Mulher é flagrada dentro de armário devido à superlotação do Hospital de Clínicas

Mulher é flagrada dentro de armário devido à superlotação do Hospital de Clínicas

Serviço de Emergência abrigava nesta sexta 131 pessoas em espaço projetado para 49

Correio do Povo e Rádio Guaíba

Serviço de Emergência abrigava nesta sexta 131 pessoas em espaço projetado para 49

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O acúmulo de macas, a falta de espaço para a circulação dos profissionais e o elevado número de pacientes aguardando leitos sentados em cadeiras - alguns há mais de 24 horas - traduzem a agonia das emergências dos principais hospitais públicos de Porto Alegre. Na manhã desta sexta-feira, o retrato do caos foi a cena flagrada pela equipe do Correio do Povo no Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas. Uma paciente se acomodou dentro de um armário localizado em um corredor repleto de macas e cadeiras. Questionada sobre o motivo de estar ali, a enferma respondeu: “Não tem lugar para sentar, por isso sentei aqui dentro”.

Enfermeiros foram alertados e, em pouco tempo, encontraram uma solução paliativa para o problema. A mulher saiu do armário e foi colocada em uma cadeira, embora seu estado de saúde recomendasse repouso absoluto. No mesmo momento, em outra ala, a enfermeira-chefe Lurdes Busin, vivenciava o mesmo dilema. “Tenho 11 pacientes graves que estão internados há mais de 10 dias no Serviço e, entre eles, tenho que escolher os nove que terão direito de seguir para uma enfermaria”, disse.

O Serviço de Emergência do Clínicas abrigava nesta sexta 131 pessoas em espaço projetado para apenas 49. O emaranhado de cadeiras e macas dificultava o acesso aos pacientes. “Isto aqui é um campo de concentração”, disse um operário de 36 anos, com suspeita de aneurisma cerebral e que permanecia por mais de 12 horas sentado. “Infelizmente ele tem razão”, disse Lurdes. O administrador do serviço, Daniel Barcelos, frisou que é preciso criar leitos para internação clínica na Região Metropolitana.

No Hospital Nossa Senhora da Conceição o quadro não era diferente, com 128 pacientes amontoados em espaço idealizado para 50. O superintendente do Grupo Hospitalar Conceição, Neio Lúcio Fraga Pereira, afirmou que a superlotação “é um sintoma de que o sistema de saúde não está bem”. “A Estratégia de Saúde da Família é deficiente na Região Metropolitana”, disse.

De acordo com Pereira, as emergências agonizam em razão da falta de médicos na rede pública e da demora na marcação de exames de média e alta complexidade via Sistema Único de Saúde. “É um sistema perverso, que penaliza uma população que envelhece sem assistência. A partir de 1993, 33% dos leitos da Capital fecharam”, observou.

Beneficência Portuguesa tem leitos vazios

Enquanto isso, o Hospital Beneficência Portuguesa tem leitos sobrando. Dos 79 espaços, apenas um está ocupado por um paciente que saiu da UTI. Desde a quarta-feira, o hospital voltou a receber doentes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), após ficar quase dois meses sem o atendimento.

Luciamem Winck  e Marjulie Martini

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