Hospital Conceição vai usar plasma convalescente no tratamento da Covid-19

Hospital Conceição vai usar plasma convalescente no tratamento da Covid-19

Primeira fase será restrita a profissionais da própria instituição, que já registrou mais de mil casos

Felipe Samuel

Estudo diz que em todos os pacientes a incidência da doença grave foi cortada pela metade

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Com base em evidências científicas de tratamentos realizados nos Estados Unidos, o Grupo Hospitalar Conceição (GHC) vai utilizar o plasma convalescente - material com anticorpos retirados de pacientes recuperados do novo coronavírus - no tratamento experimental de pessoas que contraíram a doença. O GHC iniciou nesta quarta-feira a campanha para recrutar doadores de sangue que tenham sido diagnosticados com a Covid-19. A primeira fase será restrita a profissionais da própria instituição, que já registrou mais de mil casos. Em outro momento, o público externo poderá participar da campanha.

Os dois estudos científicos estabelecidos no GHC - um vinculado à Universidade de São Paulo (USP) e classificado como multicêntrico, e outro ligado ao corpo técnico do GHC, chamado de interno - atendem requisitos de aspectos regulatórios e éticos tanto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto do Ministério da Saúde. 

Tratamento

De acordo com o gerente de Internação do Hospital Conceição, Rafael Ribeiro, a coleta e transfusão de plasma de convalescentes para uso experimental no tratamento de pacientes com Covid-19 tem como base tratamento experimental aprovado pela agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), onde desde abril mais de 30 mil usaram o material.

Conforme Ribeiro, os últimos estudos envolvendo o plasma convalescente apontam que o tratamento é promissor, com 'benefícios e desfecho favorável' na recuperação dos pacientes. "Estou otimista, saímos da briga política envolvendo a cloroquina e passamos a avaliar o plasma convalescente 'por fora', que se mostrou eficiente nos estudos e nos benefícios", destaca. Ribeiro explica que os doadores precisam cumprir uma série de requisitos: ser do sexo masculino ou do sexo feminino sem ter engravidado (sem gestações); apresentar teste PCR positivo documentado com no máximo 90 dias; e estar há 30 dias sem sintomas. Ele alerta, no entanto, que a triagem será cuidadosa. "Nem todas as pessoas desenvolvem quantidade suficiente de anticorpos para transferir para um paciente Covid-19", observa.

A utilização do plasma convalescente, de acordo com Ribeiro, revela benefícios tanto na fase inicial da doença, quando o paciente tem “muito vírus circulando no sangue nele”, quanto numa fase tardia em que a pessoa apresenta processo inflamatório pelo corpo. "O anticorpo produzido pelo doador ajuda a equalizar, modular a fase inflamatória", completa, acrescentando que cada doador pode ajudar na recuperação de três pacientes.

Sem contar com uma vacina contra a Covid-19, Ribeiro avalia que essa é uma alternativa viável. "Temos um arsenal limitado no combate à doença, e essa é uma das armas mais promissoras, que já foi aprovada pelo FDA, em caráter experimental", justifica. "Mesmo que a epidemia diminua, ainda vai ter pacientes internados por Covid-19", adverte.

Recomendações 

Com os estudos em fase inicial no GHC, Ribeiro reforça a necessidade de a população atender às recomendações de autoridades de saúde e seguir os protocolos sanitários. Na avaliação de Ribeiro, embora haja sensação entre algumas pessoas de que a epidemia está passando, o hospital “ainda está cheio”. 

Ele explica que o tempo médio de permanência de pacientes com o novo coronavírus é o dobro de outros enfermos internados por outras doenças. "No final de semana atingiu 100% de ocupação de UTI, e com uma média de ocupação que se mantém em 95%. Para nós a pandemia não acabou, por isso estou entusiasmado com o plasma", afirma.


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