Médica relata luta para vencer coronavírus após 13 dias entubada

Médica relata luta para vencer coronavírus após 13 dias entubada

Psiquiatra de 65 anos ficou internada em UTI no Hospital Moinhos de Vento

Jessica Hubler

Médica permaneceu 13 dias entubada no Moinhos de Vento

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Foram 13 dias entubada lutando contra a força da Covid-19. A psiquiatra Silza Tramontina, de 65 anos, chegou ao Hospital Moinhos de Vento no dia 28 de março. Foi direto para o quarto e, cinco dias depois, foi informada pela equipe médica que acompanhava o avanço da doença de que a transferência para um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) seria necessária. “Eu estava dormindo e quando abri os olhos estava toda a equipe mascarada no pé da minha cama, a médica me olhou e disse que estava tomando uma decisão complicada. Disse que já sabia, que iriam me levar para UTI. Questionei se seria entubada e disse que não tinha problema”, contou Silza.

“Só assim, me entuba, mas me traz de volta”, pediu, e comentou que a médica inclusive começou a rir. Por ser médica, Silza comentou que aceitou com muita calma. “Estava acompanhando meus sinais e estava vendo que minha capacidade de oxigenação caía cada vez mais”, detalhou. Quando foi para a UTI, já começaram as preparações para conectá-la ao respirador. “Para mim e para a minha família foi uma eternidade, eu estava fora do mundo”, caracteriza, referindo-se aos 13 dias em que ficou entubada.

As lembranças ficam comprometidas por conta da sedação, mas Silza recorda claramente do momento em que chegou na UTI e foi conectada à ventilação mecânica. Na última quarta-feira, 15 de abril, ela foi extubada. “Depois disso só lembro quando acordei, que já não estava mais no respirador, e conseguia ver a minha família falando comigo através da visita virtual, todos falavam comigo, mas eu tentava prestar atenção e não conseguia, estava um pouco delirante”, disse. Quando ouviu a voz da neta mais velha, Valentina, de 10 anos, finalmente acordou. “Percebi que estava de volta quando ela me chamou”. 

A experiência, segundo Silza, é muito intensa. “Tenho vagas memórias de quando estava entubada, achava que era tipo uma branca de neve, voltei para essas coisas infantis, parecia que eu era a bela adormecida, tem algo até engraçado nessas referências”, afirmou. Quando não precisava mais do respirador, Silza ficou ainda mais alguns dias na UTI e depois foi para o quarto. “Ali foi muito agitado, eu tive crises de ansiedade, mas fui melhorando”, contou. Na sexta-feira, dia 24 de abril, ela finalmente voltou para casa e desde então está aproveitando para matar a saudade do marido Norberto Tramontina, com o qual celebra 52 anos de namoro. “Foi meu primeiro e único namorado, sentimos muita falta um do outro nesse período, somos muito grudados”, detalhou.

Após ter vivido o que chamou de “uma experiência de quase morte”, Silza aproveita para confidenciar que sabia que passaria por essa situação e, antes mesmo de pegar a doença, já havia comentado com um colega que viveria algo semelhante. “Nunca tinha passado por nada parecido, mas eu já tinha a sensação de que acabaria pegando esse bicho e ficaria duas semanas entubada. Ainda comentei sobre isso e meu colega disse que pelo menos teria respirador se pegasse logo”. Apesar da certeza de que passaria por isso, Silza teve medo.

“Lembrava que minha avó morreu com 65 anos, pensava que poderia morrer com a mesma idade, mas deixava isso de lado e mantinha o pensamento positivo, eu ainda tenho muito o que fazer, muito o que trabalhar, muitas pessoas para ajudar”, revelou. Para o alívio dela e da família, agora a recuperação é em casa. Agora os filhos Ricardo, Gabi e Thais, além dos netos Valentina, Martin, Malu, Maitê e Lorenzo, estão mais aliviados com a superação. Com o apoio e o amor do marido, Silza agora vai passar para uma nova fase do tratamento, precisa fazer fisioterapia diariamente para recuperar a massa muscular que perdeu durante a internação, mas está feliz. “Estou viva, agora é foco na recuperação para me fortalecer”, enfatizou.


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