de quilombolas se acorrenta na sede do Incra em Porto Alegre

Manifestantes exigem participação em processo de demarcação de área herdada por descendentes de escravos

Rádio Guaíba

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Um grupo de 70 famílias de quilombolas ocupa, desde o início da tarde desta quarta-feira, a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Porto Alegre. Com parte dos manifestantes acorrentados no saguão do local, o protesto de descendentes de escravos exige o início imediato das notificações para a demarcação e a titulação de uma área de mais de 4.506 mil hectares, na zona rural de Morro Alto, Litoral Norte.

A mobilização começou após reunião com autoridades dos governos estadual e federal ocorrer sem a presença de integrantes da comunidade. Até as 23h30min, o Incra informava que estava reunido com lideranças dos moradores e do Movimento Negro Unificado para negociar o impasse. Os quilombolas, que também protestam na sala da superintendência do instituto, prometem prosseguir com a ocupação até que o órgão garanta o começo, a curto prazo, do processo para indenizar e reassentar outras famílias não-descendentes de escravos, que hoje habitam a região.

De acordo com os manifestantes, um relatório técnico do Incra já definiu, em março, a necessidade de desapropriação a partir de dados históricos e técnicos. Outra invasão da sede do órgão já havia ocorrido no dia 30 de setembro pelo mesmo motivo.

"Há mais de 300 anos esta área foi doada por uma fazendeira a famílias de escravos. Ao longo da história, os herdeiros foram sendo grilados, através da violência e estelionatos, e a maioria trabalha para os atuais proprietários", explica o advogado da Frente Nacional de Defesa dos Territórios Quilombolas, Onir de Araújo, que participa da ocupação. A estimativa é de que cerca de cinco mil quilombolas residam na região. Poucos ainda mantêm propriedades particulares na área reivindicada.

De acordo com a legislação, a partir da notificação, os atuais donos das terras terão prazo para contestar, antes que o processo seja remetido a Brasília, para a efetivação do decreto de desapropriação. Quem provar a posse do título da terra é indenizado. Já pequenos agricultores serão reassentados.

Segundo o Movimento Negro Unificado, o Rio Grande do Sul tem hoje 200 comunidades quilombolas, mas só três delas com a posse da terra. O Incra soma cerca de 60 processos de desapropriação. Para os manifestantes, a pressão do agronegócio e de parlamentares ligados ao setor estão travando o avanço das tratativas em Morro Alto.


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