Jurista espanhol diz que Comissão da Verdade precisa propor mudanças nas leis

Jurista espanhol diz que Comissão da Verdade precisa propor mudanças nas leis

Baltasar Garzón concedeu entrevista coletiva hoje em Porto Alegre

Jimmy Azevedo / Rádio Guaíba

publicidade

Jurista espanhol e membro do Tribunal Penal Internacional, Baltasar Garzón acredita que cada país tem a sua característica e sua peculiaridade histórica com relação a regimes autoritários. No entanto, defende a verdade, a reparação e a justiça para as vítimas e familiares de períodos de exceção, onde tenha ocorrido tortura, mortes e desaparecimentos. Em entrevista coletiva no Palácio Piratini, em Porto Alegre, na manhã desta terça-feira, ele disse que a Comissão da Verdade, assinada pela presidente Dilma Rousseff em maio, precisa ser capaz de alterar a legislação.

“Uma Comissão da Verdade deve ter acesso a todas as informações de grupos e vítimas. Ela tem de ter capacidade para propor reformas legislativas”, disse o jurista. A eficácia dos trabalhos pode ser comprometida no País, tendo em vista a vigência de leis que proíbem a divulgação dos chamados documentos “ultra-secretos”, em poder das Forças Armadas.

O jurista, responsável pela prisão de Augusto Pinochet, ex-ditador chileno, no final da década de 1990, vai palestrar na sede do Ministério Público do Estado, na tarde de hoje, sobre direitos humanos, desenvolvimento e criminalidade global. Durante o evento, o governo gaúcho lançará a Comissão Estadual da Verdade.

Para o conselheiro da Comissão de Direitos Humanos, Jair Krischke, a iniciativa do Piratini é importante, mas não pode rivalizar com a Comissão da Verdade nacional. O advogado ressalta que a estrutura gaúcha não pode se omitir, por exemplo, de buscar os documentos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de Porto Alegre, que funcionava no Palácio da Polícia.

“Os arquivos do DOPS do Rio Grande do Sul estão no Comando Militar do Sul. O Estado foi o único que queimou os arquivos durante o governo de Amaral de Souza, em 1982. Anos depois, alguns documentos foram recuperados no Uruguai”, lembra.

Segundo o oficial de Comunicação Social do Comando Militar do Sul, coronel James Bolfoni da Cunha, o Exército só liberaria documentos referentes ao DOPS gaúcho se estes não fossem ultra-secretos e tivessem menos de 25 anos. “Qualquer solicitação da Comissão da Verdade do Estado será analisada dentro da legalidade da legislação existente sobre a guarda de documentos. Aqueles que forem sigilosos poderão ser divulgados ou não, dependendo dos prazos de sigilos”, disse.

Bookmark and Share

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895