Manchas de óleo avançam por quase todo o Litoral Leste do Ceará

Manchas de óleo avançam por quase todo o Litoral Leste do Ceará

Órgãos investigam aparição do material

Correio do Povo

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As manchas de óleo que começaram a aparecer na semana passada na praia de Canoa Quebrada, em Aracati, avançaram por quase todo o Litoral Leste do Ceará e já há relatos em cidades do Litoral Oeste. O balanço foi feito em uma reunião comandada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), com a Marinha do Brasil, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), universidades e órgãos que atuam na crise ambiental cearense. Órgãos oficiais ainda não sabem o que teria ocasionado as manchas atuais, mas já investigam o que é o material e o que provocou a sua chegada à costa cearense. O resultado de uma investigação técnica deve ser concluído num prazo de até um mês. 

Segundo a Marinha, não há indicação da presença de manchas de óleo nas praias cearenses desde domingo. Até o fim de semana, pelo menos 12 praias haviam sido atingidas pelos vestígios de óleo. Contudo, o Ibama informou, durante a reunião, que o monitoramento encontrou os materiais em todas as praias do Litoral Leste, desde a Praia do Futuro, em Fortaleza, até a última de Aracati, chamada Praia da Fontainha. A informação foi dada pelo analista ambiental do órgão Rafael Moraes. Segundo ele, o monitoramento foi realizado entre quinta-feira e sábado, quando foi observada a maior presença de vestígios de óleo. "Por vezes, turistas e frequentadores nem notavam que tinham óleo na praia", assinalou.

Conforme o analista ambiental, as maiores quantidades de material oleoso foram observadas nas praias de Quixaba, em Aracati; Parajuru, em Beberibe; além de Prainha e Porto das Dunas, em Aquiraz, município vizinho a Fortaleza. A única cidade do Litoral Leste sem apresentar confirmações de presença de óleo é a cidade de Icapuí, último município cearense antes da divisa com Rio Grande do Norte. Segundo o professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), o monitoramento dos pesquisadores apontou a presença de óleo em todas as praias desde Sabiaguaba, em Fortaleza, até Canoa Quebrada, em Aracati. Conforme ele, já há vestígios oleosos no Litoral Oeste. "O material é pequeno, é praticamente imperceptível, algumas pessoas nem conseguem notar que esse material está na praia, e isso é até perigoso e negativo porque a dispersão vai ser maior. Já temos informes de que chegou no lado oeste, já está chegando em Pecém e no Paracuru", constatou.

A prefeitura de São Gonçalo do Amarante, a Oeste de Fortaleza, disse não ter localizado vestígios na praia do Pecém. As prefeituras de Caucaia, Paraipaba, Trairi, Itapipoca, Cruz, Acaraú, Amontada e Camocim, também no Litoral Oeste, afirmaram não ter registrado presença dos materiais. O capitão dos Portos do Ceará, Anderson Pessoa Valença, enfatizou que não foram avistadas novas manchas de óleo no Litoral cearense, após as prefeituras fazerem as limpezas dos locais, com o apoio da Marinha e do Ibama. "Não tem chegado aparentemente novos vestígios de óleo. No ponto focal onde apareceram mais, que foi na região de Aracati, desde o fim de semana, a prefeitura está fazendo essa limpeza. Isso denota que não chegaram mais vestígios de óleo nas praias da região", frisou.

Conforme o capitão do Portos, a mesma situação foi verificada nas praias do município de Cascavel e na Praia do Futuro, em Fortaleza. Especialistas de universidades e órgãos responsáveis pelo meio ambiente informaram que a amostra do material oleoso, da água do mar e da areia tem o objetivo de avaliar se o poluente tem a mesma origem das manchas que apareceram em 2019 no Litoral cearense. Apesar de ainda serem necessários estudos para revelar respostas mais concretas, uma das hipóteses é que um fenômeno de ondas chamado de swell pode ter trazido o óleo para a areia novamente.

"Ressaca" do mar

Cavalcante lembrou, ainda, no período de fim de um ano e começo de outro é quando acontece um fenômeno popularmente conhecido como “ressaca” do mar, que também tem o nome de swell. Além disso, nos últimos dias o mar do Ceará registrou ainda marés de grande amplitude. “Provavelmente isso foi que ressuspendeu o material que estava na plataforma sedimentada”, explicou.

O óleo do derramamento de 2019 teria ficado sedimentado no assoalho do oceano, mas com as ondas maiores e de alta intensidade, é possível que ele tenha se desprendido e voltado para a superfície. Outro fator que corrobora para a hipótese de que estas manchas sejam fruto do mesmo derramamento que ocorreu há mais de dois anos é o tamanho pequeno delas. “Quando o petróleo entra em contato com o ambiente, principalmente no oceano, ele vai se desfazendo. Um material que era muito grande começa a ficar menorzinho”, disse.

Apesar da hipótese de o óleo ser antigo, a possibilidade de um novo derramamento não foi descartada. A possibilidade também foi ventilada pelo coordenador científico do Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará, pesquisador Eduardo Lacerda Barros. Dúvidas quanto à origem dos piches surgem devido a direção em que chegam às praias, do Leste para o Oeste. “Se esse material fosse do antigo, era para ele estar sendo lançado em todo o Estado, de uma vez só”, explicou. No entanto, apenas as cidades do Litoral Leste estão registrando novas manchas até o momento. Para justificar o direcionamento do material, Cavalcante afirma que os pedaços de óleo podem ser antigos, podem ter saído do assoalho oceânico de um outro estado, como o Rio Grande Do Norte. Porém, ainda não há registro de manchas nas praias do estado vizinho.

O que também “intriga” o pesquisador são relatos de pescadores que afirmam ter visto os pedaços de óleo flutuando nas águas do mar. “Se fosse antigo, não era mais para estar flutuando, pois com o tempo ele perde as substâncias polares que o fazem flutuar. Esses relatos têm que ser analisados, porque os pescadores podem estar confusos, vendo algas ou outras coisas flutuando e achando que é óleo”, afirmou.

A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) orientou que banhistas evitem tomar banho de mar nos locais atingidos pelo óleo como precaução, mesmo antes do resultado das análises. O material pode ser danoso à pele e não deve ser tocado sem luvas. Em caso alguma parte do corpo entrar em contato com o óleo, o local deve ser lavado com água e sabão o quanto antes.


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