Médicos alertam para uso indiscriminado de cloroquina

Médicos alertam para uso indiscriminado de cloroquina

Fármaco pode ter efeitos adversos e é indicado apenas em casos específicos

R7

Uso de cloroquina em pacientes com novo coronavírus divide opiniões

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O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus foi autorizado pelo governo federal, na última sexta-feira, para pacientes graves com Covid-19, mas divide a opinião da comunidade médica e científica.

Um estudo feito na França obteve resultados positivos no combate ao novo vírus. Pela pequena amostragem da pesquisa, porém, o medicamento ainda não é tido como uma solução para a pandemia. O Ministério da Saúde afirma que o fármaco pode ter efeitos adversos e é indicado apenas em casos específicos.

Infectologistas ouvidos pela reportagem do R7 alertam para os riscos do uso indiscriminado da hidroxicloroquina e demonstram precaução ao falar sobre possíveis resultados positivos. Segundo eles, uma maior amostragem é necessária para comprovar a eficácia do tratamento.

“Precisamos de mais pacientes nestes testes, provavelmente acima de mil. Existem cálculos estatísticos para isto”, afirma o médico infectologista Renato Grinbaum.

Para Munir Ayub, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), “o estudo na França foi feito com uma pequena quantidade de pessoas. Não dá pra extrapolar o resultado de lá para todos os pacientes com coronavírus. Mais uns 20 dias ou um mês, no máximo, e creio que teremos uma avaliação precisa”.

Após as notícias sobre a eficácia dos testes em outros países, o remédio usado no tratamento de outras doenças teve um aumento na procura e chegou a acabar em farmácias pelo Brasil. A Anvisa liberou o uso para pacientes hospitalizados e em estado grave, e determinou a dosagem específica da droga — seis dias de tratamento. Entretanto, a agência ressaltou os efeitos colaterais e proibiu a automedicação.

De acordo com Ayub, é preciso cuidado ao  tratar do assunto, já que a automedicação pode ter consequências graves. “Desde que vazaram a eventual eficiência, houve uma corrida às farmácias e esse medicamento praticamente desapareceu. Está fazendo falta aos pacientes que fazem uso crônico dessa medicação e precisam dela”, explica.

O infectologista Leonardo Weissmann ressalta que a automedicação é contraindicada devido “aos inúmeros efeitos adversos do medicamento, como problemas nos olhos, alterações no sangue, alterações emocionais, problemas no fígado e no coração, náuseas, vômitos e diarreias, entre outros”.

O uso da medicação deve ser feito sob orientação médica e, por enquanto, é indicado apenas a pacientes em estados graves. “O uso indiscriminado pode trazer efeitos colaterais graves, e não é interessante neste momento”, conclui Ayub.

Derivada da cloroquina, mas com ação menos tóxica, a hidroxicloroquina é geralmente indicada a pacientes com malária, doenças como artrite reumatoide e lúpus, além de problemas de pele. “A liberação para uso em pacientes graves no Brasil é uma terapia experimental”, relembra Weissmann.

Se confirmada a eficácia, Ayub diz que seria uma medida positiva por ser “um medicamento barato, facilmente produzido e que rapidamente poderia ser colocado no mercado”. Mas, prossegue o médico, “é necessário que concluam os estudos antes”.

Em nota, a SBI se refere ao uso da hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19 como uma terapia de salvamento experimental. O uso, segundo o comunicado, “deve ser individualizado e avaliado pelo médico prescritor, preferencialmente com a participação de um infectologista, avaliando seus possíveis efeitos colaterais e eventuais benefícios”.

Como destaca o texto da entidade, há diversos efeitos adversos ao uso da hidroxicloroquina: discrasia sanguínea (coagulação do sangue de modo inadequado), distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarreia), fraqueza muscular, labilidade emocional (alterações emocionais repentinas), erupções cutâneas, cefaleia, turvação visual, descoloração do cabelo ou alopecia e tontura.

Texto preventivo

Como prevenir o contágio do novo coronavírus 

De acordo com recomendações do Ministério da Saúde, há pelo menos cinco medidas que ajudam na prevenção do contágio do novo coronavírus:

• lavar as mãos com água e sabão ou então usar álcool gel.

• cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir.

• evitar aglomerações se estiver doente.

• manter os ambientes bem ventilados.

• não compartilhar objetos pessoais.

 


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