Hospital São Pedro é o que tem mais pacientes em situação de abandono

Hospital São Pedro é o que tem mais pacientes em situação de abandono

Porto Alegre tem 31 hospitais com mais de 250 pacientes sem vínculos familiares

Luis Tosca

Porto Alegre tem 31 hospitais com mais de 250 pessoas sem vínculos familiares

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Os 31 hospitais de Porto Alegre abrigam hoje mais de 250 pacientes sem vínculos familiares. São jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social, doentes crônicos, dependentes químicos, moradores de rua ou pessoas com problemas mentais que foram deixadas para trás. Alguns passam por uma situação de abandono e não têm mais esperanças de voltar ao convívio do lar nem restabelecer ligações afetivas com parentes e amigos.

A instituição que abriga o maior número de pacientes sem contato com a família é o Hospital Psiquiátrico São Pedro. Conforme o chefe da Divisão de Saúde Mental do RS, psiquiatra Luiz Coronel, 173 pessoas moram na instituição e a grande maioria são idosos com alguma doença mental ou orgânica. “A maior parte desses pacientes depende de ajuda para se alimentar e tomar banho e precisa da proteção do Estado para viver.”

Eles recebem assistência médica e dispõem de lazer e da atenção de equipe multidisciplinar. O diretor diz que até abril será finalizado um diagnóstico que servirá de base para um plano que visa maximizar os recursos disponíveis para a saúde mental atendendo a áreas prioritárias, referindo-se, principalmente, aos cerca de 2 mil moradores de rua que vivem na Capital.

Conforme o psiquiatra, a maior parte dessas pessoas apresenta alguma patologia mental ou é dependente química. Ele lembra que o crack já é uma epidemia e que mais de 90% dos doentes mentais abandonados de Porto Alegre não estão nas instituições de saúde ou em ambientes com cuidados básicos, pois vivem nas ruas sem assistência ou proteção do Estado.

No Sanatório Partenon, metade dos cerca de 50 pacientes não mantém contato com parentes. A média de internação é de cem dias para tratamento de doenças infecto-contagiosas como tuberculose e Aids.

A situação em algumas instituições

• Santa Casa

A instituição de saúde mais antiga da Capital certamente é uma das que mais assistiu pacientes em situação de vulnerabilidade social em tempos imemoriais. Com os olhos voltados para o paciente carente, idoso, criança ou vulnerável, o serviço de assistência social atende os sete hospitais da rede. “A rotina de um hospital é pesada, mas nos alegramos quando conseguimos pequenas conquistas com nossos pacientes, como promover o encontro e a reunião de uma família”, exemplifica a assistente social Adriane Barboza. Ela diz que há três tipos de pacientes de longa permanência na instituição: o morador de rua trazido pela ambulância do SUS debilitado e com graves problemas de saúde, o paciente crônico que tem tratamento demorado e o doente com laços familiares enfraquecidos ou com estrutura familiar precária.

• Hospital Clínicas

Um dos maiores hospitais da Capital em número de leitos, o Clínicas não oferece dados numéricos sobre as internações, mas abriga pacientes de longa permanência em diversos setores, inclusive em condições vegetativas e com período de internação superior a 6 anos. Conforme a assistente social Simone Beier, algumas questões podem dificultar o retorno do paciente ao lar, principalmente quando há suspeita de maus-tratos a crianças e idosos. “Pensamos na responsabilidade social do hospital e não temos pressa em liberar o paciente mais sensível.” A função do Serviço Social é lançar um olhar sobre a pessoa e compreender suas necessidades primordiais. “Percebemos a condição de vida das famílias e as dinâmicas nas relações, na tentativa de reforçar os laços afetivos e permitir que o paciente volte para casa.”

• Hospital São Lucas

São sete pacientes de longa permanência nos setores relacionados à Medicina Interna, no Hospital São Lucas. O Serviço Social lida com um caso de abandono. Conforme a assistente social Ana Paula Pereira, o paciente passou dois meses em tratamento e em dezembro recebeu alta, mas os familiares se recusaram a levá-lo para casa por questões envolvendo conflitos familiares. “Encaminhamos o caso ao Ministério Público logo após a renúncia da família e ainda aguardamos a confirmação de baixa de uma instituição que possa fazer o acolhimento. O paciente tem problemas crônicos de saúde e não podemos liberá-lo sem a atenção adequada”, destaca. Ana aponta que os outros seis pacientes estão em processo de organização familiar e contam com o apoio dos parentes, o que não configura propriamente abandono.

• Hospital Vila Nova

Atendendo 100% pelo SUS, o Hospital Vila Nova lida com ao menos dez casos mensais de pessoas que perderam totalmente o contato com a família. Conforme a assistente social Lenise Martini, os pacientes em situação de rua chegam com tuberculose, dependência química ou HIV, muitas vezes com o quadro agravado pela interrupção de tratamento ou ausência de cuidados. A ressocialização envolve assistente social, psicólogo e terapeuta ocupacional. A primeira providência é entrar em contato com a família e buscar reaproximação, mas quando isso não é possível o paciente é encaminhado ao Ministério Público para fazer documentação e ser enviado a albergue. “Em média esses pacientes ficam conosco 30 dias e nesse tempo procuramos fazer de tudo para devolver-lhes a saúde e a dignidade”, resume Lenise.

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