Lâmpadas antigas têm fim

Lâmpadas antigas têm fim

Desde 30 de junho, só são vendidas incandescentes de até 40W

Heron Vidal

Lâmpadas antigas têm fim

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Invenção de Thomas Edison nos anos 1870, a lâmpada incandescente está com seus dias de brilho contados no Brasil. Depois de 30 de junho de 2017 deixará de ser vendida. Até lá, a comercialização está autorizada, mediante obediência a uma escala decrescente de potência. Por exemplo, desde 30 de junho, só podem ser vendidas lâmpadas incandescentes de até 40 W. A partir de 30 de junho de 2016, a potência cai para até 25 W. O fim resulta das metas mínimas de eficiência fixadas pela portaria interministerial 1007/2010.

Nos últimos anos, o mercado passou a usar lâmpadas fluorescentes, criadas pelo físico Nikola Tesla, no começo do século passado. Hoje, elas são compactas e sua principal vantagem sobre as incandescentes é a maior capacidade de iluminação com menor consumo de energia, explica o presidente da Apliquim Brasil Recicle, engenheiro eletricista Mario Sebben. O problema é o descarte: a fluorescente contém mercúrio, agente tóxico, cancerígeno, biocumulativo e mutagênico, define Sebben.

Quem substituir dez lâmpadas incandescentes de 60 W em sua moradia, por fluorescentes, gastará, na média, R$ 80,00 na compra. Economizará, porém, R$ 4,85 por lâmpada ao mês, ou R$ 582,00 por ano em sua conta de luz, explica o engenheiro. Uma lâmpada incandescente (60 W) consome R$ 0,23 por cinco horas de uso, enquanto a fluorescente gasta R$ 0,07.

Ao Brasil, com suas 60 milhões de residências (na média cada uma tem dez lâmpadas incandescentes), o benefício é expressivo: “Essas 600 milhões de lâmpadas consomem 36 GW. É a energia de duas usinas Itaipu. Quando todas forem fluorescentes, haverá economia de 70% na potência”, projeta Sebben.

Segundo o coordenador do Programa de Eficiência Energética da CEEE-D, Francisco Evaristo Gomes, a iluminação representa entre 15 e 20% do consumo de energia elétrica de uma residência. O mais comum, atualmente, é a substituição de lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas, que consomem, em média, quatro vezes menos e duram oito vezes mais. Gomes prevê, nos próximos anos, queda nos preços das lâmpadas de LED (Light Emitting Diode). Quando isso acontecer, assumirão papel cada vez maior nas preferências. São mais duráveis e eficientes, em relação às fluorescentes. Com a mudança, todo o sistema ganha. “A novas lâmpadas geram menos calor e mais luz.”

Porto Alegre ganhará postos de coleta

Termo de cooperação operacional implantará projeto piloto em Porto Alegre, por 90 dias, para o recolhimento de lâmpadas fluorescentes. Foram signatários a Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas), o Ministério Público Estadual (MPE/RS) e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). A assinatura ocorreu na última semana, durante a 34º Expoagas, na Fiergs. “É uma proposta de educação para criar a cultura do cuidado no descarte das fluorescentes”, afirma a coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor, do MPR/RS, Caroline Vaz.

Supermercados informarão consumidores sobre os postos de coleta do DMLU. Cada consumidor poderá deixar até cinco lâmpadas no local, adianta Caroline. O projeto será examinado e aperfeiçoado nos três meses. Poderá até ser estendido a outros municípios, o que colocaria o Rio Grande do Sul na vanguarda do tema no Brasil. Duas empresas farão o recolhimento do descarte das fluorescentes na Capital: a Apliquim Brasil Recicle e a Recilux.

O projeto será o começo da implantação da “logística reversa”, criada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/10): a cadeia do setor (fabricantes, importadores, comércio e consumidores) é responsável tanto pelo retorno das lâmpadas como por seu encaminhamento à descontaminação. É crime ambiental jogar fluorescentes no meio ambiente. A lei trouxe o acordo setorial (cadeia de entidades envolvidas) e a responsabilidade compartilhada. Mas falta ainda decreto normativo de regulamentação do descarte das fluorescentes.

Quando o decreto for editado pela presidente Dilma, estados e municípios terão a regra final, acredita o coordenador da Assessoria Técnica da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Valtemir Goldmeyer. Enquanto isso, a logística reversa é parcial. Só funciona bem o descarte de algumas grandes empresas. No cotidiano dos cidadãos ela inexiste. Lâmpadas são lançadas no lixo comum, junto a vidros e garrafas, e “no comércio poucos recebem o descarte”, observa Goldmeyer. A última etapa é a criação da entidade gestora, responsável por custos, recolhimento, transporte e armazenamento.

Capital e região eliminam 600 mil unidades ao ano


Porto Alegre e Região Metropolitana consomem 4 milhões de lâmpadas fluorescentes e descartam 600 mil por ano, calcula o presidente da Apliquim Brasil Recicle, Mario Sebben. Uma lâmpada tubular contamina com mercúrio, por exemplo, 15 mil litros de água potável. Para onde vão essas lâmpadas vencidas? “A grande maioria está por aí, em aterros”, diz. Entre as grandes empresas, 5% fazem o descarte correto; entre as médias, 60% o ignoram; e nas pequenas a quase totalidade se livra das fluorescentes no lixo comum.

Promover o descarte correto não é apenas recolher a lâmpada. Em uma lâmpada, 10% do mercúrio está sob a forma de vapor. A descontaminação exige ambiente hermético sob pressão (vácuo) para a retirada do vapor. Os demais 90% ficam retidos no pó branco da lâmpada. Na reciclagem completa, o vidro é quebrado. O pó é removido, aspirado e filtrado. Após essas etapas, o mercúrio extraído é destilado a 357º — vaporiza-se para ser resfriado. Quando se torna líquido, o metal é purificado e vendido às fábricas de lâmpadas.

A Apliquim, diz Sebben, faz todo o processo. “Reciclamos 94% e sobram 6% de pó descontaminado, sem riscos ao aterro. Somos os únicos no país.” Muitas empresas recolhem as lâmpadas, moem o vidro e as remetem para aterro sem extrair o mercúrio.

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