Karaokês em Porto Alegre: bares voltam a ter grande procura e apostam na diversidade de público

Karaokês em Porto Alegre: bares voltam a ter grande procura e apostam na diversidade de público

Do mais antigo ao atual, conheça cinco estabelecimentos que adotaram o karaokê como diferencial

Brenda Fernández e Caroline Grüne

Do mais antigo ao atual, conheça cinco estabelecimentos que adotaram o karaokê como diferencial

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Febre nos anos 90 no Brasil, o karaokê está voltando aos bares e pubs de Porto Alegre. O entretenimento que ajuda a manter em alta clássicos como “Evidências” e “Cheia de Manias”, por exemplo, ajudou os empreendedores a driblar os desafios da pós-pandemia. Já aqueles que já tinham o karaokê como diferencial de seus negócios, hoje registram maior procura e diversidade no público. 

O karaokê foi inventado no Japão em 1971 pelo músico Daisuke Inoue. No entanto, mesmo virando um fenômeno rapidamente, o entretenimento não foi patenteado e o filipino Roberto Del Rosario copiou a ideia quatro anos depois, quando lançou um aparelho idêntico. De lá pra cá, o karaokê foi se modernizando e ganhando variações pelo caminho.

Em Porto Alegre, os estabelecimentos com karaokê têm se multiplicado. O Correio do Povo visitou cinco deles e conta suas particularidades.

BABILÔNIA: o karaokê mais antigo em atividade na Capital

Um investimento de R$ 1.400 parcelado em sete vezes nos anos 2000. Esse foi o start para transformar o Babilônia no karaokê mais antigo de Porto Alegre. Corrigido pela inflação, o valor hoje saltaria hoje para, em média, R$ 5.471,64. Quem conta a história é o proprietário Paulo Ricardo da Silva, que diz ser mais conhecido como Paulinho do Babilônia. Ele começou o bar no bairro São Geraldo em 1998, mas foi na virada do milênio que a história ganhou a identidade que atrai o público até hoje. Na época, os karaokês estavam em alta. Após uma pesquisa de campo, Paulo viu uma oportunidade. Os concorrentes todos fecharam e o Babilônia seguiu firme: 24 anos depois, Paulinho diz viver o melhor momento do bar.

Hoje, o espaço está bem diferente do que era há duas décadas. Em 2016, um amigo do sócio-proprietário voltou do Texas e comentou de um bar que acessava as músicas do karaokê pelo computador. Diferente do método anterior, que exigia cartuchos. “Foi onde deu um pulo do gato”, diz. São dois espaços de karaokê. No maior deles, ao fundo, uma grande pista de dança. A ideia é que as pessoas possam ficar em pé, dançar e se divertir com as apresentações ao vivo.

“De uns anos pra cá, com nosso sucesso, outros karaokês abriram”. Mas Paulo afirma que não vê a concorrência como um problema. Para ele, que é fã, quanto mais karaokês melhor. Apesar de adorar estar lá todas as noites, ele diz que só canta uma vez por ano: quando acontece o Campeonato Mundial de Karaokê. Quem ganha no Babilônia vai para São Paulo concorrer na final nacional. Depois, vem a final mundial - que já aconteceu em Cingapura. No ano passado, um cliente do Babilônia foi finalista mundial na versão online do Campeonato. “Meu ouvido é muito bom, se alguém tá cantando bem eu escuto”. Paulinho é como um olheiro. Quando um cliente canta bem, é convidado para o Campeonato.

 

Os amigos Guilherme e Igor no karaokê | Foto: Fabiano do Amaral 

No Babilônia, o negócio é profissional. São duas televisões passando a letra da música e mais uma que avisa a ordem da fila dos cantores e suas respectivas músicas. Assim, os próximos já ficam preparados para a sua vez. Mais de 300 pessoas passam por lá, em média, nas sextas-feiras e nos sábados. O bar também fica aberto nas quartas e quintas. Além da cantoria, quem frequenta o espaço também é fã de caipirinha.

“Ninguém precisa cantar bem, a graça é se divertir” diz Siham Kassab, veterinária de 23 anos. Ela é acriana e está em Porto Alegre há dois anos. Siham visitou o Babilônia com a colega de mestrado Ivy Pinho, de 30 anos. Elas e os amigos viram lá a oportunidade de ter um espaço de descontração e conexão com os amigos. 

“Aqui é muito legal porque todo mundo te acompanha. Tu canta e escuta todo mundo cantando e dançando”, diz Guilherme Zottis, engenheiro civil de 28 anos. Igor Furtado, de 25 anos, diz que karaokê é um espaço de desinibição. “A gente passa vergonha com a galera, vê as pessoas te apoiando e cria uma conexão”. Para eles, a rainha da sofrência Marília Mendonça é a preferida para o karaokê.
 
Paulinho diz que o público é eclético. “Vem um cabeludo tatuado cantar sertanejo, logo depois um todo de gravatinha cantar um rock pesado. A gente nunca sabe o que a pessoa vai cantar”, conta. Mas a mais escolhida continua sendo o clássico Evidências de Chitãozinho e Xororó. São no mínimo cinco vezes por noite, chegando a tocar até 10 vezes. O proprietário diz que não se incomoda com a repetição e se diverte junto. E adianta: o Babilônia vai lançar uma cerveja artesanal com o nome Evidências.

Os proprietários do Babilônia Paulo e Ilva | Foto: Fabiano do Amaral 

Serviço

Endereço: avenida Pernambuco, 2384 - São Geraldo 
Funcionamento: quarta a sábado, a partir das 20h
Karaokê: R$ 25 por pessoa
Contato: @babiloniakaraoke

SOFIA: um pedaço da cultura japonesa em Porto Alegre

Um palco com dois microfones e um fundo iluminado. Pelo espaço, luzes neons espalhadas remetem ao Japão - país onde foi criado o karaokê. Esse é o Sofia, localizado ao lado do parque Moinhos de Vento. Desde 2017, o espaço reúne bons drinks e gastronomia com cantoria nem sempre tão boa - a ideia é ser um local onde, acima de tudo, as pessoas se sintam à vontade para se expressar, sem competir, apenas criando um clima de apoio e empatia. “Uma pessoa mau humorada não sobrevive aqui dentro porque aqui é todo mundo animado, todo mundo se diverte. O karaokê une as pessoas”, diz Arthur Teixeira, proprietário do local.

Prestes a completar cinco anos em atividade, com uma pandemia no meio do caminho, o Sofia se consolida como uma opção diferenciada no bairro. Ali, além do clássico happy hour, as pessoas podem encontrar uma oportunidade de quebrar o gelo e se conectar de outra forma.

Arthur Teixeira, proprietário do Sofia | Foto: Fabiano do Amaral

Luciane Gasparin, de 41 anos, trabalha na área de RH e reservou uma mesa com os colegas de trabalho para se despedir e brindar uma troca de setor. “Aqui a gente pode extravasar o estresse e a rotina do dia a dia”, diz Luciane. Ela conta que começou a gostar de karaokê quando alugava o equipamento para festas em casa. Agora, pode viver a experiência também nos bares.

“Eu tenho uma ligação bem forte com o Japão, já fui duas vezes e indo nos karaokês de lá eu criei interesse”, diz Manuela Cath, de 19 anos. Quando voltou para Porto Alegre e descobriu o Sofia, também inspirado no Japão, começou a frequentar. Quem a acompanha é a amiga Manuela de Lima, 19 anos, que diz que tem vergonha de cantar mas com companhia se sente mais confortável.

Um dos diferenciais do local são as salas privativas: é possível alugar espaços de diversos tamanhos para fazer a festa com seus convidados. Nesses espaços acontecem aniversários, formaturas, despedidas de solteiro e até festas de empresa. 

Antes da pandemia, existia uma opção de sala. Hoje, são quatro salas privadas que podem comportar de 10 até 60 pessoas. Arthur Teixeira explica que essa foi uma necessidade que se intensificou durante o período de distanciamento social - as pessoas queriam voltar a se encontrar, mas ainda dentro das suas bolhas. Nas salas fechadas, a vergonha também diminui, já que é possível cantar e interagir só entre os íntimos.

Sofia possui salas privadas com karaokê, que podem ser alugadas | Foto: Fabiano do Amaral

Serviço

Endereço: rua Comendador Caminha, 348 - Moinhos de Vento 
Funcionamento: terça a domingo, a partir das 18h
Karaokê: a partir das 20h, gratuito na sala principal
Contato: @sofia.poa

FREEDOM: um palco de grandes talentos

Primeiro os sócios tomaram coragem e abriram o pub, depois as mudanças começaram. “Eu queria que meu bar tivesse uma proposta diferente, ou então ninguém ia querer ficar só dentro do bar”, conta Fábio Lacerda, que com Fabiano Marinho, administra o espaço desde 2019. 

Na segunda semana, a quantidade de mesas começou a minguar, dando espaço a uma mesa de sinuca – posicionada bem próxima à porta de entrada – e ao karaokê. A estratégia foi certeira e coroou o karaokê como o carro-chefe do Freedom até hoje. 

No coração da Cidade Baixa, entre bares com música ao vivo e casas noturnas, a placa com letreiros em caixa alta FREEDOM [liberdade, na tradução] convida os boêmios para uma experiência empolgante. 

Dos três anos desde a criação, o pub ficou 1 ano e meio fechado devido à pandemia. No retorno às atividades uma bela surpresa: a volta do público, e ainda mais diversificado. “É um público novo. São pessoas que vêm de outros bairros, não são só daqui da região. É um povo muito misto, chega de Canoas, Viamão”, conta Fábio. Segundo ele, o endereço se  populariza muito mais pelo famoso “boca-a-boca” do que pelas redes sociais. 

“Aqui não é trabalho, é diversão. Apesar dos contratempos, de alguns stress, acho bacana que a gente consegue se divertir com os clientes, que naturalmente vão ficando amigos”, destaca Fabiano. “Eu acho que estamos fazendo um nome e uma história legal”, reconhece Fábio.

 

Fabio e Fabiano, proprietários do Freedom | Foto: Fabiano do Amaral

Segundo a casa, em média 70 pessoas atravessam o bar para chegar até os fundos para cantar ou assistir ao karaokê. A sala destinada às cantorias conta com um palco, com led e luzes, um telão para acompanhar a letra e o DJ que organiza a execução das músicas. A atmosfera de discoteca – e de um grande show de talentos – fica também impressa na decoração com vinis, um globo espelhado e quadros com imagens de artistas. 

No palco, o clássico “Can't Help Falling In Love”, de Elvis Presley, é interpretado por Rodrigo Silchado. Frequentador desde 2019, o ator chegou ao espaço pela paixão por karaokê. “Eu vinha cantar, depois fazia as lives no instagram, movimentava as redes sociais. Depois, na reabertura, voltei para trabalhar. Vesti a camiseta”, conta Rodrigo que junto com Pablo, que opera a mesa de som, comanda o karaokê.

Rodrigo cantando Elvis Presley no karaokê | Fabiano do Amaral 

O que Rodrigo faz no pub tem nome: “Misancene [mise-en-scène]” - uma expressão teatral para um jogo de cena, de representação. Ele conta que vai muito além de organizar a diversão, mas também encorajar. Precisa de dupla para cantar? Quer ajuda para recuperar o tom da música? Quer ser apresentado? Lá está o Rodrigo, que hoje é referência daquele karaokê. E não é pra menos. “Em aniversário a gente canta parabéns, faz algo diferenciado. Faço várias coisas, tudo que é possível para deixar a pessoa acolhida”, explica.

Quem também cantou no karaokê foi Jorge Sabino, de 28 anos, que frequenta o local desde a reabertura após a pandemia. “É um hobby! Extravasar, jogar tudo pra fora, se divertir”, resume. Ele estava acompanhado dos amigos, que da mesa aplaudiram a performance sertaneja do administrador. “O karaokê deixa o ambiente descontraído, quebra a vergonha. Um espaço para se expressão, colocar a emoção contida durante a semana pra fora. Em casa noturna você conversa e dança, mas aqui pode cantar”, explicou o amigo Eduardo Ari Turconi. 

Serviço

Endereço: rua General Lima e Silva, 587 - Cidade Baixa
Funcionamento: quarta a domingo,  a partir das 19h
Karaokê: R$ 15 por pessoa
Contato: @freedompubpoa 

PURPLE DRINQUERIA: longe do tumulto, um espaço acolhedor para cantar

A primeira regra do karaokê: “Evidências” só depois das 23 horas. À exceção disso, tudo é discutível na cantoria que acontece todas quartas-feiras na Purple Drinqueria & Store. A poucos metros do Freedom, ainda na Lima e Silva, o local decorado de roxo – e todos os tons que couberem na combinação – compõe a rota dos bares com karaokê do bairro boêmio de Porto Alegre

A integração do karaokê na programação do bar iniciou em janeiro – pouco mais de dois meses após a abertura do empreendimento, em outubro – a partir da busca por um atrativo para o público na quarta, um dia da semana de movimento abaixo da média. Hoje, de acordo com o proprietário Eduardo Rocha Garcia, 70% das reservas ocorrem em decorrência do karaokê. “As reservas acontecem para formaturas, aniversários. Não fecha o bar exclusivamente para um grupo, mas o karaokê sim”, explica Eduardo. 

 

Eduardo Rocha Garcia, proprietário da Purple Drinqueria | Foto: Fabiano do Amaral

Apesar da região ter virado um grande centro de lugares que oferecem karaokês, Jefferson Machado, responsável pela organização do karaokê, acredita que não há concorrência. "São propostas e públicos diferentes." "Nosso público acabou sendo o feminino na faixa entre 20 e 34 anos. O bar foi aberto pensando principalmente no público LGBTQI+, mas vimos que foi esse outro nicho que nos escolheu", explicou Jefferson, que também é responsável pelo marketing da casa.

Eduardo e Jefferson concordam que ter um espaço pequeno e acolhedor também é um diferencial do bar. “É aquela coisa da família, sabe?”, brincam. Nas quartas de karaokê aberto ao público, em média 25 pessoas participam da cantoria. 

Os amigos Bárbara, Marília e Kaio curtiram juntos o karaokê do Purple. O convite partiu de Bárbara Goerl, que curte se aventurar na cantoria. “É libertador, desafiador. Tem muita gente que canta música triste, tipo sertanejo. Então tu vê que a galera tá botando pra fora, sabe?", diz.

Apesar de estar naquele bar pela primeira vez, Marília Hidalgo Magni já sabe o que não pode faltar nas escolhidas. Ela apelida a seleção como “músicas farofa” e cita clássicos da Xuxa e Junior, Sandy, entre outros. “Eu gosto das bem nostálgicas, gostosas de ouvir”, resume. Ela conta que seu interesse por karaokê aumentou depois da pandemia. Após a reabertura dos estabelecimentos, foi três vezes.

Motivado pelas amigas, Kaio Souza de Lima começa a tomar coragem para pegar o microfone. “Esse é o primeiro karaokê que eu tento cantar, nos outros eu só olhava. Achava muito tumultuado”, conta. 

Amigos se divertem no karaokê da Purple Drinqueria | Foto: Fabiano do Amaral

Serviço

Endereço: rua General Lima e Silva, 594 - loja 7 do Artsy Mall - Cidade Baixa
Funcionamento: terça a domingo, das 18h até as 2h
Karaokê: apenas quartas-feiras, gratuito
Contato: @sigapurple 

PARALELA: um karaokê mais humano e experimental 

Um espaço pensado e movido por mulheres para receber outras mulheres. É assim que as sócias Pâmela Leseux e Rafaella Coppetti construíram o Paralela Bar em 2019 - para ser um ambiente seguro e acolhedor para trabalhar e se divertir.

“O meu propósito era abrir um lugar em que eu pudesse trabalhar melhor, dar mais espaço para as mulheres, porque os bares em geral sempre foram um ambiente mais masculino. Sempre tivemos muito mais colegas homens do que mulheres”, conta Pâmela. 

A ideia do karaokê fazer parte do espaço é antiga, mas foi colocada em prática há dois meses. “Eu achava que o karaokê com as TVs era muito batido e a gente queria fugir do comum”, explica a sócia. A alternativa chegou. “Foi batendo cabeça que pensei ‘e se tivesse uma DJ tocando a música para a pessoa acompanhar na letra?’ Não é só a máquina que tem ali. Tem uma pessoa.” 

Dentre as diferenças que este modelo traz estão o acervo maior de músicas – com a possibilidade da DJ baixar na hora, inclusive – e o uso da técnica que o trabalho proporciona. 

 

Pâmela e Rafaella, proprietárias do Paralela | Foto: Ricardo Giusti

Mesmo com a curta experiência, Pâmela garante que o karaokê tem sido um sucesso nas quartas-feiras, dia exclusivo da semana para a cantoria liberada no sobrado. O encontro dos frequentadores com a DJ acontece no segundo andar, um ambiente aconchegante com sofás e mesas. Lá, um grupo de jovens celebrava com performance completa: música e dança.

“Hoje viemos comemorar o aniversário da nossa colega. Se não tivesse o karaokê de repente não seria tão descontraído o ambiente. Todo mundo se soltou e ficou junto, cantando e interagindo”, contou Cristiana Teixeira da Silva. Na playlist, das clássicas ao funk. “Mas o sertanejo não pode faltar”, pontuou. 

O bom resultado do karaokê serviu como farol para as novidades que estão em processo de amadurecimento. Uma delas é um campeonato de “beer pong” - um jogo de bebida em que os participantes jogam uma bola de pingue-pongue sobre uma mesa tentando acertar a bola em um copo de bebida do outro lado. O karaokê mostrou que o público gosta de atividades interativas, em que todo mundo possa se conhecer e se conectar. Agora, o bar quer apostar nisso.

Os drinks do bar levam nomes de mulheres famosas como Leci Brandão e Cássia Eller | Foto: Fabiano do Amaral

O Paralela Bar também conta com um cardápio autoral. Os drinks levam nomes de famosas – como Leci Brandão, Cássia Eller, Lady Gaga e Frida Kahlo – e são estilizados conforme a personalidade de cada homenageada. Já o carro-chefe da cozinha são os hambúrgueres smash - nas opções com carne e veganos. O cardápio também conta com uma variedade de petiscos. Nas bebidas ou nas comidas, o diferencial está na produção local dos insumos, com atenção e cuidado em cada detalhe e opções para todos os gostos.

Serviço

Endereço: rua Lopo Gonçalves, 66 - Cidade Baixa 
Funcionamento: quarta a domingo, a partir das 18h
Karaokê: apenas quartas-feiras, gratuito
Contato: @paralelapoa


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