Menino de dez anos realiza transplante de pulmão na Santa Casa

Menino de dez anos realiza transplante de pulmão na Santa Casa

Procedimento é raro, devido a requisitos médicos

Cláudio Isaías

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O menino Arthur Maurell Gonçalves dos Santos, de dez anos, realizou no dia 22 de outubro um transplante de pulmão (que é um dos mais raros de acontecer) no complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. O paciente, que mora na cidade de Saquerama, no Rio de Janeiro, estava na lista de espera desde fevereiro de 2020. O transplante pulmonar em criança na instituição de saúde foi o primeiro nos últimos dois anos.

O hospital havia realizado um transplante pediátrico de pulmão em 2019, nenhum em 2020 e neste ano o procedimento foi feito no menino Arthur. O diretor médico do Hospital Dom Vicente Scherer, José de Jesus Peixoto Camargo, disse que o transplante de pulmão em criança é menos frequente porque depende de morte encefálica. "A morte encefálica na criança é rara. Dependíamos de um doador que tenha morrido (morte cerebral) e que seja compatível em tamanho", ressaltou. 

Segundo Camargo, tudo isso torna o transplante pediátrico menos frequente nos hospitais. Conforme o diretor médico do Hospital Dom Vicente Scherer, por ser menos comum o transplante pediátrico, existe a possibilidade mais audaciosa de realizar transplante com doadores vivos - um pedaço do pulmão do pai e um pedaço do pulmão da mãe para substituir os pulmões inteiros da criança doente. "Essa família estava cogitando essa possibilidade com o temor que não houvesse tempo de conseguir um doador. Foi realmente muita sorte porque não só conseguimos do mesmo tamanho, como um excelente pulmão. Deu tudo certo para o Arthur", acrescentou o médico. Segundo Camargo, o menino foi diagnosticado com fibrose cística e entrou pra lista de transplante em fevereiro de 2020. O procedimento foi realizado pela equipe do José de Jesus Peixoto Camargo.

A mãe Lise Maurell, 41 anos, que estava acompanhada do seu Cid Maurell, 67 anos, disse que o filho nasceu com fibrose cística e que os cuidados com o menino começaram desde que ele nasceu. "O Arthur, quando completou sete anos começou a internar muito, e com oito anos as internações aumentaram", destacou a mãe. Lise Maurell, ao conversar com outras mães no Centro de Referência de Saquarema, descobriu o transplante pulmonar bilateral e viu que esse procedimento era feito apenas em Porto Alegre.

Mudança

A família decidiu então mudar para Porto Alegre em fevereiro de 2020 para aguardar pelo transplante pulmão. A notícia sobre o órgão compatível foi dada a mãe pelo coordenador clínico do Serviço de Transplantes Pulmonares da Santa Casa, Douglas Nascimento, que ligou na noite do dia 21 de outubro para a família.

Lise Maurell fez questão de enfatizar a importância da doação de órgãos. "Era a única chance do meu filho ter uma vida melhor. Ele corria muito risco de vida. A doação de órgãos é fundamental para salvar vidas", acrescentou Lisa Maurell. O menino Arthur Maurell, que recebeu alta na terça-feira, vai permanecer mais alguns dias em Porto Alegre para acompanhamento da equipe médica. Nesta quarta-feira, ele foi visitar os médicos José Camargo e Douglas Nascimento no hospital Dom Vicente Scherer.   

Capacitação

Durante a pandemia, profissionais envolvidos na captação de órgãos nos hospitais acabaram deslocados para a assistência aos pacientes. Também foi registrada uma queda de 30% a 40% no volume de doações, segundo a Central de Transplantes do Rio Grande do Sul. Em casos como o de doação de córneas, o tempo de espera aumentou 900%. Retomar a formação das Comissões Intra-hospitalares para Doação de Órgãos e Tecidos, reorganizando a captação junto à população, é o objetivo do curso que a Central de Transplantes realizará para 60 profissionais de saúde de Porto Alegre e da Região Metropolitana nos próximos dias 25 e 26. 

O curso marca o reinício das atividades abertas da Central. “As comissões intra hospitalares foram praticamente se dissolvendo e se desestruturando”, explicou Diego Fraga, coordenador adjunto da Central de Transplantes. “Esse é o primeiro curso que a Central Estadual faz para reestruturar essas comissões. Elas são fundamentais no monitoramento dos pacientes para acionar a Central Estadual e desencadearmos o processo de doação”.

O curso abordará a formação das comissões e terá a participação de profissionais indicados pelos hospitais das regiões ligadas à 1ª Coordenadoria Regional de Saúde, que envolve Porto Alegre, região Metropolitana, Vale dos Sinos, Paranhana, Carbonífera e Costa Doce, abrangendo 66 municípios. 


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