Limpeza e reconstrução seguem na Vila dos Sargentos em Porto Alegre após temporal

Limpeza e reconstrução seguem na Vila dos Sargentos em Porto Alegre após temporal

Ao todo, 22 casas foram destruídas e mais de 120 destelhadas por causa das fortes chuvas

Felipe Nabinger

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Três dias após o temporal que destruiu dezenas de casas e destelhou outras centenas, os trabalhos de auxílio aos atingidos seguem intensos nesta quarta-feira, principalmente na Vila dos Sargentos, no bairro Serraria, em Porto Alegre. “Retiramos as árvores já cortadas pelos bombeiros e agentes da prefeitura, além dos restos de casas para poder reconstruí-las”, explica o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), Vitorino Baseggio. Professor por uma década na Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Custódio De Mello, o adjunto da pasta coordenava as operações no campo próximo à instituição.

Baseggio explica que desde terça-feira foram distribuídas telhas e que após a limpeza dos destroços das casas mais atingidas começaria a reconstrução mais pesada ainda hoje. Ao todo, 22 casas foram destruídas e mais de 120 destelhadas. A prefeitura distribui, além de telhas, brita e areia, ficando a mão de obra das reconstruções a cargo de moradores, sob orientação do Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB).

Mesmo aquelas pessoas que tiveram a casa reduzida a escombros pelo vento e pela queda de árvores, relutam em sair da Vila dos Sargentos. “A maioria das pessoas não querem sair daqui. Oferecemos o antigo posto de saúde e o salão da comunidade, mas abrigamos apenas três famílias nas primeiras duas noites”, explica Baseggio. Segundo ele, a maioria tem buscado abrigo em parentes e vizinhos na própria comunidade.

A área que concentra caminhões, retroescavadeiras e material de construção demonstra a união dos moradores. Antiga área de descarte de lixo, com o apoio da comunidade, o local foi transformado em área de lazer e após a tempestade concentra as atividades que levam um pouco de esperança. Até quem não foi atingido pela destruição ajuda na reconstrução da vila. “Minha casa teve duas telhas que caíram e eu mesmo arrumei. Mas estou sempre ajudando. Foi um desastre que não esperávamos. A gente faz o que pode”, afirma o voluntário e militar da reserva Miguel Montenegro, 73, residente próximo à escola.

“Só quero um teto para ficar com meus cachorros”

Foi Montenegro que, durante a visita da reportagem do Correio do Povo, alertou a equipe da SMSUrb para a situação da moradora de um beco da rua Carlos Artur de Freitas, conhecida como comunidade Terra Nostra, que teve a casa destruída pela queda de árvores. Ele percorria a região, fazendo um levantamento da demanda dos vizinhos. No local, a moradora Eloí dos Passos Gomes, 53, conhecida como Baixinha, que tem na reciclagem seu sustento, mora com nove cães resgatados.

Emocionada, ela contou sobre os momentos de pânico vividos no domingo. “Caiu tudo em cima de mim. Estava fazendo comida e uma panela de carne ficou no fogo. Tentei entrar debaixo da cama, comecei a gritar e desmaiei”, relata. Com hematomas nas costas, ela diz que a preocupação com os cães ajudou a encontrar meios de, sozinha, sair do local. “Acordei sentindo dor e consegui sair. Acho que foram eles que me deram força pra sair. Estou a base de remédio por causa da dor”, diz.

No momento do vendaval, Eloí estava com quatro dos seus cachorros dentro de casa. Um casal de vizinhos ajudou a tirar os animais, que ficaram presos no local. Ela recebeu auxílio do Gabinete da Causa Animal (GCA), que resgatou animais machucados na região atingida. Apesar de ainda assustados, os cães da moradora não demonstravam ferimentos. Eloí conta com a ajuda de amigos e vizinhos para tratá-los e, mesmo com a casa destruída segue no local para não abandonar os animais. “Eu só quero um teto para ficar com meus cachorros”, diz.

Eloí não quer deixar o local por causa dos seus cachorros / Foto: Alina Souza

Baseggio chamou a situação da casa de “prioridade zero”. Equipes responsáveis pelo corte das árvores e bombeiros deslocaram-se até a residência ainda pela manhã para trabalhar no atendimento à residência. “Mesmo conhecendo toda a comunidade, algumas situações demoram a chegar até nós”, explica o adjunto da SMSUrb, ressaltando a importância do apoio dos moradores. 

Doações

A prefeitura reforça a necessidade de guias de eucalipto, pregos, areia, brita e demais materiais de construção. As doações podem ser feitas na rua Nelson Dalmas, 160, onde está instalado um ponto de apoio no bairro, ou destinadas na Subprefeitura Sul, na avenida Eduardo Prado, 1921, sala 5. Para mais informações os telefones são (51) 3289-5089 e (51) 98401-3603. Entidades religiosas têm  auxiliado à prefeitura, que segue coletando doações.

Luz retornou na região

Embora a CEEE Equatorial ainda registrasse 65 mil clientes sem energia em sua área de concessão na manhã desta quarta-feira, a região da Vila dos Sargentos estava com o fornecimento normalizado. Parte dele, na área menos atingida pelos ventos, foi reestabelecida durante a segunda-feira. No restante, a energia voltou a partir de terça-feira. 

Em outra região, no Morro da Cruz, zona leste da Capital, moradores tiveram o retorno do abastecimento de energia após protesto. No final da tarde de terça-feira, por volta das 18h, no cruzamento entre a rua Ernesto Araújo e a rua Martins de Lima, galhos, lixo e, até mesmo, colchões foram queimados, bloqueando o acesso. Por volta das 22h, a luz começou a retornar às residências.

A CEEE Grupo Equatorial seguiu realizando trabalhos de restabelecimento com todo o seu efetivo e 170 equipes disponíveis para execução dos serviços, conforme a concessionária de energia. Além de Porto Alegre, cidades da região metropolitana como Viamão registravam residências com longos períodos sem energia elétrica.


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